SÃO PAULO

Vai-Vai leva Mano Brown, Racionais, Borba Gato pichado e bota fogo nos racistas no Anhembi; vídeos

O grupo de rap foi homenageado com o samba-enredo da escola, intitulado "Capítulo 4, versículo 3 – Da rua e do povo, o hip hop: um manifesto paulistano".

Estátua pichada de Borba Gato compôs carro alegórico da Vai-Vai.Créditos: Reprodução/Instagram/@saspcarnaval
Escrito en BRASIL el

O desfile da Vai-Vai, escola de samba que abriu a noite de Carnaval, teve a participação do rapper Mano Brown e dos integrantes do Racionais MC's no sambódromo do Anhembi, em São Paulo (SP), neste sábado (10). O desfile incluiu uma réplica pichada da estátua de Borba Gato e uma mensagem clara: "Fogo nos racistas".

O grupo foi homenageado com o samba-enredo da escola, intitulado "Capítulo 4, versículo 3 – Da rua e do povo, o hip hop: um manifesto paulistano", uma referência à música "Capítulo 4, versículo 3", do álbum Sobrevivendo no Inferno, de 1997.

Mano Brown, com o mesmo figurino da bateria, puxou a agitação do samba-enredo: "Bixiga, Bela Vista na área. Chegou a hora, São Paulo", anunciou o rapper.

 Ele ainda fez alusão à música "Diário de Um Detento", do mesmo álbum, na qual narra a vida do ex-detento Jocenir Prado. A canção abre com os versos: "São Paulo, 1º de outubro de 1992, oito horas da manhã" – véspera do Massacre do Carandiru.

"São Paulo, dia 10 de fevereiro de 2024, dez e trinta da noite", disse Brown, no Anhembi.

Os demais integrantes do Racionais MC's marcaram presença no sambódromo ao desfilarem com a bateria da Vai-Vai. Edi Rock, KL Jay e Ice Blue estiveram junto de Mano Brown no desfile.

Outros grandes nomes da cultura do hip-hop paulistana foram homenageados, seja nas alegorias seja com a participação no desfile.

  • Negra Li: uma das principais mulheres no rap nacional, desfilou como Madrinha de Bateria;
  • Nelson Triunfo: dançarino de breaking e ativista social, esteve representado nos figurinos da bateria;
  • Tasha & Tracie: proeminentes nomes no rap nacional, desfilaram com a escola;
  • Glória Groove: rapper e drag queen, desfilou com a escola;
  • Isa Isaac Silva: estilista trans, desfilou com a escola
  • Banda 509-E: grupo de rap formado por Dexter e Afro-X, representado nos figurinos;

A Vai-Vai levou para a avenida uma réplica pichada da estátua do bandeirante Borba Gato, que foi incendiada em 2021. Com simulações de fogo e fumaça nos pés da estátua, o carro alegórico também exibiu a frase "Fogo nos racistas".

Em julho de 2021, a estátua foi alvo de um incêndio. Um dos acusados, o entregador de aplicativos e ativista Paulo Galo, justificou que sua ação atraiu a atenção da população a respeito da homenagem à um bandeirante que escravizou povos negros e indígenas.

Durante a semana, a Vai-Vai publicou um aviso em suas redes sociais: "Foi um colono brasileiro, bandeirante paulista, sertanista, proprietário de escravizados e descobridor de metais preciosos. Nas viagens que realizava, para explorar novas terras, os grupos indígenas encontrados pelo caminho eram assassinados, as mulheres estupradas e os sobreviventes aprisionados e vendidos como escravizados. E aí? Fogo na estrutura?".

Galo desfilou ao lado do artista Negromia e do ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, autor do livro "O que é racismo estrutural" e notório defensor da causa negra. 

Samba-enredo

A Vai-Vai é a maior campeã do Carnaval de São Paulo, com 15 títulos, sendo o último em 2015. No ano passado, a escola foi campeã do Grupo de Acesso e garantiu sua participação no Grupo Especial em 2024. Confira o samba enredo da escola:

Olha nós aí de novo, coroa de rei

Capítulo 4, Versículo 3

Vai-Vai manifesta o povo da rua

É tradição e o samba continua

 

Laroyê, axé me dê licença,

Saravá, seu Tranca-Rua

Eu não ando só, o papo é reto

E a ideia não faz curva

Renegados da moderna arte

Não faço parte da elite

Que insiste em boicotar

"Acharam que eu estava derrotado" "ooooooo"

Quem achou estava errado"

Corpo fechado, sou cultura popular

Meu verso é a arma que dispara

E a palavra é a bala pra salvar

 

Balançou, balançou o Largo São Bento

Moinho de vento, a ginga na dança

Grande triunfo do movimento

No breaking o corpo balança

 

Solta o som, alô, DJ

Que eu mando a rima pra embalar manos e minas

Na batida perfeita, meu rap é a voz

As cores da minha aquarela

No muro, a tela que o tempo desfaz

Mas apagar jamais (Vai-Vai, Vai-Vai)

A força do conhecimento

No gueto, procedimento

Atitude de gente bamba

Tem hip-hop no meu samba

 

É preto no branco, no tom do meu canto

Preconceito nunca mais

Fogo na estrutura

Justiça, igualdade e paz