BRUTALIDADE

Polícia confirma que homem morto por linchamento em MG não havia feito nada

Mãe de uma menina de 9 anos inventou história e a maior parte dos agressores que o assassinaram sequer sabiam do que o acusavam. Apenas o mataram a pedradas e pauladas

Elvis Cleiton da Silva Batista, de 38 anos, vítima do linchamento.Créditos: Polícia Civil de Minas Gerais/Reprodução
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A Polícia Civil de Minas Gerais concluiu o inquérito de um crime perturbador, ocorrido no começo deste ano em Juiz de Fora, na Zona da Mata, e que ganhou repercussão nacional. O catador de material reciclável Elvis Cleiton da Silva Batista, de 38 anos, muito conhecido e visto como bem humorado no bairro Santa Cecília, foi brutalmente morto por linchamento após uma mulher afirmar na rua que ele teria estuprado sua filha de 9 anos.

A investigação mostrou que não houve estupro algum e que Elvis sequer encostou na criança, cujo exame de corpo de delito apresentou tão somente um arranhão no braço, segundo ela provocado por um cachorro. A mãe, que logo após o bárbaro assassinato negou que tivesse “falado em estupro”, posteriormente admitiu que nada teria ocorrido.

“Segundo a própria criança, o arranhão foi causado por um cachorro. Então ouvindo o relato espontâneo da criança não restou configurado essa questão do estupro... A própria mãe fala que não houve um estupro e que eles não tinham certeza que foi o Elvis que segurou no braço da criança”, disse ao portal g1 a delegada Alessandra Azalim, responsável pelo inquérito.

Outra informação estarrecedora obtida pela polícia é a de que a maior parte dos espancadores que mataram Elvis sequer tinham entendido qual era a acusação contra ele. No total, 13 pessoas lincharam a vítima, entre maiores e menores de idade. Por fim, 10 delas acabaram indiciadas, inclusive a mãe da menina, responsável por criar a versão fantasiosa que levou ao crime.

“É muito importante frisar que as forças de segurança vão atuar com todo seu afinco para evitar esse tipo de prática, que a gente tem visto acontecendo na cidade. Ao invés de procurar a polícia, acionam um suposto justiceiro do bairro para fazer justiça com as próprias mãos. O Elvis sem motivo foi espancado por diversas pessoas e acabou falecendo”, salientou a delegada Camila Miller, titular da Delegacia Especializada de Homicídios de Juiz de Fora.

Familiares revoltados

 Elvis era um sujeito brincalhão, que era cumprimentado por todos no bairro Santa Cecília. A mãe dele, Maria Cecília da Silva, está desolada desde o assassinato e não para de repetir que o ato brutal foi uma crueldade sem tamanho.

“É muita crueldade, estava ajoelhado, sabe? Colocou as mãos para cima e dizia o tempo todo 'não fui eu, senhora, não fui eu’”, diz com a voz embargada dona Maria Cecília, a mãe.

Sentimento semelhante tem a prima, Aparecida Maria da Silva. Ela diz que Elvis vivia cantarolando e se divertindo com os amigos, e que não entende como ele foi alvo de tamanha violência. “Tanto é que ele estava com um pandeiro na mão. Era o que gostava de fazer. Adorava música, adorava dar gargalhada, se reunir com os amigos e beber”, disse a prima.

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) constatou que a morte do catador de recicláveis, registrada em vídeo e amplamente divulgada nas redes sociais, foi por “tórax instável e politrauma”, fruto das violentas agressões a pedradas e pauladas que Elvis sofreu.

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