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Por que a comida está tão cara? Esse é um dos motivos do aumento do preço dos alimentos

Mesmo com ações do governo para mitigar inflação, um fator externo tende a impactar oferta de alimentos no mundo todo

Créditos: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
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Apesar dos encontros internacionais para conter o aquecimento global, os níveis globais de emissões de gases de efeito estufa seguem crescendo, intensificando os impactos das mudanças climáticas. Secas prolongadas, chuvas em excesso e outras alterações nos padrões climáticos já afetam diretamente a produção agrícola no Brasil, trazendo riscos econômicos e ameaçando a segurança alimentar.

De acordo com uma pesquisa do Datafolha divulgada este mês, mais de 50% dos brasileiros começaram a comprar menos alimentos devido à inflação. O levantamento também revela que 8 em cada 10 brasileiros mudaram seus hábitos por causa da alta nos preços. Entre as principais alterações estão sair menos para comer fora (61%), optar por marcas de café mais baratas (50%), reduzir o consumo de luz, água e gás (50%), diminuir o consumo de bebidas (49%) e comprar menos remédios (36%).

Um dos principais motivos que mantém a alta dos alimentos nos supermecados, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é a crise climática. O valor dos alimentos é determinado pelo equilíbrio entre oferta e demanda. Quando a produção cai e os estoques ficam menores, os preços sobem para o consumidor. Com a falta de água aliada à queda na produção agrícola, os preços sobem consideravelmente. Nos últimos dois anos, por exemplo, surgiu a primeira região de deserto do Brasil. E tudo indica que áreas semiáridas vão continuar surgindo no país.

Foto: Reprodução/Agência Senado

80% da perda das safras já decorrem da crise do clima

Pelo menos 8 em cada 10 perdas agrícolas já são decorrentes de secas, estiagens e veranicos. A agropecuária está entre os maiores emissores de gases de efeito estufa no Brasil e também figura entre os setores mais vulneráveis às mudanças climáticas. Estima-se que, nos próximos 25 anos, a produtividade de algumas culturas poderá ser reduzida em até 50%, afetando a segurança alimentar, a renda no campo, as exportações e a economia nacional. A soja e o milho figruam entre os alimentos mais afetados, de acordo com dados da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

Foto: Reprodução/Agência Senado

Efeitos a longo prazo

A queda da safra em 2024 foi de 6,7%. O café, a laranja e a carne tiveram o aumento mais expressivo, embora o país seja o maior produtor de café do mundo. “Vários dias com temperaturas muito altas alteram o metabolismo da planta, o que vai gerando estresse e a deixa mais suscetível a pragas e doenças”, afirmou o engenheiro agrônomo e produtor de café, Rodrigo Junqueira Barbosa de Campos, em entrevista ao portal Colabora.

Segundo o Cemaden, o Brasil enfrentou, em 2024, a pior estiagem registrada em sete décadas. Aproximadamente 30% dos municípios do país passaram por ao menos um mês de seca intensa, classificada como severa, extrema ou excepcional. O ano também foi marcado por recordes de queimadas na Amazônia e no Cerrado, além de enchentes devastadoras no Rio Grande do Sul, caracterizadas como o maior desastre socioambiental já registrado no estado.

Dados de janeiro do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do IBGE, apontaram queda na área plantada, na produção e no rendimento médio do café em 2025. A produção recuou de 3,425 milhões de toneladas em 2024 para 3,155 milhões neste ano — uma redução de 7,9%.

Além da volatilidade típica do setor, o aumento de preços foi especialmente acentuado com o pós-pandemia. Em 2024, a combinação de quebras de safra devido ao clima adverso, depreciação cambial, sazonalidade, mudanças no ciclo pecuário e demanda aquecida contribuem para a pressão inflacionária.

No entanto, vale ressaltar que no dia 8 de maio, o IBGE divulgou a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar Contínua (PNADC), atualizando o indicador de renda domiciliar per capita (RDPC), que considera todas as fontes de renda, o indicador mais completo para medir a renda familiar.

E nos últimos três anos, a RDPC cresceu consistentemente acima da inflação geral e superou também a inflação dos alimentos. Em 2024, enquanto o preço dos alimentos aumentou 8%, a renda das famílias subiu 10%, com os mais vulneráveis registrando um aumento próximo a 19%. Isso mostra que o poder de compra das famílias continuou crescendo, mesmo com uma maior parcela do orçamento dedicada aos alimentos. Além disso, o setor agrícola brasileiro tem recebido o apoio do governo por meio de políticas como a Política Nacional sobre Mudança do Clima e o Plano ABC, que incentivam práticas sustentáveis e redução da emissão de carbono.

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