O tradicional passeio de Maria Fumaça entre as cidades históricas de São João del Rei e Tiradentes conta, na verdade, parte da história da expansão da colonização no Brasil. O trajeto tem cerca de 13 quilômetros entre os dois municípios e é feito em aproximadamente 40 minutos pelo trem, conhecido por ser um grande atrativo turístico na região.
Ao longo do caminho pelos trilhos da Estrada de Ferro Oeste de Minas, o trem passa ao lado do Rio das Mortes, com a Serra de São José compondo o cenário à direita quando se deixa Tiradentes para trás. A ferrovia por onde passa a locomotiva está sob proteção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1989.
Em janeiro deste ano, a Fórum, com base na Lei de Acesso à Informação (LAI), consultou o Iphan sobre a quantidade de patrimônios e bens culturais catalogados no país. Ao todo, são 2.513 bens catalogados e 984 patrimônios tombados pelo Iphan em todo o território brasileiro desde 1938. Leia mais aqui.
A operação do trem São João Del Rei-Tiradentes é feita pela VLI, controladora da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), que recentemente lançou exposições sobre a história do trem através do Programa Estação de Memórias da VLI, em São João del-Rei e Tiradentes. O objetivo é valorizar e preservar a memória ferroviária, integrando o patrimônio material e imaterial de Minas Gerais. As mostras foram desenvolvidas em diálogo com a comunidade local, contribuindo para a reconstrução coletiva da história da região. A entrada é gratuita em ambas as cidades.
Apesar de ser feita por colonizadores, as memórias de povos originários, de comunidades pretas e de imigrantes da região também são destaques nas exposições. As peças contemplam jogo da memória interativo, mini réplica de telégrafo, mapa ilustrado, linha do tempo, objetos cenográficos e históricos, histórias em áudio, pílulas em vídeo e personagens inspirados em figuras históricas.
Sob os primeiros trilhos do país
É a primeira maria-fumaça em operação no Brasil desde 1881, quando foi inaugurada a “Estrada de Ferro d’Oeste”. Mas antes disso, tudo começou na exploração aurífera e de diamantes por colonizadores portugueses na região, fator determinante para o avanço da ocupação territorial no interior da colônia. Esse processo culminou na criação da capitania de Minas Gerais e no consequente surgimento de povoados e vilas, impulsionados por um significativo movimento migratório.
Com o tempo, estruturas temporárias deram lugar a construções permanentes, e a necessidade de autoabastecimento estimulou a produção agrícola e pecuária. No entanto, a dependência de suprimentos externos persistiu, sendo estes transportados pelas mesmas vias utilizadas para escoamento do ouro, com o auxílio essencial dos muares. Em 1808, com a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, essa dinâmica se alterou.
A cidade experimentou um crescimento populacional acelerado, o que gerou demanda não apenas por metais preciosos, mas também por gêneros alimentícios e produtos diversos oriundos do interior. O crescimento da população em regiões litorâneas do Brasil, no final do século XIX, exigiu que o interior também se modernizasse. Minas Gerais, porém, enfrentava sérios problemas de transporte, o que dificultava seu desenvolvimento. Por isso, representantes da elite colonial começaram a planejar a construção de ferrovias que ligassem o interior aos grandes centros.
São João del-Rei, já inserida em rotas comerciais desde os anos 1700, foi considerada, e assim nasceu a Estrada de Ferro Oeste de Minas (Efom), criada em 1872 e inaugurada em 1881 com o trecho entre Sítio e São João del-Rei — um trajeto de 100 km que passava por Barroso, São José e Tiradentes. A cerimônia de inauguração contou com a presença do imperador dom Pedro II.
Devido à forte mobilização da população local para a manutenção do trem, São João del-Rei manteve a sede da ferrovia até 1920. Por esse motivo, muitos estudiosos apontam essa como a primeira ferrovia efetivamente mineira.
Viagem é feita com bilhetes
A tarifa da Maria Fumaça é de R$86 por trecho para o público geral. Quem tem direito à meia-entrada paga R$43. Os bilhetes podem ser comprados nos totens das estações ou pelo site da Buson.
Crianças de até 5 anos que viajam no colo não pagam, mediante apresentação de documento oficial. Têm direito à meia-entrada, com comprovação: crianças de 6 a 12 anos, estudantes com 13 anos ou mais, pessoas com deficiência, idosos a partir de 60 anos, professores em grupos com ao menos 10 alunos, doadores de sangue ou medula e moradores de São João del-Rei e arredores.
Sobre as exposições, em São João del-Rei, a exposição pode ser visitada de quarta a sábado, das 8h às 17h, e aos domingos, das 8h às 12h, na Estação de São João del-Rei, localizada na Rua Hermílio Alves, 366, no Centro. Já em Tiradentes, o público é recebido de quinta a sábado, das 8h às 17h, e aos domingos, das 8h às 12h, na Estação Tiradentes, situada na Rua Capitão Chaves Miranda, número 2.