COMO ASSIM, PASTOR?

“Unção da sacanagem”: O que era o ritual praticado por pastor preso no DF

Líder evangélico famoso exigia que fiéis homens permitissem atos nada cristãos para que seus parentes não morressem, já que ele se dizia profeta e vidente

Pastor Sinval Ferreira, acusado de abusar sexualmente de fiéis por coação.Créditos: Redes sociais/Reprodução
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A Polícia Civil do Distrito Federal prendeu nesta quarta-feira (22) um pastor evangélico que há tempos vinha exigindo condutas sexuais de seus fiéis sob coação, alegando a esses seguidores que era profeta e previa a morte de seus parentes num futuro próximo, ocasião em que pedia para abusá-los sob a promessa de que impediria o óbito dessas pessoas com seus poderes.

Sinval Ferreira, de 41 anos, muito popular nas redes sociais, onde acumula mais de 30 mil seguidores, é uma figura bastante conhecida no universo dessas igrejas neopentecostais do DF. Alvo da Operação Jeremias 23, numa referência bíblica que faz alusão aos falsos profetas que se aproveitam das pessoas, o pastor acumulava dezenas de denúncias por condutas sexuais inapropriadas, sempre com homens.

Apelidada jocosamente de “unção da sacanagem”, o ritual realizado por Sinval, segundo as investigações, era sempre repetitivo. Ele se aproximava de um fiel de sua igreja, dizia que tinha tido uma visão e que nela um parente do alvo estaria prestes a morrer, ou ainda, de ficar paraplégico. Diante de um seguidor assustado, o clérigo dizia, então, que isso se resolveria fazendo um procedimento que ele chamava de “sete unções”. A primeira delas era sempre praticar masturbação e sexo oral nesse fiel, o que evoluía e invariavelmente culminava em um ato sexual completo.

Na argumentação apresentada por Sinval às vítimas, para que elas aceitassem seus pedidos nada cristãos, o pastor insistia que “Deus” teria o incumbido de fazer a tal “revelação” da morte iminente de seu parente, e que o próprio Todo-Poderoso o ordenava que dissesse a esses fiéis como seriam as “sete unções” sexuais. Os homens que foram induzidos a transar com o acusado disseram às autoridades que o faziam por se sentirem desesperados e ameaçados.

Para além disso, a Polícia Civil informou que durante as investigações também ficou configurado que o pastor, assim como uma mulher, que seria pastora e de sua confiança, ameaçava as vítimas que porventura se negassem a fazer sexo com o líder evangélico, sempre por meio de supostos “castigos de Deus”. Essa mulher, cuja identidade não foi revelada, também transava com fiéis homens da igreja, muitas vezes na presença do pastor “profeta”.

Uma fiel contou aos policiais que Sinval também exigia vultosas contribuições à igreja, usando a mesma tática de coagir por meio de “castigos divinos” se a doação generosa não fosse feita. Ela contou que chegou até emprestar uma pequena propriedade rural para o pastor realizar uma orgia com vários rapazes da igreja e que comprou uma passagem de avião para ele ir ao Rio de Janeiro.

Sinval está preso e, segundo o delegado que chefiou a Operação Jeremias 23, responderá pelos crimes de violação sexual mediante fraude e extorsão, o que pode render-lhe até 17 anos de cadeia.