RAPAZ...

“Pênis com asas” no Itamaraty foi parar na PF e virou confusão

A chamada parece absurda, e é. Entenda essa história que mistura exageros, 5ª série, falta de noção e muita encrenca na sede do Ministério de Relações Exteriores do Brasil

Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Escrito en BRASIL el

Essa história é surreal, e real, conforme reporta a coluna de Lauro Jardim, no diário carioca “O Globo”. Eis que na tarde de 21 de junho de 2024, o primeiro-secretário do Ministério de Relações Exteriores, o diplomata Cristiano Ebner, que também ocupa a chefia da Divisão de Saúde e Segurança do Servidor (DSS), recebe em sua sala uma correspondência cujo remetente era uma tal Fundação Kresus, que ele desconhecia, assim como todos os demais colegas. Ao abrir a carta, o susto.

No envelope havia uma folha de papel com um desenho muito bem-feito, todo colorido, de um pênis alado. Sim, um pinto com asas. Era tudo que havia, mais nada. Um pênis voador em cores vivas.

Como o cargo de Ebner lida com a admissão ou demissão de servidores diplomáticos, o que pode terminar por determinar o regresso ou não desses altos funcionários ao Brasil, ele ficou imediatamente temeroso com a carte e passou a se preocupar com sua segurança pessoal. Interpretando como uma ofensa na melhor das hipóteses, ou como uma ameaça, na pior, o caso foi repassado para a Corregedoria do Itamaraty.

Após a situação escalar e subir na hierarquia da pasta, finalmente foi sugerido que a Polícia Federal entrasse no caso e abrisse uma investigação.

Pois bem, os federais entraram no caso. Um mês depois identificaram a agência dos Correios onde a carta foi postada e pelos vídeos viram um homem colocando a correspondência lá, mas Ebner não o reconheceu. A investigação seguiu e envolveu até tentar decifrar o que o tal pinto voador poderia significar, assim como o nome fantasioso da suposta fundação.

Em agosto, eis que o diplomata que se sentia ameaçado recebeu uma mensagem em seu celular vinda de um outro diplomata, Pablo Cardoso, que tem o cargo de ministro-conselheiro do Brasil junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com sede em Lisboa, capital portuguesa, onde mora. Ele queria conversar com Ebner e o assunto seria “delicado”.

Durante a conversa, Cardoso disse que estava preocupado com o fato de a história do pênis com asa ter ido parar na Corregedoria do Itamaraty e até na Polícia Federal, admitindo ser autor da carta e se desculpando. O remetente disse que era uma brincadeira, uma trolagem, como diz a garotada, e que não imaginaria que o episódio acarretaria tantos transtornos. Por fim, Cardoso questionou Ebner sobre a possibilidade de suspender a queixa e deixar as coisas como estavam, mas este se negou a fazê-lo, decidindo por dar prosseguimento no caso.

A tal brincadeira consistiria no seguinte. Certa vez, tempos antes do episódio, Cardoso teria dito a outros colegas de profissão que a próxima solicitação de trabalho proveniente do Itamaraty que chegasse a seu gabinete em Lisboa numa sexta-feira, ele responderia ao encarregado com a tal correspondência do pênis voador. Como um mês antes foi Ebner que lhe encaminhara uma tarefa nessas circunstâncias específicas, ele resolveu fazer a tal “pegadinha”.

Por fim, Ebner prestou depoimento na Corregedoria do Ministério de Relações Exteriores e na PF e em ambos os casos botou a boca no trombone, classificando a atitude como antiética e uma quebra de decoro, para além de assédio moral. A coisa terminou com Cardoso tendo que assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que se comprometeu a ter um comportamento condizente com sua posição diplomática pelos próximos dois anos. Agora, em 2025, o diplomata que enviou o pênis com asas recebeu um novo cargo e foi nomeado para ser embaixador do Brasil na Guiné-Bissau, um país da costa ocidental da África, embora ainda não tenha sido investido oficialmente no posto.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar