Nesta quarta-feira (19), os EUA revelaram ao público mais de 80 mil páginas de documentos classificados da CIA e outras agências de espionagem no período que engloba o assassinato do presidente dos EUA John F. Kennedy.
Os Arquivos JFK englobam uma série de documentos que versam sobre um dos momentos mais tensos da guerra fria, com a ascensão de Cuba ao bloco soviético, a Crise dos Mísseis e a tensão pré-golpe militar no Brasil. Os documentos estão disponíveis para leitura aqui.
Um dos documentos revelados pela CIA mostra que um professor universitário agiu como espião dos estadunidenses no Brasil junto a grupos de estudantes de esquerda.
De acordo com a fonte de inteligência, o presidente da China Mao Tsé Tung e o presidente de Cuba, Fidel Castro, ofereceram apoio militar para a campanha da legalidade empreendida pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola.
O trabalhista comandou uma operação de resistência militar e civil após a queda de Jânio Quadros para garantir que João Goulart assumisse como presidente do Brasil, evitando um golpe no Brasil.
"Durante a semana de 27 de agosto, o presidente do Mao Tsé-Tung da China comunista e o primeiro-ministro Fidel Castro de Cuba ofereceram apoio material, incluindo "voluntários", a Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, que liderava a luta no Brasil para garantir a sucessão à presidência do vice-presidente João Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros. Brizola não aceitou a oferta, embora tenha apreciado o apoio moral, porque não quis "criar um assunto internacional" na crise política do Brasil", relatou a CIA.
O comentário da agência foi o seguinte: "Brizola obviamente tinha medo de que, se as ofertas fossem aceitas, os EUA poderiam intervir. a oferta de ajuda de Castro vazou para a imprensa; a de Mao não", diz o documento.
O que foi a Campanha da Legalidade
A Campanha da Legalidade foi um movimento político e militar liderado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, em agosto de 1961, em resposta à renúncia do presidente Jânio Quadros.
O objetivo central da campanha era garantir que o vice-presidente João Goulart, conhecido como Jango, assumisse a presidência da República, conforme previsto na Constituição brasileira da época. A renúncia de Quadros, em 25 de agosto de 1961, gerou uma crise política no país, com setores conservadores das Forças Armadas e da política nacional tentando impedir a posse de Goulart, sob a alegação de que ele tinha tendências comunistas e poderia alinhar o Brasil com o bloco soviético.
Brizola mobilizou uma ampla rede de apoio civil e militar para resistir às tentativas de golpe. Ele utilizou a Rádio Guaíba, de Porto Alegre, para transmitir mensagens à população, conclamando-a a defender a legalidade constitucional. A campanha ganhou adesão popular e o apoio de setores das Forças Armadas, especialmente no Rio Grande do Sul, onde Brizola conseguiu garantir o controle de unidades militares leais à causa.
A situação chegou a um ponto crítico quando o Congresso Nacional, pressionado pelos militares e pela possibilidade de uma guerra civil, propôs uma solução de compromisso: a adoção do regime parlamentarista, no qual Goulart assumiria a presidência, mas com poderes limitados. Em 7 de setembro de 1961, Goulart foi empossado, e a crise foi temporariamente resolvida, embora o parlamentarismo tenha sido uma medida paliativa que durou até 1963, quando um plebiscito restaurou o sistema presidencialista.
A Campanha da Legalidade é considerada um dos momentos mais importantes da história política brasileira, marcando a resistência popular e institucional contra o golpismo e a defesa da democracia.