Claudio Silva, ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, reagiu com indignação nesta terça-feira (3) aos dois recentes assassinatos cometidos pela Polícia Militar (PM) que chocaram todo o país.
Em um dos casos, um policial militar foi flagrado em vídeo arremessando um homem do alto de uma ponte para um rio contaminado com esgoto em Cidade Ademar, bairro da Zona Sul da capital paulista. Momentos depois, o corpo do homem foi visto boiando no rio.
Veja vídeo:
No outro, um PM à paisana executou um jovem negro com inúmeros tiros pelas costas em uma loja de conveniência Oxxo, também na Zona Sul da de São Paulo. O motivo: o jovem havia furtado quatro pacotes de sabão.
Assista:
Em nota oficial enviada à Fórum, o ouvidor da Polícia Claudio Silva afirma que ambos os casos mostram "descontrole da tropa".
"Os dois casos, com desfechos tristes e evitáveis são eloquentes quanto ao descontrole da tropa aliada à sensação de impunidade que reveste esses agentes – resta perguntar quem a outorgou, pois sabe-se que na PM a hierarquia é o principal dogma", escreve Silva.
Segundo o ouvidor, a Ouvidoria já abriu procedimento para apurar os casos, bem como acionou a Corregedoria da PM pedindo o afastamento dos policiais, as imagens das câmeras corporais dos agentes e eventuais vídeos de monitoramento interno dos locais dos fatos.
"Sabemos, entretanto, que essas medidas não estão sendo eficazes para o estancamento desse derramamento de sangue em nosso estado, fruto de uma política de morte e vingança, constantemente legitimada pela maior autoridade de Segurança Pública do Estado, que é a SSP, quando emite notas onde, nas entrelinhas, homologa comportamentos inadequados de agentes públicos que deveriam servir e proteger as pessoas", emenda Claudio Silva.
Leia a íntegra da nota:
"Na noite passada uma série de videos veiculados pela imprensa chegaram ao nosso conhecimento e dão a medida do descontrole da tropa na combalida segurança pública de nosso estado. O primeiro caso, já tratado por esta Ouvidoria, sobre a morte de Gabriel Renan da Silva Soares no estacionamento do Oxxo no Jardim Prudência, na Zona Sul da capital, em 3 de novembro, desmonta a versão oficial com os videos mostrando o jovem negro sendo executado com 11 tiros pelas costas por policial militar supostamente de folga, mas que evidentemente poderia estar ali em “bico” não oficial, o que é proibido. As investigações nos dirão o que o policial efetivamente fazia naquele local.
No segundo caso, imagens mostram um policial militar jogando um homem do alto de uma ponte na Zona Sul em São Paulo na madrugada desta segunda-feira. Os demais PMs presentes na ocorrencia, que poderiam atuar para que o inexplicável gesto não ocorresse, nada fazem no entanto.
Os dois casos, com desfechos tristes e evitáveis são eloquentes quanto ao descontrole da tropa aliada à sensação de impunidade que reveste esses agentes – resta perguntar quem a outorgou, pois sabe-se que na PM a hierarquia é o principal dogma.
Sobre o segundo caso, já determinamos abertura de procedimento no âmbito da Ouvidoria, acionaremos a Corregedoria da PM, pediremos o afastamento dos policiais, solicitaremos ainda as imagens das COP’s e de eventuais circuitos de monitoramento do local dos fatos.
Sabemos, entretanto, que essas medidas não estão sendo eficazes para o estancamento desse derramamento de sangue em nosso estado, fruto de uma política de morte e vingança, constantemente legitimada pela maior autoridade de Segurança Pública do Estado, que é a SSP, quando emite notas onde, nas entrelinhas, homologa comportamentos inadequados de agentes públicos que deveriam servir e proteger as pessoas.
Veja-se, por exemplo, o caso do pequeno Ryan de 4 anos, que nessa semana completa 1 mês, onde o porta voz da PM, ao admitir que a criança foi alvejada pela PM, defende absurdamente a redução da maioridade penal. Já no caso do estudante Marco Aurélio, ocorrido na Vila Mariana, a nota da SSP inicialmente disse que o jovem investiu contra os PMs, algo desmentido posteriormente pelas imagens do estabelecimento comercial. Tudo isso vai construindo na subjetividade desses policiais uma sensação de que estão protegidos e “garantidos” por quem deveria exigir deles a boa prestação de serviço público.
Diante de tudo isso, há ainda por parte da Secretaria de Segurança a montagem de uma Ouvidoria paralela, ferindo a lei, a austeridade e o bom-senso, enquanto a tropa segue descontrolada, colocando a vida dos cidadãos, culpados ou inocentes em permanente risco.
São Paulo, 03 de dezembro de 2024
Prof. Claudio Silva
Ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo".
PM arremessa homem de ponte
A Polícia Militar (PM) de São Paulo, estado governado pelo bolsonarista Tarcísio Gomes de Freitas, protagonizou mais uma cena estarrecedora na madrugada desta segunda-feira (2). Um policial militar, com o auxílio de outros três agentes, arremessou um homem do alto de uma ponte para um rio contaminado com esgoto em Cidade Ademar, bairro da Zona Sul da capital paulista.
A ação criminosa foi registrada em vídeo. Nas imagens, é possível ver um dos PMs levantando uma moto caída no chão, enquanto outro agente surge segurando um homem de camiseta azul. Na sequência, o policial empurra o homem da ponte. Outro vídeo que circula nas redes sociais mostra o corpo de um homem com uma camiseta azul boiando no rio sob a ponte.
O caso gerou indignação. De acordo com a Polícia Militar, os agentes envolvidos pertencem ao 24º Batalhão da PM de Diadema e teriam perseguido o homem de camiseta azul até o local do ocorrido, em Cidade Ademar.
Até o momento, a identidade do homem arremessado pelos policiais não foi divulgada, e não há confirmação sobre seu paradeiro ou se o corpo visto no rio é de fato o dele.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) declarou que "a Polícia Militar repudia veementemente a conduta ilegal adotada pelos agentes públicos no vídeo mostrado. Assim que tomou conhecimento das imagens, a PM instaurou um inquérito policial militar (IPM) para apurar os fatos e responsabilizar os policiais envolvidos nessa ação inaceitável".
PM executa homem negro com tiros pelas costas
Um policial militar à paisana foi flagrado executando, com tiros pelas costas, um jovem negro que havia furtado quatro pacotes de sabão em uma unidade da loja de conveniência Oxxo, localizada no bairro Jardim Prudência, Zona Sul de São Paulo. O caso ocorreu no dia 3 de novembro, mas as imagens das câmeras de segurança que corroboram a denúncia da família, indicando que a vítima foi executada, só vieram à tona nesta segunda-feira (2).
As imagens mostram Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, entrando na loja, dirigindo-se à seção de limpeza e pegando os pacotes de sabão. Em seguida, ele tenta fugir, mas escorrega em um pedaço de papelão na porta do estabelecimento e cai no estacionamento.
Nesse momento, o policial militar Vinicius de Lima Britto, que estava no caixa da loja, saca sua arma e dispara repetidamente contra Gabriel, atingindo-o pelas costas. A vítima morreu no local após ser alvejada por 11 tiros.
Em depoimento, o PM afirmou que agiu em legítima defesa, alegando que Gabriel teria sacado uma arma. Contudo, as imagens desmentem essa versão, mostrando o policial atirando logo após o jovem escorregar, sem que houvesse qualquer diálogo ou sinal de ameaça. As gravações também contradizem a alegação do policial de que teria dado voz de prisão antes dos disparos.
"Está comprovado que a gente estava certo e ele mentiu em depoimento, porque ele diz que apresentou voz de prisão. Porém, quando ele [Gabriel] escorrega, ele já saiu atirando [...] Ele é um assassino", declarou Fátima Toledo, advogada da família da vítima.
O vídeo que evidencia a execução foi divulgado pelo rapper Eduardo Taddeo, tio de Gabriel, que desde o ocorrido vinha denunciando o caso publicamente.