Mia era uma cadelinha de 11 meses que ainda precisava aprender muita coisa para chegar a um comportamento ideal e mais ameno no convívio doméstico. Da raça golden retriever, normalmente dócil, ela foi levada por Francine Banchi, sua tutora, a um local em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, chamado "Mansão Pet".
A intenção da dona, logo no início do ano, era que Mia permanecesse "tendo aulas" por três dias com o adestrador responsável pelo lugar, identificado como Mário Sérgio Dornelas. O animal deu entrada no local em 9 de janeiro, mas ao fim dos três dias iniciais o profissional recomenda que a cadela permanecesse pelo menos mais 30 dias por lá.
Francine concordou e Mia teria, então, seguido com o adestramento na "Mansão Pet", conforme a orientação. Só que quando chegou finalmente o prazo para ela voltar para casa, Dornelas insistiu para que o animal ficasse ainda mais duas semanas.
“Porque ele disse que ela não estava 100% no xixi e no coco durante o passeio. E que aí ele ia ter certeza que estaria me entregando ela 100% adestrada, né?”, contou Francine Banchi à reportagem do portal g1.
No entanto, no dia 13 deste mês, um dia antes da data combinada para o regresso de Mia, o adestrador ligou para a tutora e informou que lamentavelmente a cadelinha tinha fugido.
Diante da situação, coube a Francine dar início a uma campanha de busca por toda a região na tentativa de achar a golden retriever que não tinha sequer um ano de idade. Foram 10 dias extenuantes e de muita colaboração de amigos e vizinhos, nas ruas e nas redes sociais.
Câmeras de segurança foram analisadas em vários pontos das imediações, mas nenhuma imagem de Mia aparecia, tampouco os vizinhos sabiam de algo. Tudo parecia ficar estranho na visão dos tutores e amigos.
Agora, nesta segunda-feira (24), o caso chegou ao fim e com um desfecho trágico e inesperado. Mia estava enterrada no próprio quintal do adestrador que relatou sua fuga.
Policiais civis foram esta manhã (24) até o endereço da tal "Mansão Pet", que de acordo com as autoridades não tem qualquer identificação como um estabelecimento para treinamento de cães, e lá tocaram a campainha. Dornelas não estava em casa, mas familiares atenderam no portão.
Depois de terem o ingresso autorizado pelos moradores, os investigadores perceberam uma parte do gramado remexido e então uma busca foi feita no local, com a ajuda de voluntários da ONG Nas Garras da Lei, que defende animais vítimas de maus-tratos.
Em poucos minutos o corpo de Mia foi encontrado e sua identidade confirmada pelos participantes da busca, já que ela tinha um chip de identificação implantado desde os primeiros dias de vida.
“Verificamos o quintal e vimos que ali no canto a terra estava mexida. Então, já é sinal de que algo estava enterrado ali. Aí, com toda a técnica para não deteriorar mais o corpinho da Mia, cavamos, cavamos em volta, retiramos, e constatamos através de chip, que ela tinha chip, que era a Mia”, disse ao g1 o voluntário Jack Calderini, integrante do Nas Garras da Lei.
De acordo com a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente do Rio, que participou da ação, outros três cachorros foram encontrados no imóvel, que estaria em condições insalubres, disponibilizando água apenas num balde, que estava sujo, e sem nenhuma ração ao alcance dos animais. O local também estava, segundo os policiais, todo sujo de fezes e urina, com cheiro muito forte.
Mário Sérgio Dornelas não estava em casa e nem chegou durante o período em que a Polícia Civil esteve por lá. Não há informações sobre sua apresentação ou não numa delegacia após o encontro do corpo de Mia. Uma investigação foi aberta para apurar se houve maus-tratos por parte do adestrador, bem como em que circunstâncias a cadelinha morreu e porque foi sepultada no local sem que sua tutora fosse informada do fato.