ELEIÇÕES 2024

Ricardo Nunes foi preso por dar tiro em boate, diz Boulos

O candidato do PSOL relembrou episódio envolvendo o atual prefeito de São Paulo

Ricardo Nunes.Créditos: YouTube/Reprodução
Escrito en BRASIL el

Apesar das regras mais rígidas, o debate da TV Cultura entre os candidatos a prefeito de São Paulo, na noite deste domingo (15), já tinha esquentado antes da cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB), o ex-coach. Guilherme Boulos (PSOL) relembrou um episódio envolvendo Ricardo Nunes (MDB).

Nunes, um senhor que hoje se apresenta como “conservador” e é parte da “cruzada contra a esquerda” que setores reacionários da sociedade travam nos últimos anos, e que tenta de qualquer forma se agarrar à imagem de Jair Bolsonaro e da extrema direita para conseguir mais um mandato à frente da maior megalópole do país, tem um passado, digamos, nem tão “conservador” assim.

O ano era 1996 e o dia era 23 de setembro. Na verdade, uma madrugada de sábado para domingo. Nunes e um amigo tinham ido a uma balada chamada Caipirão, em Embu das Artes, na Região Metropolitana da capital paulista. Não se sabe exatamente o que aconteceu naquela noite, mas o fato é que às 3h um policial civil que fazia bico no estabelecimento, e que estava dentro de um carro na porta da boate, ouviu um tiro. Ele desceu do veículo e diz que viu Nunes com uma pistola na mão, junto de um outro homem. Na sequência, revela ainda este depoimento, o agora prefeito de São Paulo teria efetuado ainda mais um disparo.

O investigador teria sacado sua arma e abordado Nunes, enquanto o amigo dele fugiu do local. Nessa época o político era um jovem de 28 anos, solteiro. Como era de se esperar, ele foi conduzido a uma delegacia de polícia para formalizar o ocorrido. Por sorte, a história ocorreu sete anos antes da entrada em vigor da Lei 10.826/03, o Estatuto do Desarmamento, que tornou a posse e o porte ilegais, assim como crimes relacionados a armas de fogo, como disparos em via pública, atos muito mais graves e passíveis de penas muito maiores. À época do incidente com Nunes, estar com uma arma não registrada, sem porte e dando tiros era algo considerado apenas uma contravenção.

Na versão de Nunes na delegacia o disparo teria sido “acidental” e efetuado por seu amigo, Marcio Gonzales Garcia, conhecido como “Bexiga”, que de fato era o dono da arma, registrada em seu nome. Na mesma versão do hoje prefeito, Garcia não teria entrado no registro da ocorrência simplesmente por não ter sido “convidado” ao DP, sem mencionar uma fuga. Após assinar o termo circunstanciado, Nunes foi liberado.

Ainda que à época essa ilegalidade fosse muito mais leve do que é hoje, o agora político foi denunciado pela promotora Silvia Tomaz Lourenço Moreno de Oliveira no ano seguinte, por infringir os artigos 19 (porte de arma sem licença) e 28 (disparar arma de fogo em local público ou habitado), ainda com base na Lei das Contravenções Penais.

Sem julgamento

Mas Nunes não foi a julgamento. Ele acabou assinando um acordo, chamado juridicamente de “transação penal”, na 2ª Vara Criminal de Embu das Artes, no qual ficou estabelecido que ele compraria o equivalente a R$ 120 reais, em valores da época, em canecas plásticas para o Serviço Social da Comarca da cidade de Itapecerica da Serra (SP), o que de fato acabou se concretizando tempos depois. No ano seguinte, em 1998, uma juíza determinou o arquivamento definitivo do processo.

O Metrópoles afirmou que procurou o amigo de Nunes, Marcio Gonzales Garcia, que hoje é empresário na área de construção civil, mas não conseguiu localizá-lo. Já o prefeito, emitiu uma nota na qual sinaliza que “o fato foi há quase 30 anos” e que “a arma e o veículo envolvidos na ocorrência eram de um terceiro”.

“O episódio datado há quase trinta anos refere-se a um disparo acidental de arma registrada em nome de outra pessoa e sem consequências para nenhuma parte. O depoimento foi atendido prontamente conforme orientação policial na ocasião. Tanto a arma como o veículo onde a mesma foi encontrada pertenciam a terceiro, que deixou o local sem prestar esclarecimento”, manifesta o comunicado.

Siga o perfil da Revista Fórum e do jornalista Lucas Vasques no Bluesky.