Era próximo da hora do almoço de um sábado, 12 de agosto de 2006, quando o Brasil foi surpreendido com a notícia de que um repórter da TV Globo havia sido sequestrado em São Paulo pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), uma organização criminosa que naquele ano, poucos meses antes, havia ganhado notoriedade nacional e internacional por levar a cabo 251 ataques a forças de segurança paulistas, deixando 59 policiais, guardas civis e agentes prisionais mortos, um pânico jamais visto, naquela dimensão, em toda a História do Brasil.
Guilherme Portanova, que à época tinha acabado de completar 30 anos, foi levado de uma padaria junto com um auxiliar técnico enquanto tomavam café, nas proximidades da Globo. Num país assustado com a selvageria dos atentados, o pânico disseminado, os boatos de chacinas, ver uma figura da televisão, da emissora mais poderosa do Brasil, nas mãos de criminosos, era de fato de tirar o fôlego.
O caso volta à tona agora porque, quase duas décadas depois, o homem considerado o responsável pela execução do sequestro de Portanova foi recapturado pela Polícia Militar Rodoviária de São Paulo, por puro acaso. Condenado a mais de 50 anos por inúmeros crimes, entre eles homicídio, formação de quadrilha e tráfico de armas e drogas, Edson Gonçalves de Siqueira, conhecido como ‘Irmão Fênix’, tinha ganhado a liberdade por meio de uma ‘saidinha’ em 2017 e desde então seu paradeiro era desconhecido.
Só que na última noite (3), o líder do PCC estava dentro de um Volvo XC60, um automóvel de luxo, blindado, na companhia de duas mulheres, parado no acostamento da via Anchieta, na altura do município de Cubatão, na Baixada Santista. Ou seja, num local totalmente inapropriado para uma “encostadinha”. A PM Rodoviária foi informada pelo Copom de que no local poderia estar em andamento um assalto e, então, partiu para o ponto da via.
Chegando lá, os PMs não encontraram assalto algum, mas sim um dos criminosos mais poderosos e perigosos do país. Ele ainda tentou fugir com o veículo, deixando as duas acompanhantes no ponto da abordagem, mas bateu o pesado automóvel à prova de balas numa mureta e precisou descer. Antes de ser levado, ‘Irmão Fênix’ ainda apresentou uma identidade falsa, mas acabou descoberto. As mulheres escaparam.
Desfecho sem sangue, mas assustador
Voltando àquele inverno de 2006, o sequestro de Guilherme Portanova acabou tendo um desfecho “feliz”. Ninguém morreu ou saiu ferido, mas a libertação do jornalista, mais de 40 horas depois de ter sido raptado, só se deu após a Globo colocar no ar, em cadeia nacional, um DVD gravado pelo PCC no qual um homem usando capuz, apenas com os olhos de fora, lia uma mensagem identificando a organização e fazendo exigências ao governo de São Paulo, que em resumo pretendiam condições melhores no sistema prisional do estado.