Lione Balta Martins Cardozo, advogada da família da menina de 4 anos agredida pelo pai de um colega em uma escola municipal na cidade de Campo Grande (MS), na última segunda-feira (11), revelou que a família da criança agredida não quer que as pessoas promovam linchamentos virtuais ou físicos ao agressor.
O caso foi registrado na Escola Municipal Professora Iracema de Souza Mendonça e foi parar na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA). A cena foi registrada por câmeras de segurança e, segundo testemunhas, o homem ficou extremamente irritado ao deixar seu filho de 4 anos na unidade de ensino e ver, em seguida, ele sendo abraçado pela colega.
O homem invadiu a parte interna da escola e empurrou a menina, que estava com uma mochila de rodinhas cor-de-rosa. Na sequência, apontou o dedo para o rosto da criança, gritou e tirou seu filho de perto dela.
Veja vídeo:
A diretora da escola, uma mulher de 69 anos, tentou retirar o homem do local e também foi agredida. A Guarda Civil Municipal (GCM), então, foi acionada pela equipe da unidade de ensino e os agentes conduziram os envolvidos para a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), onde foi feito um Termo Circunstancial de Ocorrência.
Através de uma sequência de stories no Instagram publicada nesta quarta-feira (13), a advogada Lione Balta deu mais detalhes sobre o caso, mas enfatizou que não compactua com linchamentos ao agressor.
"Nós não compactuamos e não concordamos, tanto o escritório quanto a família [da criança agredida], com qualquer tipo de linchamento, virtual ou pessoal. Não concordamos com qualquer tipo de agressão. Seja ao acusado ou à família. A família não quer que uma agressão seja paga com outra agressão", disse a defensora.
Segundo Lione, a princípio, não constava no boletim de ocorrência que a suposta motivação da agressão tenha sido racismo, conforme vem sendo aventado nas redes sociais, mas a advogada não descarta a possibilidade.
"O boletim de ocorrência foi registrado exclusivamente por agressão. A questão do racismo foi posteriormente levantada, mas não tenho como afirmar. As imagens são estarrecedoras, mas não temos como acusar sobre nada. Porém, vivemos sim num país estruturalmente racista e não descartamos a possibilidade. Não conheço a pessoa, eu posso falar pelo que estou vendo. Mas não podemos acusar uma pessoa sem que exista uma investigação policial com provas robustas sobre o caso. E é exatamente isso que estamos aguardando", esclareceu.
Lione Balta detalhou, ainda que a Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) está acompanhando o caso e que, justamente por não ser perceptível qualquer motivação para a agressão gratuita, a questão do racismo foi levantada.
Mudança de escola
A advogada da família revelou, ainda, que a criança agredida deixou de ir à escola e que aguarda transferência para uma nova unidade de ensino.
"O caso se torna de uma problemática muito maior ao vermos que todos saem prejudicados em uma situação dessa. A vítima não vai desde ontem para a escola, está aguardando uma vaga em outra instituição porque a família se sente confortável com ela indo para a escola depois do ocorrido", pontuou.
Em entrevista ao site Diário Digital, Lione Balta afirmou ainda que a criança agredida está "totalmente assustada" com a situação.
"Estamos em contato com a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso do Sul (OAB-MS) para conseguir andamento no caso, pois, a pequena está totalmente assustada com a situação e não podemos deixar que esse caso em pleno 2024 caia no esquecimento”.
Relembre o caso
Uma cena inacreditável chocou a população de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Na manhã desta segunda-feira (11), um pai de uma criança invadiu a Escola Municipal Professora Iracema de Souza Mendonça e agrediu uma colega de seu filho, uma garotinha negra de 4 anos.
O caso foi parar Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA) e toda a agressão foi registrada pelo circuito interno de segurança da unidade de ensino. Segundo testemunhas, o homem ficou extremamente irritado ao deixar seu filho de 4 anos na escola e ver, em seguida, ele sendo abraçado pela colega.
Identificado pela imprensa de Campo Grande como Kelver, de 32 anos, ele invadiu a parte interna da escola e empurrou a menina, que estava com uma mochila de rodinhas cor-de-rosa. Na sequência, apontou o dedo para o rosto da criança, gritou e tirou seu filho de perto dela.
A diretora da escola, uma mulher de 69 anos, tentou retirar o homem do local e também foi agredida. A Guarda Civil Municipal (GCM), então, foi acionada pela equipe da unidade de ensino e os agentes conduziram os envolvidos para a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), onde foi feito um Termo Circunstancial de Ocorrência
À polícia, o homem, que nas redes sociais costuma a postar fotos de apoio a Jair Bolsonaro e mensagens atreladas ao discurso da extrema direita, disse que o filho tem "fobia e não gosta que abracem ele" e que teria pedido para a monitora e para a diretora afastar a menina dele, mas que ninguém havia acatado seu pedido e, por isso, teria ficado nervoso.
No boletim de ocorrência consta, ainda, a informação de que o pai já havia orientado seu filho a "bater" na menina caso ela se aproximasse. Para a advogada da família da criança agredida, Lione Balta Cardozo, trata-se de um caso de racismo.
“É uma criança de 20 quilos, que acabou de entrar na escola. Nem que ela e o menino estivessem brigando, um pai teria o direito de reagir assim. A menina é doce, carinhosa, educada. Não há justificativa para tamanha violência. Essa menina vai ficar marcada para sempre”, disse a defensora ao site Campo Grande News.
O caso segue sob investigação da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente.
Em nota oficial, Secretaria Municipal de Educação (Semed) de Campo Grande informou que repudia "todo e qualquer ato de violência de qualquer natureza" e que acompanha o caso.
Confira a íntegra do comunicado:
"A Secretaria Municipal de Educação (Semed) informa que os fatos aconteceram na manhã de ontem (11), na unidade mencionada. De acordo com o que foi apurado, o pai do menino estava no portão de fora da escola e aguardava o filho entrar na sala, quando observou que a colega abraçou a criança e se dirigiu às crianças vindo a empurrar a menina a fim de afastá-la de seu filho.
Ainda conforme a direção, a GCM (Guarda Civil Metropolitana) foi acionada e acompanhou o caso, sendo que a diretora e o homem foram encaminhados à delegacia, onde o caso foi registrado e está sendo investigado pelas autoridades competentes.
A Divisão de Acompanhamento Escolar (DAE) da Semed deu todo apoio à diretora da escola e às famílias, e está acompanhamento o caso.
É importante ressaltar que a Secretaria de Educação presta apoio e solidariedade aos alunos envolvidos e repudia todo e qualquer ato de violência de qualquer natureza e contribuirá com os órgãos competentes na apuração do caso".