120%

Mortes de crianças e adolescentes pela PM paulista disparam - e mães denunciam

Estatística macabra sobre matança comandada pelos "capitães" Tarcísio e Derrite

Tempo de espera de Ana Paula, que ainda aguarda Justiça pela morte do filho por um PM do Rio de Janeiro
Quase 11 anos.Tempo de espera de Ana Paula, que ainda aguarda Justiça pela morte do filho por um PM do Rio de JaneiroCréditos: Luiz Carlos Azenha
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Um foi capitão do Exército e serviu no Haiti. Outro foi reformado pela PM paulista também como capitão e elegeu-se deputado.

Tarcísio de Freitas e seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, foram denunciados na terça-feira, primeiro de abril, pelo Cordão da Mentira, que desfilou pelo centro de São Paulo.

A escolta fornecida pela PM paulista ouviu militantes gritando pelo "fim da Polícia Militar".

Isso tem uma explicação: antes do evento, dezenas de mães de adolescentes e jovens mortos pelas PMs do Rio de Janeiro e de São Paulo participaram de uma tocante cerimônia de lembrança dos assassinados.

Grupos de mães, como o das Mães de Maio e outros, participaram da cerimônia e desfilaram com o Cordão carregando as fotos de seus filhos.

Estes grupos não param de surgir. Como a Fórum reportou recentemente, um deles nasceu em Bauru, no interior de São Paulo, para denunciar vários assassinatos de jovens locais pela PM.

É um problema generalizado, que vai da Bahia ao Rio de Janeiro, sempre envolvendo policiais militares -- com ou sem câmeras no uniforme.

Mães denunciaram o assassinato de seus filhos por PMs em São Paulo.

77 crianças e jovens mortos

Nesta quinta-feira, 3, foi divulgado o segundo relatório sobre As câmeras corporais na Polícia Militar do Estado de São Paulo: mudanças na política e impacto nas mortes de adolescentes. Foi produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

De acordo com o relatório, as mortes de crianças e adolescentes pela PM de São Paulo aumentaram 120% entre 2022 e 2024: foram 77 crianças e jovens entre 10 e 19 anos de idade mortos em 2024.

Para o advogado Ariel de Castro, presidente de honra do Tortura Nunca Mais:

Há uma epidemia de violência policial atualmente no estado, diante da falta de ação dos órgãos de controle das atividades policiais, como as corregedorias e o Ministério Público.

Em entrevista à Agência Brasil, a chefe do escritório do UNICEF em São Paulo, Adriana Alvarenga, afirmou:

Quando a gente analisa os dados sobre infância e adolescência, em todos os indicadores, crianças e adolescentes negros vão aparecer em situação de maior vulnerabilidade. Então são os mais pobres, são os que estão mais fora da escola, são os que têm menos acesso a serviços de saúde e isso se reflete também na polícia: são os que mais morrem pela força policial

Antes do desfile do Cordão da Mentira, a Fórum entrevistou uma das mães representativas de um problema grave: a impunidade generalizada dos policiais matadores.

Ana Paula Oliveira é mãe de Johnatha, de 19 anos de idade, morto por um PM carioca em 2014. Foi um dos raros casos em que o homicídio foi investigado e julgado pelo tribunal de júri. O policial foi absolvido por falta de provas, mas o julgamento foi anulado na segunda instância.

Detalhe: o mesmo policial que matou o filho de Ana Paula havia sido acusado, em 2013, de triplo homicídio e duplo homicídio tentado.

Abaixo, a entrevista de Ana Paula. Em seguida, o vídeo das mães que se organizaram em Bauru.

 

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