FEMINICÍDIO

Caso Vitória: defesa do suspeito de matar jovem diz haver falhas na investigação

Polícia Civil de Cajamar afirma ter certeza que Vitória foi assassinada por Maicol Antonio Sales dos Santos

Vitória Regina de Souza, assassinada há um mês.Créditos: Reprodução
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Já se passou um mês desde o desaparecimento de Vitória Regina de Sousa, e os laudos periciais que poderiam provar o envolvimento do único preso no caso ainda não foram finalizados. A Polícia Civil de Cajamar (Grande SP) acredita que ela foi assassinada por Maicol Antonio Sales dos Santos, operador de empilhadeira de 23 anos, e que ele agiu sozinho.

No entanto, a defesa do acusado nega sua participação no crime e questiona a condução das investigações. A defesa de Maicol afirma sua inocência e destaca que aspectos importantes surgidos durante a apuração estão sendo negligenciados, como a presença de outras pessoas ao redor de Vitória antes de seu desaparecimento na noite de 26 de fevereiro.

À Folha de São Paulo, o advogado de Maicol, Arthur Perin Novaes, demonstrou descontentamento com a coletiva de imprensa dos delegados Luiz Carlos do Carmo e Fabio Lopes Cenachi, que no dia 18 afirmaram que o suspeito havia confessado o crime. 

Perin criticou o uso do termo "jack" pelos policiais para se referir a Maicol, alegando que isso colocou a vida do acusado em perigo. Um exame feito pela Polícia Técnico-Científica afastou a hipótese de Vitória ter sido estuprada antes de ser morta. O corpo da vítima foi localizado em uma área de mata em Cajamar no dia 5.

Segundo Perin, Maicol foi ouvido duas vezes pela polícia. Em nenhum momento demonstrou qualquer participação. Na confissão dele, na qual os advogados não estavam presentes, foi apresentada uma versão; não sei se foi ele quem a deu ou se foi a Polícia Civil que a forneceu, pois eu não estava lá. E, nesse momento, ele afirma que teve participação. A defesa não reconhece essa versão, foi um interrogatório completamente nulo", afirmou.

Outro lado

Em resposta, a Secretaria da Segurança Pública do estado declarou que a investigação da Delegacia de Cajamar sobre a morte da jovem está sendo conduzida com "rigor técnico e dentro dos protocolos legais". De acordo com a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), "todas as linhas de apuração estão sendo examinadas" e "as evidências reunidas deram suporte para a prisão do suspeito".

Atualmente preso em um centro de detenção provisória em Guarulhos, Maicol tem sido acompanhado de perto pelos seus advogados, que se preocupam com o tratamento que ele vem recebendo. Eles temem pela integridade física de Maicol no sistema prisional paulista.

Ao confessar o crime, conforme registrado no termo de interrogatório, Maicol afirmou que teria oferecido uma carona para Vitória para pedir que ela não contasse à sua atual esposa sobre uma "troca de carinhos" entre eles, ocorrida cerca de um ano e meio antes. Durante a conversa, Vitória teria se exaltado e começado a agredi-lo. Maicol relatou que então pegou uma faca que estava no carro e golpeou a jovem duas vezes. A adolescente teria morrido imediatamente.

A defesa refuta essa versão. Perin contou que, de acordo com o suspeito, naquela noite ele ajustou o banco da motocicleta de um amigo. Ele chegou a sair para buscar grampos para finalizar o reparo. Após isso, assistiu ao jogo do Corinthians, enviou uma mensagem para sua esposa e foi dormir. O advogado ressaltou que o casal não morava junto, mas estava prestes a se mudar para uma nova casa.

Perin afirmou que Maicol negou qualquer relacionamento anterior com Vitória. "Ele disse que a conhecia apenas de vista. Como é um bairro muito pequeno, é natural que todos se conheçam superficialmente, mas não houve nenhum contato mais estreito com ela.”

A defesa destaca uma possível falha na investigação de outras pessoas que estavam próximas de Vitória naquele dia. "Na noite da tragédia com Vitória, ela enviou uma mensagem para uma amiga, dizendo que havia dois rapazes no ônibus e que estava com muito medo. Esses dois rapazes nem sequer foram devidamente ouvidos", diz.

"Também, três rapazes em um carro, nas proximidades do ponto de ônibus onde ela desceu, fizeram comentários para ela, o que ficou registrado. Após isso, eles foram para um prostíbulo. Contudo, nenhuma linha investigativa clara, ou ao menos com a devida intensidade, foi adotada em relação a isso", completa.

De acordo com a Folha de S. Paulo, eles relataram que estavam em um Toyota Yaris, dirigindo por uma via da cidade, quando, por volta das 23h30, avistaram uma mulher em um ponto de ônibus. Eles informaram aos policiais que não a conheciam. Um deles teria achado a jovem bonita e feito um elogio. O grupo seguiu um pouco mais adiante e depois retornou, mas o homem não teve coragem de conversar com Vitória, ficando com vergonha.

Para a defesa, a investigação é tão falha que, inicialmente, até o pai de Vitória foi mencionado no inquérito. "Não estou falando se Maicol é culpado ou inocente, o que cabe à Justiça [julgar]. Estou aqui para representar os melhores interesses dele e apontar, de fato, os diversos erros procedimentais em curso da investigação. Até o pai da Vitória foi tratado como suspeito, por ele não ter chorado demais no velório. Isso é um absurdo, uma família que, além de conviver com o luto, ainda tem que conviver com uma suspeita sobre a morte da própria filha."

Os laudos que podem determinar se havia sangue ou cabelo de Vitória no carro de Maicol ainda estão pendentes. O delegado Cenachi solicitou uma perícia psiquiátrica em Maicol, mas a Justiça rejeitou o pedido.

"Vamos analisar sob quais circunstâncias esse sangue foi colhido e fazer uma eventual impugnação. Qualquer prova apresentada pela Polícia Civil será questionada pelos descasos que estão fazendo na investigação", declara Perin.

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