MÃES DO ARAGUAIA

O Brasil se despede da última “Mãe do Araguaia”

Diana Piló foi incansável na luta por memória e justiça aos mortos e desaparecidos na guerrilha do Araguaia

Diana Piló, a última "Mãe do Araguaia".Créditos: Instituto Vladimir Herzog
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Na manhã desta segunda-feira (8), faleceu Diana Piló de Oliveira, a última “Mãe do Araguaia”, aos 100 anos. Diana teve quatro filhos, Eliana, Diana (que nos deixou na pandemia), Ângela e Pedro Alexandrino de Oliveira Filho, que usava o codinome de Peri e foi morto na região do Rio Araguaia, hoje Tocantins, no dia 4 de agosto de 1974, conforme relatório do Ministério da Marinha, mas as informações sobre sua morte são escassas. Seu corpo nunca foi encontrado.

Segundo o site https://memoriasdaditadura.org.br/, a última vez que Diana viu o filho foi no natal de 1969, quando ele deixou a família para juntar-se aos companheiros do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Antes disso, ele já havia sido preso e duramente torturado no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Foi quando Diana soube de seu engajamento político. Desde seu desaparecimento, a mãe escreveu-lhe cartas diariamente, que nunca chegaram a ser enviadas.

Juntamente com Carmen Navarro, mãe de Hélio Luiz Navarro, que conheceu durante as buscas pela verdade quanto ao seu filho, Diana recusou a indenização do Estado que passou a ter direito pela Lei 9.140/95, que reconhecia os desaparecidos políticos como vítimas do Estado. A luta dessa “Mãe do Araguaia” era por justiça, verdade e memória.

Quem foi Pedro Alexandrino, o Peri

De acordo com o site do Memorial da Resistência de São Paulo, https://memorialdaresistenciasp.org.br/, nascido em Belo Horizonte (MG), Pedro Alexandrino estudou nos colégios Monte Calvário e Anchieta, ambos em sua cidade natal. Trabalhou no antigo Banco Hipotecário, posteriormente Banco do Estado de Minas Gerais. Transferido para São Paulo (SP), em 1967, fez curso de inglês e se engajou no movimento estudantil da capital paulista. Em 1969 retornou a Minas Gerais, já procurado pelos órgãos de informação por sua atuação política. Em dezembro deste ano foi preso por agentes do Departamento de Ordem Política e Social de Minas Gerais (DOPS/MG), na casa de sua irmã. Os agentes que efetuaram sua prisão o espancaram na frente de sua família, antes de levá-lo para as instalações da polícia civil. Torturado, perdeu completamente a audição de um lado e teve a do outro severamente prejudicada. Quando saiu da prisão, perseguido politicamente, mudou-se para o sudeste do Pará, onde se assentou na região do Rio Gameleira e assumiu o codinome de Peri. Muito ligado à mãe e às irmãs, sempre que possível manteve o contato por meio de cartas, nas quais externou a saudade dos familiares e o amor pela luta política então empreendida. 
Em reportagem da revista Época, de março de 2004, os ex-soldados Raimundo Pereira, Josean Soares, Antônio Fonseca e Elias Oliveira relataram que Pedro Alexandrino foi enterrado na base militar de Xambioá (TO). De acordo com a reportagem "Dois corpos cravados de balas foram despejados na pista. Sem camisa, vestiam bermudas jeans desfiadas, presas com cintos de couro. Um deles estava descalço, o outro usava tênis Topa Tudo. Foram chutados pelos militares. Um soldado pegou o facão e abriu um buraco no peito de um dos mortos. '’Tem gordura aí', zombou". O cadáver com o peito aberto a facão era do guerrilheiro Peri, de 27 anos, disfarce do bancário Pedro Alexandrino Oliveira Filho.

Um exemplo de luta

Diana deixa uma história de luta que inspira familiares e amigos. Pedro Alexandrino Oliveira Martins, neto de Diana Piló e que tem o nome em homenagem ao tio Pedro Alexandrino, o Peri, falou a Fórum sobre esse momento de tristeza e saudade: “É um dia triste para a família, mas a gente carrega no coração muita força, vindo do exemplo que ela nos deixou, um exemplo de luta, de mulher que nunca abaixou a cabeça para nada, lutou muito pela abertura e pela criação da Comissão da Verdade. Lá atrás, no governo, Fernanda Henrique foi uma das mães que não aceitaram a indenização que o governo pagou para as vítimas e familiares. Ela não aceitou e criou, na época, um grupo de mães que exigiam a abertura dos arquivos e as informações sobre os desaparecidos e mortos. Então, para nós é muito triste, mas a gente carrega no coração muita força e vamos seguir na luta simbólica, já que agora reabriram a Comissão da Verdade, e a gente vai seguir na luta para que essa história seja contada para nossos netos e bisnetos e para todo o Brasil.”