O governo Lula, através do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), comunicou que avalia recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) após a imposição de tarifas de 10% sobre o país, e de 25% sobre o aço e o alumínio, por Donald Trump.
Nesta quarta (2), o republicano fixou uma tarifa geral de 10% sobre importações e impôs taxas ainda mais altas aos principais parceiros comerciais, intensificando a guerra comercial iniciada com seu retorno à Casa Branca. A medida, conhecida como “Dia da Libertação”, busca “reduzir” a dependência americana de produtos importados e aprofunda o colapso da ordem internacional e a economia global, como mostra essa reportagem da Fórum.
Embora a tarifa ao Brasil tenha sido vista como mais branda do que o esperado, o governo brasileiro ainda avalia uma retaliação. A orientação atual é analisar os efeitos da medida antes de decidir os próximos passos. Em nota conjunta, as pastas do governo destacaram que antes estão avaliando ações para “manter a reciprocidade nas relações comerciais bilaterais”.
“Ao mesmo tempo em que se mantém aberto ao aprofundamento do diálogo estabelecido ao longo das últimas semanas com o governo norte-americano para reverter as medidas anunciadas e contrarrestar seus efeitos nocivos o quanto antes, o governo brasileiro avalia todas as possibilidades de ação para assegurar a reciprocidade no comércio bilateral”, informam.
O comunicado lembrou que as tarifas impostas por Trump violam as regras da OMC e enfatizou a aprovação, em caráter de urgência, da Lei da Reciprocidade pelo Congresso Nacional, que autoriza retaliações contra países ou blocos que adotem barreiras comerciais contra o Brasil.
Destacou ainda que o governo busca parceria com empresas dos setores impactados para proteger os interesses comerciais do país. “Em defesa dos trabalhadores e das empresas brasileiros, à luz do impacto efetivo das medidas sobre as exportações brasileiras e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo do Brasil buscará, em consulta com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos”, completam as pastas.
Os ministérios citaram estatísticas do governo dos EUA, mostrando que há um superávit comercial americano em relação às importações brasileiras.
"O superávit comercial dos EUA com o Brasil em 2024 foi da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens. Somados bens e serviços, o superávit chegou a US$ 28,6 bilhões no ano passado. Trata-se do terceiro maior superávit comercial daquele país em todo o mundo"
Nesta matéria da Fórum, explicamos como está a relação comercial dos Estados Unidos com o Brasil. Os Estados Unidos ocupam a segunda posição entre os maiores parceiros comerciais do Brasil, atrás apenas da China. Em 2024, o valor das exportações e importações brasileiras com os americanos foi semelhante, cerca de 40 bilhões de dólares, o que equivale a 244 bilhões de reais. Além disso, há mais de dez anos que o principal parceiro comercial do Brasil deixou de ser os EUA. Em 2010, a China começou a assumir essa liderança.
LEIA MAIS: Como está relação comercial do Brasil com os Estados Unidos
Com um superávit de US$ 400 bilhões nos últimos 15 anos, o Brasil argumenta que a tarifa de Trump é injustificada: "Uma vez que os EUA registram recorrentes e expressivos superávits comerciais em bens e serviços com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, totalizando US$ 410 bilhões, a imposição unilateral de tarifa linear adicional de 10% ao Brasil com a alegação da necessidade de se restabelecer o equilíbrio e a ‘reciprocidade comercial’ não reflete a realidade".
Multilateralismo econômico
Em Tóquio, o presidente Lula discursou no Fórum Empresarial Brasil – Japão e reforçou o multilateralismo contra o protecionismo econômico de Trump, destacando que é preciso o livre-comércio e o multilateralismo econômico, cultural e tecnológico entre países.
“Nós não podemos voltar a defender o protecionismo, não queremos uma segunda Guerra Fria, queremos comércio livre, para que os países se estabeleçam no movimento da democracia, no crescimento econômico e na distribuição de riquezas. É muito importante a relação entre os povos”, declarou.
O Brasil fechou acordos de livre-comércio na semana passada com o país nipônico e o Vietnã, ampliando relações econômicas na Ásia. Carnes e aviões da Embraer estão entre os produtos dos acordos comerciais.
LEIA MAIS: Lula anuncia venda de aviões da Embraer ao Japão e reforça multilateralismo
Em janeiro deste ano, o presidente respondeu o republicano à altura e disse que caso fossem impostas as tarifas, haveria reciprocidade. "Veja, é muito simples, se ele taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade no Brasil em taxar os produtos brasileiros, taxar os produtos que são exportados pelos Estados Unidos. É simples, não tem nenhuma dificuldade", disse.
"O Trump foi eleito para governar os Estados Unidos e eu mandei na carta para ele que eu espero que ele tenha uma boa governança pelos Estados Unidos. Eu fui eleito para governar o Brasil. Eu quero respeitar os Estados Unidos e quero que o Trump respeite o Brasil", completou Lula.
LEIA MAIS: "É muito simples, se ele taxar os produtos brasileiros...": Lula parte para cima de Trump