AUGUSTO DE ARRUDA BOTELHO

Caso Natuza Nery: policial deve ser punido exemplarmente, diz advogado da jornalista

Augusto de Arruda Botelho afirma que o agressor ultrapassou e muito o limite da liberdade de expressão

Natuza Nery, da GloboNews.Créditos: Divulgação / Globo
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Augusto de Arruda Botelho, advogado de Natuza Nery, afirmou em entrevista ao Poder 360, que o policial acusado de ameaçar a jornalista na última segunda-feira (30), em um supermercado em Pinheiros, São Paulo deve receber uma “punição exemplar”. O objetivo, segundo ele, é fazer com que episódios como esse não se repitam.

“Este caso, [assim] como outros casos contra jornalistas, merece uma investigação e uma punição exemplar para evitar a impunidade nessas situações. Essa escalada que infelizmente vem acontecendo não pode tomar proporções ainda maiores”, disse ele. 

Botelho, que é advogado criminalista, afirmou ainda que a polarização recente do país contribuiu para o aumento dos ataques.

“A polarização política que tomou conta do país nos últimos anos contribuiu muito para a escalada da violência contra jornalistas. Eu não vejo nenhum outro acontecimento histórico que possa ter influenciado essa escalada a não ser a polarização política”, disse.

Liberdade de expressão

“Tem muita gente levantando a hipótese de se tratar de liberdade de expressão, de liberdade de crítica. Não é o caso. A liberdade de expressão obviamente é uma garantia constitucional que tem que ser respeitada, mas esse policial ultrapassou e muito esse limite. Ele efetivamente ameaçou a jornalista. Ela se sentiu ameaçada, e isso configura um crime no Código Penal”, encerrou. 

Policla afastado

O policial civil que ameaçou a jornalista Natuza Nery em um supermercado na cidade de São Paulo, identificado como Arcenio Scribone Junior, foi afastado de suas atividades operacionais.

O afastamento do policial que ameaçou a jornalista da GloboNews foi revelado nesta quinta-feira (2) pela Secretaria de Segurança Pública (SSP).

Policial que ameaçou Natuza Nery é bolsonarista radical 

Arcenio Scribone Junior é um bolsonarista radical que utilizava as redes sociais para defender golpe de Estado, questionar o sistema eleitoral brasileiro, disparar fake news, atacar a esquerda e defender uma intervenção militar no Brasil. 

Após a ameaça contra Natuza Nery vir à tona e a Corregedoria da Polícia Civil abrir um procedimento para investigar o caso, o policial apagou seus perfis nas redes sociais. Internautas, entretanto, salvaram publicações em que o agressor da jornalista se mostra um bolsonarista violento e defensor de uma ruptura democrática. 

Em dezembro de 2022, por exemplo, o policial utilizou o X (antigo Twitter) para enaltecer uma manifestação de bolsonaristas em prol de um golpe de Estado. "Nessas horas tenho orgulho de ser brasileiro. Nosso povo está vivo", escreveu junto a uma foto do ato golpista. 

No mesmo mês, Arcenio Scribone Junior chegou a publicar uma notícia falsa afirmando que Jair Bolsonaro teria obtido mais de 73% dos votos nas eleições de outubro daquele ano e vencido o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Esta é a realidade que a mídia tentou esconder dos brasileiros", escreveu. 

Já em uma publicação na rede Threads em novembro de 2024, o policial disse que estaria "preso ou morto" ao responder a uma pergunta sobre onde estaria se "fizesse tudo que tem vontade". 

Ameaça à Natuza Nery 

O policial civil Arcenio Scribone Junior teve um chilique ao se deparar com a jornalista Natuza Nery, da Globo, em um supermercado de Pinheiros, região nobre da Zona Oeste de São Paulo, nesta quarta-feira (1º). 

O agente que atacou a jornalista da Globo em área nobre da capital já foi acionado pela Corregedoria da Polícia Civil, que pode expulsá-lo da corporação.

Segundo informações divulgadas por Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, o policial, que estava de folga, abordou a jornalista dentro do supermercado perguntando se ela era a Natuza Nery, da Globonews. Natuza não se pronunciou sobre o caso.

Diante da resposta positiva, o agente teve um chilique e começou a fazer ameaças dizendo que pessoas como a jornalista "merecem ser aniquiladas".

O policial também teria ecoado o discurso de Jair Bolsonaro (PL), dizendo que a Globo e a jornalista seriam "responsáveis" pela situação do país.

As ofensas retomaram quando Natuza estava no caixa. O policial passou a xingar a jornalista. Uma pessoa que o acompanhava teria pedido para ele parar com o surto, mas foi ignorada.

A Polícia Militar foi acionada e registrou ocorrência, encaminhada ao 14º Distrito Policial. Ao descobrir que o acusado era policial civil, o caso foi repassado à Corregedoria. 

A SSP afirmou em nota que "diligências foram realizadas no supermercado em busca de imagens do ocorrido e de eventuais testemunhas".

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