Uma investigação conduzida do outro lado do Oceano Atlântico acabou por elucidar um crime bárbaro ocorrido em outubro do ano passado, em São Paulo. Foi um ataque a tiros na Escola Estadual Sapopemba, que fica no bairro que tem o mesmo nome, na Zona Leste da capital paulista, que terminou com a adolescente Giovanna Bezerra, de 17 anos, morta. O autor dos tiros também era aluno, um ano mais novo que a vítima fatal, e pegou o revólver do pai para realizar um massacre, desses que se tornaram comuns nas últimas décadas, iniciados nos EUA.
No entanto, o autor intelectual do ataque, que era para ter feito muito mais vítimas, não foi o garoto que apertou o gatilho. O planejamento do massacre foi realizado por um outro adolescente, hoje com 17 anos, de nacionalidade portuguesa e morador do norte do país europeu, que nunca pisou no Brasil. As informações são da coluna Portugal Giro, do jornal O Globo.
A Polícia Judiciária (PJ) de Portugal realizou uma investigação para identificar um sujeito que, a partir da plataforma Discord, muito utilizada por extremistas, pedófilos e por todo tipo de criminoso, planejava ataques em massa no Brasil. Ele foi localizado e preso na semana passada. Inicialmente, o caso investigado era relacionado a um “pedido” para que um morador de rua fosse executado e o crime fosse filmado, para deleite dele e de seus seguidores nessa rede. Só que as autoridades lusas descobriram que a morte de Giovanna, em Sapopemba, há sete meses, foi uma determinação desse adolescente também, assim como outros três ataques a escolas que, ao que parece, não foram levados a cabo.
Adepto entusiasmado de ideias nazista, o rapaz português de 17 anos, filho de pais separados, passava seus dias entre as pequenas cidades de Santa Maria da Feira e Gondomar, nas cercanias do Porto, em semanas alternadas, visto que pai e mãe vivem nesses municípios. Ele foi preso em Santa Maria da Feira, o que se transformou numa ocorrência assustadora para os pouco mais de 17 mil habitantes.
Como o extremista juvenil trocava de perfil cada vez que mudava de cidade, ao ir da casa do pai para a da mãe, e vice e versa, as autoridades tiveram dificuldades inicialmente para rastreá-lo e conectar fatos e planos vistos na plataforma. O Discord e a Polícia Federal do Brasil colaboraram nas investigações, o que acabou levando a um desfecho mais rápido do caso, uma vez que a PJ portuguesa tinha pressa na conclusão das investigações porque o assassinato do tal morador de rua brasileiro estaria para ocorrer nos próximos dias.
“A investigação contou com a colaboração da Polícia Federal. Foi iniciada com caráter de urgência, tendo em conta a gravidade das suspeitas. Visou conhecer e identificar a atividade on-line do detido, um português que promovia o nazismo, incitando comportamentos extremistas”, disse a Polícia Judiciária de Portugal num comunicado à imprensa.
A Justiça portuguesa converteu a prisão do acusado em preventiva e ele seguirá detido, por prazo indeterminado. Segundo as autoridades locais, ele responderá a inúmeros crimes, entre eles homicídio. Em Portugal, embora a maioridade civil seja de 18 anos, a maioridade penal está fixada em 16 anos, idade a partir da qual os cidadãos podem ser presos e responder por seus crimes.