No dia 16 de agosto a bancária Denise Prudhomme, de 60 anos, funcionária da instituição financeira Wells Fargo, na cidade de Tempe, no estado do Arizona, chegou a seu trabalho.
Como de costume, silenciosamente, arrumou suas coisas na mesa de trabalho e começou sua jornada.
Era uma sexta-feira, alguns colegas estavam alegres pelo "sextou" e ao final do dia se despediram sem esperar por resposta de Denise.
Todos saíram. O responsável fechou a agência sem perceber a presença de Denise, que ali permaneceu em sua baia por todo o final de semana, impassível.
Na segunda pela manhã, o funcionário abriu a agência sem notar que Denise ainda estava por lá. Os colegas dela chegaram para mais um dia de trabalho e já a encontraram sentada. Ninguém reparou que ela continuava com a mesma roupa da sexta, nem que não respondia aos cumprimentos. Devia estar compenetrada no trabalho. "Foco", "entrega", "vestir a camisa", "comprometimento".
Ao final do dia de segunda, todos saíram, menos Denise, que lá continuava em seu local de trabalho desde a manhã de sexta.
Somente na terça, pela manhã, as pessoas estranharam o cheiro desagradável na agência. Só aí se deram conta de que era Denise.
Os peritos afirmaram que a bancária havia morrido na sexta, no horário do expediente.
Ninguém notou a silenciosa e impassível Denise também por toda a segunda-feira.
Apenas na terça, quando o mau cheiro do corpo em decomposição de Denise impregnou a agência do Wells Fargo, é que todos notaram que ela estava morta havia quatro dias.
É a mesma narrativa do trio de bilionários dono das Americanas, do CEO da empresa e de seus diretores. Ninguém havia notado o rombo da empresa debaixo de seus narizes, até que ele começasse a feder em boatos.
As Americanas não estavam mortas, mas com um buraco de R$ 20 bilhões, depois recalculados em R$ 47 bilhões. Que nem o trio de ouro Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira jamais havia percebido, segundo afirmaram em coro. Mesmo o buraco sendo tão grande que daria para pagar um salário mínimo mensalmente a 100 mil brasileiros durante 30 anos.
O buraco era invisível como a funcionária morta da Wells Fargo. E produziu-se de forma natural e espontânea, sem causa externa, como a morte de Denise.
A situação é semelhante até nas notas.
A Wells Fargo escreveu:
“Estamos profundamente entristecidos pela perda de nossa colega, Denise Prudhomme. Nossos pensamentos estão com sua família e entes queridos, e estamos em contato para garantir que eles recebam o suporte necessário durante este momento difícil. Estamos comprometidos com a segurança e o bem-estar de nossa força de trabalho”, afirmou a instituição financeira.
Os donos das Americanas, em nota:
Jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia. Nossa atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal. Isso foi determinante para a posição que alcançamos em toda uma vida dedicada ao empreendedorismo, gerando empregos, construindo negócios e contribuindo para o desenvolvimento do país.
Lamentamos profundamente as perdas sofridas pelos investidores e credores, lembrando que, como acionistas, fomos alcançados por prejuízos.
A morte de Denise foi uma fatalidade. Mas o rombo das Americanas continua cheirando muito mal.