Um foi capitão do Exército e serviu no Haiti. Outro foi reformado pela PM paulista também como capitão e elegeu-se deputado.
Tarcísio de Freitas e seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, foram denunciados na terça-feira, primeiro de abril, pelo Cordão da Mentira, que desfilou pelo centro de São Paulo.
A escolta fornecida pela PM paulista ouviu militantes gritando pelo "fim da Polícia Militar".
Isso tem uma explicação: antes do evento, dezenas de mães de adolescentes e jovens mortos pelas PMs do Rio de Janeiro e de São Paulo participaram de uma tocante cerimônia de lembrança dos assassinados.
Grupos de mães, como o das Mães de Maio e outros, participaram da cerimônia e desfilaram com o Cordão carregando as fotos de seus filhos.
Estes grupos não param de surgir. Como a Fórum reportou recentemente, um deles nasceu em Bauru, no interior de São Paulo, para denunciar vários assassinatos de jovens locais pela PM.
É um problema generalizado, que vai da Bahia ao Rio de Janeiro, sempre envolvendo policiais militares -- com ou sem câmeras no uniforme.
77 crianças e jovens mortos
Nesta quinta-feira, 3, foi divulgado o segundo relatório sobre As câmeras corporais na Polícia Militar do Estado de São Paulo: mudanças na política e impacto nas mortes de adolescentes. Foi produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
De acordo com o relatório, as mortes de crianças e adolescentes pela PM de São Paulo aumentaram 120% entre 2022 e 2024: foram 77 crianças e jovens entre 10 e 19 anos de idade mortos em 2024.
Para o advogado Ariel de Castro, presidente de honra do Tortura Nunca Mais:
Há uma epidemia de violência policial atualmente no estado, diante da falta de ação dos órgãos de controle das atividades policiais, como as corregedorias e o Ministério Público.
Em entrevista à Agência Brasil, a chefe do escritório do UNICEF em São Paulo, Adriana Alvarenga, afirmou:
Quando a gente analisa os dados sobre infância e adolescência, em todos os indicadores, crianças e adolescentes negros vão aparecer em situação de maior vulnerabilidade. Então são os mais pobres, são os que estão mais fora da escola, são os que têm menos acesso a serviços de saúde e isso se reflete também na polícia: são os que mais morrem pela força policial
Antes do desfile do Cordão da Mentira, a Fórum entrevistou uma das mães representativas de um problema grave: a impunidade generalizada dos policiais matadores.
Ana Paula Oliveira é mãe de Johnatha, de 19 anos de idade, morto por um PM carioca em 2014. Foi um dos raros casos em que o homicídio foi investigado e julgado pelo tribunal de júri. O policial foi absolvido por falta de provas, mas o julgamento foi anulado na segunda instância.
Detalhe: o mesmo policial que matou o filho de Ana Paula havia sido acusado, em 2013, de triplo homicídio e duplo homicídio tentado.
Abaixo, a entrevista de Ana Paula. Em seguida, o vídeo das mães que se organizaram em Bauru.