"VOCÊ ME CHAMOU DE QUÊ?"

'Careca do INSS' vai à Justiça. Mas você não imagina qual é a indignação dele

Antonio Carlos Antunes, lobista é apontado como um dos principais investigados no esquema de descontos ilegais de aposentados e pensionista, queixou-se e recebeu um “não” do juiz

Antonio Carlos Antunes, que ficou conhecido como "Careca do INSS", não gostou do apelido.Créditos: Redes sociais/Reprodução
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Antonio Carlos Camilo Antunes, esse nome que anda circulando bastante nos meios judiciais e policiais, mas que, no entanto, pode não estar fazendo você ligar o nome à pessoa, decidiu levar uma séria insatisfação aos tribunais. O motivo? Nada relacionado às graves acusações que ele enfrenta. O empresário e lobista, apontado como um dos principais responsáveis por um esquema que tirava dinheiro ilegalmente de aposentados e pensionistas, por meio de descontos não autorizados na folha de pagamento do INSS, quer que parem de chamá-lo pelo apelido que o deixou “famoso” em todo o Brasil: “Careca do INSS”.

Parece que, entre tantas complicações, o “careca” não gostou nem um pouco de ser chamado assim e resolveu pedir uma decisão judicial para proibir o uso da alcunha, afinal, ser identificado pelo que já é público pode ainda assim incomodar, não é mesmo?

Esquema de fraude e um apelido que pegou

Em que pese o tom de zoeira com a história, a Polícia Federal não está para brincadeira. Nos relatórios que enviou para a Justiça, não só identificou Antonio Carlos como o operador principal das fraudes que deduziam ilegalmente valores dos benefícios de pessoas aposentadas, como também deu um toque de respeito ao apelido, ressaltando que “careca do INSS” é seu codinome no meio da confusão. Sim, não foi jornalista algum que pariu o termo, ele consta no inquérito da PF. Ou seja, algo “oficial”.

Segundo a PF, o lobista teria sido o responsável por conseguir dados cadastrais das vítimas, muito provavelmente por meio de pagamento de propinas para servidores do INSS. Com essas informações, as instituições que praticam os descontos ilegais agiam livremente, comprometendo o salário de quem deveria estar tranquilo no fim da vida, ou tentando estar.

A defesa e o pedido que caiu por terra

Cansado da “fama” e do apelido, Antunes tentou impedir que a imprensa usasse o apelido em reportagens. Mas o juiz da 6ª Vara Criminal de Brasília, José Ronaldo Rossato, não gostou nada da ideia de censurar os veículos de imprensa. Em sua decisão, ele afirmou claramente:

"As expressões utilizadas nas matérias jornalísticas, inclusive a alcunha 'Careca do INSS', embora de gosto duvidoso, não se reveste, por si só, de carga ofensiva suficiente para configurar crime, especialmente quando reiteradamente veiculada por diversos meios como forma de identificação pública do querelante [Antunes], de modo que configura, ao menos em tese, o chamado animus narrandi, isto é, a intenção de relatar fatos de interesse jornalístico, feitas no exercício regular de sua atividade profissional, o que afasta a configuração típica dos delitos imputados."

Ou seja, o juiz deixou claro que o uso do apelido, mesmo que malicioso, faz parte da liberdade de expressão e da função legítima do jornalismo de informar.

Quando o “Careca” quer mandar na história

O que essa situação nos faz lembrar? Que, por mais que alguém esteja no meio de um escândalo envolvendo fraudes e corrupção, o que realmente dói é quando o apelido viral pega, e ninguém gosta de ser lembrado por ele.

Apesar das inúmeras denúncias, os holofotes parecem focar no fato de que o lobista não suporta ser chamado de “careca”. Parece até que as investigações e a gravidade das acusações ficaram em segundo plano diante da importância do detalhe capilar.

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