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A delação do tenente-coronel Mauro Cid trouxe à tona detalhes inesperados e, por vezes, surreais sobre os bastidores da tentativa de golpe liderada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Entre documentos, áudios e relatos diretos, algumas passagens chamam a atenção tanto pelo conteúdo quanto pela maneira como foram descritas. A seguir, sete pontos que destacam o inusitado dessa trama política.
- Bolsonaro queria um golpe, mas não queria assinar nada: Segundo Cid, Bolsonaro tinha medo de deixar qualquer evidência documental que o ligasse diretamente ao plano golpista. "Ele queria um golpe, mas sem deixar rastro de sua participação formal", revelou o ex-ajudante de ordens. A estratégia envolvia conversas informais e o uso de interlocutores para disseminar a ideia entre militares e apoiadores civis.
- Mauro Cid precisou recomprar joias vendidas no exterior: O ex-ajudante de ordens detalhou uma operação clandestina para recuperar joias que haviam sido ilegalmente vendidas nos Estados Unidos. Em um esforço para encobrir o esquema, ele viajou até Miami e pagou US$ 35 mil em espécie para recomprá-las. As joias, presentes oficiais do governo saudita, haviam sido vendidas para levantar dinheiro em benefício da família Bolsonaro.
- O "Gabinete do Ódio" era composto por "três garotos": Diferentemente do que se imaginava sobre uma grande estrutura de comunicação paralela, Cid afirmou que a célula de desinformação que operava ataques coordenados contra adversários de Bolsonaro era formada por "três garotos" sob a orientação direta de Carlos Bolsonaro. As operações incluíam disseminação de fake news, ataques virtuais e manipulação do discurso público para desacreditar opositores e instituições democráticas.
- Bolsonaro queria um golpe, mas as Forças Armadas não colaboraram: Cid afirmou que, em várias ocasiões, Bolsonaro insinuava que a tomada do poder por meios ilegais poderia ocorrer. No entanto, não conseguiu apoio institucional do Exército e da Aeronáutica, tendo apenas a Marinha como um setor mais alinhado ao projeto autoritário. A resistência militar foi um dos fatores que frustraram a tentativa de subverter a ordem democrática.
- O ex-presidente Bolsonaro ficava vigiando o engajamento das postagens: O ex-mandatário não apenas comandava a narrativa digital, mas acompanhava obsessivamente o impacto de suas postagens nas redes sociais. Cid relatou que Bolsonaro frequentemente questionava o desempenho de publicações e demonstrava frustração quando o engajamento não atingia suas expectativas. Essa preocupação era parte da estratégia de manter sua base mobilizada e reforçar teorias conspiratórias sobre as eleições.
- Bolsonaro insistia na fraude eleitoral, mesmo após a conclusão das Forças Armadas: Mesmo diante da análise técnica dos militares, que não encontraram indícios de fraude nas eleições de 2022, Bolsonaro recusou-se a aceitar o resultado e continuou ordenando que sua equipe buscasse provas inexistentes para sustentar sua tese de manipulação das urnas. O relatório das Forças Armadas descartando qualquer irregularidade não impediu que Bolsonaro e seus aliados seguissem alimentando a desconfiança pública e incentivando atos antidemocráticos.
- Férias frustradas: Em 8 de janeiro, quando os atos golpistas já estavam em curso, os militares não estavam mobilizados para uma eventual ruptura institucional. Essa revelação expõe o descompasso entre a cúpula militar e os apoiadores civis que esperavam apoio das Forças Armadas. "Os militares estavam de férias. Inclusive", afirmou Mauro Cid durante depoimento.
As revelações reforçam o peso das acusações e podem aprofundar o cerco jurídico contra Bolsonaro e seus aliados, com possíveis desdobramentos em novas investigações e processos criminais.
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