INVASÃO

Vereador bolsonarista invade sala vermelha de UBS com paciente em estado gravíssimo

Homem morreu no atendimento. Caso ocorreu no município de Felício dos Santos, em MG, e gerou onda de indignação. Extremista diz que “fiscalizava” serviço de saúde

O vereador Wladimir Canuto, de Felício dos Santos.Créditos: Redes sociais/Reprodução
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Um vereador bolsonarista do município de Felício dos Santos, na região de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, virou notícia esta semana por ter invadido, na segunda-feira (3), a sala vermelha de uma UBS (Unidade Básica de Saúde) da cidade enquanto um paciente em estado gravíssimo era atendido pelos médicos. O homem não resistiu e acabou morrendo no local. O ambiente é destinado às emergências complexas e com alto risco de morte.

Wladimir Canuto (Avante), que em suas redes sociais vive fazendo postagens agressivas e se dirigindo grosseiramente "aos petistas", afirma que foi ao local para "fiscalizar o atendimento" aos cidadãos do município, uma clássica resposta dada por integrantes da extrema direita em situações do tipo.

A denúncia foi feita pela Prefeitura de Felício dos Santos, que emitiu uma nota de repúdio relatando a invasão promovida pelo vereador, classificada como "abrupta e injustificada", na qual o parlamentar teria disparado "agressores verbais" contra servidores. Houve também o relato de que ele agrediu fisicamente uma das funcionárias públicas que trabalhavam na unidade.

Na versão de Canuto, ele "recebeu uma denúncia" de um morador que "estaria chorando de dor na coluna" e "esperando por mais de duas horas" pelo atendimento. Dizendo-se "fiscal" do município, ele então foi à UBS "conferir" o que estava acontecendo. O vereador diz que encontrou um médico "mexendo no celular" e que foi à sala vermelha confirmar se a outra profissional realmente estava atendendo, mas disse que apenas abriu a porta, confirmou a presença da médica lá e de outras pessoas, e que depois fechou a sala e saiu.

"Eu sou fiscal do município. O salário que todos os funcionários da prefeitura recebem, eu fiscalizo. Eu tenho que ver se estão trabalhando de acordo, se são merecedores. Uma atendente me disse que eu não poderia entrar, e eu disse: 'Eu posso'. Quando entrei, me deparei com o médico sentado na cadeira dele, mexendo no celular. Perguntei: 'Tem emergência online, é isso?'. Pedi para ver o outro médico. Disseram que eu não poderia entrar na sala. Eu simplesmente abri a porta, aí vi que tinha muita gente lá dentro. Eu só perguntei se tinha médico na sala, a médica respondeu, e fechei a porta", defendeu-se Canuto, que disse ainda que "fará mais ações do tipo no futuro"

No entanto, a médica Larissa Vieira, que estava no atendimento do paciente em estado grave que acabou morrendo, reagiu de forma indignada e relatou algo totalmente diferente.

"Como médica que estava realizando o atendimento de alta complexidade tendo a sala invadida em um momento de um procedimento que exigia total atenção no meu paciente expresso aqui a minha completa indignação. O senhor é muito bom com as palavras e realmente não temos como provar o que ocorreu perante a justiça dos homens, mas a justiça Divina não falha. Fale como quiser, mas eu não dormiria com consciência tranquila depois de ter feito o que o senhor fez. Lamentável, vergonhoso e desumano", disse a profissional.

A nota da Prefeitura ainda sinaliza que Canuto seguiu com sua truculência mesmo depois de tudo que causou e ao tomar conhecimento da morte do paciente em atendimento.

"A ação desencadeou tumultos diversos na instituição, desestabilização psicológica de toda uma equipe, que mesmo o paciente vindo a óbito, não foi suficiente para vereador ter empatia, causando revolta dos familiares [do paciente] e usuários/pacientes na UBS", diz a administração municipal no comunicado.

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