Era a começo da noite de sexta-feira (10) e Francisco de Assis Almeida, de 40 anos, saía com uma pequena mala para ir a um retiro da igreja evangélica que frequentava, no Catiri, em Bangu, Zona Oeste do Rio. Numa esquina, sem sequer ter tempo de entender alguma coisa, foi fechado por um carro, de onde homens armados com fuzis disparam, o acertando.
A região do Catiri é dominada pelo Comando Vermelho, a organização criminosa que atua no tráfico de drogas mais poderosa do estado. Só que aquele perímetro é cobiçado também por milicianos, que estão em guerra com esses traficantes e até conseguem fazer algumas cobranças de moradores e comerciantes do bairro, embora não tenham o controle físico no território. Os confrontos entre os dois bandos são constantes.
O problema, no caso de Francisco, foi a sua roupa. Ele vestia uma calça escura e camisa preta, uma indumentária que seria típica dos integrantes da milícia. A ordem do Comando Vermelho, de acordo com moradores da região e de vários perfis de redes sociais de gente que mora nas redondezas, é de que moradores não devem usar vestimentas nessa cor de jeito algum, para evitar serem confundidos com milicianos.
Uma pessoa ouvida sob anonimato por uma equipe de reportagem da TV Globo, numa matéria veiculada pelo RJTV deste sábado, afirmou que sexta e sábado são os dias em que os milicianos fazem a “cobrança” no Catiri e em outros bairros do Rio. Pela data e pela roupa preta, dizem moradores, Francisco foi confundido com um membro da milícia exercendo essas cobranças. Foi o suficiente para que o veículo com traficantes, após monitorá-lo, se aproximassem e o matassem com vários tiros.
O corpo do trabalhador, que era natural da Bahia e que vivia no Rio havia um ano e meio, ficou estirado sobre uma poça de sangue no meio da rua. Segundos após os disparos, vizinhos correram para ajudá-lo e uma mulher que registrou a cena pelo celular ainda lamenta o fato de o homem estar de roupa preta, já que existe uma ordem no Catiri para que roupas dessa cor não sejam usadas por quem vive ali. “Mataram o homem da igreja, tavam tudo indo pra igreja fazer projeto... Ele sabe que não pode andar de preto, meu Deus... Mataram o menino”, diz a mulher, em desespero.
Bombeiros chegaram a ser acionados, mas Francisco já estava sem vida. Seu cadáver foi levado para o Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio, onde passou por perícia. O caso foi registrado pela Polícia Civil na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que instaurou um inquérito para tentar identificar e prender os autores do crime.
Veja o vídeo registrado no Catiri logo após os tiros: