EMPRÉSTIMOS A APOSENTADOS

Fraude no INSS: meu nome foi para gerar manchete com "irmão do Lula", diz Frei Chico

"Nós não temos nada com isso. Ai você pega uma manchete - acho que foi a CNN -, o cara faz uma puta matéria ai quando chega lá embaixo, coloca no rodapé: 'Frei Chico não é investigado'. Então porque fez a matéria?", indaga

Frei Chico.Créditos: Ricardo Stuckert
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Vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, afirmou em entrevista à TVT nesta sexta-feira (25) que o nome da entidade foi incluída na Operação Sem Desconto, desencadeada nesta quarta-feira (23) a partir de uma investigação da Polícia Federal (PF) para combater um esquema nacional de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões, para gerar manchetes na mídia liberal com "irmão de Lula".

"O que existe são denúncias feitas a partir de 2017. Em 2019 liberaram para que o INSS aceitasse esse tipo de entidade [outras associações] e a gente já tinha denunciado. Agora colocaram os principais, que somos nós e a Contag. E não somos nós que estamos sendo investigados. Agora meu caso é simplesmente pelo fato do Lula ser meu irmão. Eu sou irmão do Lula. Ai eu apareço lá e não tenho nada de investigado, nosso sindicato não está nesse rolo. Alguém está interessado nisso. Vamos para luta", afirmou Frei Chico, responsável por levar o irmão ao movimento sindical, ainda nos anos 1970, que o alçou à carreira política.

"Nós não temos nada com isso. Ai você pega uma manchete - acho que foi a CNN -, o cara faz uma puta matéria ai quando chega lá embaixo, coloca no rodapé: 'Frei Chico não é investigado'. Então porque fez a matéria?", emendou.

O sindicalista ainda vê uma conotação eleitoreira, antecipando a disputa presidencial de 2026 e faz um alerta à família.

"O Lula é a pessoa mais importante para o futuro do país em termos de eleição para Presidente da República. Então, todos os parentes vão ter que se preparar pois vão ter denúncias em alguns setores da imprensa. Há maldade nisso, há sacanagem", disparou.

Frei Chico ainda lembrou que foi o próprio Sindinapi quem pediu, por diversas vezes, investigações sobre o que estaria acontecendo no INSS, mas foi ignorado pelos governos Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

"Nós estamos denunciando desde 2017, 2018, 2019: tem coisa acontecendo no INSS. E só foi apurado o ano passado, esse governo que está apurando. Tem um monte de picaretagem ai e a Polícia Federal tem que investigar. O que fico chateado é que nos colocaram nesse meio", disse.

Desmonte

Segundo a PF, o esquema começou em 2019 e operou, em grande parte, durante o governo Jair Bolsonaro (PL) - que tinha como "super" ministro da Justiça, o ex-juiz Sergio Moro (União-PR).

Em entrevista coletiva, o Controlador-Geral da União (CGU), Vinícius Carvalho, destacou que as fraudes vinham desde 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, e começaram a ser investigadas em 2023, primeiro ano do governo Lula.

Outro fator extremamente importante é que 9 das 11 associações investigadas foram criadas após a reforma trabalhista feita pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), que desmontou a estrutura sindical e permitiu a pulverização de entidades representativas sem compromisso algum com os trabalhadores.

Na prática, com o fim da contribuição sindical, que era direcionada para um sindicato representativo de determinada categoria de trabalhador, a nova legislação deu aval para criação de "concorrentes" na esfera sindical, fazendo com que oportunistas vissem a representação trabalhista como negócio.

Das 11 associações investigadas, duas foram criadas em 2017, logo após a reforma de Temer, e outras 7 durante o governo Jair Bolsonaro (PL), depois que o então super ministro da economia, Paulo Guedes, liberou a farra dos empréstimos consignados vinculados às aposentadorias e pensões, em 2020, na esteira da Reforma da Previdência.

Apenas duas foram criadas antes da reforma e são vinculadas ao movimento sindical: a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), fundada em 1963, e o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), ligado à Força Sindical.

"Desde o primeiro momento soltamos uma nota apoiando a ação da PF pois há um bom tempo já falávamos disso e queríamos que tomassem providências. Houve essa ação, o Sindnapi, em nenhum momento, recebeu ou foi investigado pela PF, pois não houve apreensão de documentos, nós temos mais de 80 sedes pelo país e não foram em nenhuma subsede, não apreenderam nenhum material nosso. Então, não podemos dizer que fomos alvo de uma operação", afirmou Milton Cavalo, presidente do sindicato, ao Fórum Onze e Meia.

Cavalo ainda levanta suspeitas sobre organizações que foram criadas na esteira das medidas de Temer e de Bolsonaro.

"É difícil compreender, e nós já estamos há 25 anos trabalhando, associações que se dizem em defesa de aposentados que em 3 meses aumentou em 300 mil, 600 mil, o número de associados. A gente sabe o quanto é difícil aumentar o número de associados", afirmou.

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