TENTATIVA DE GOLPE

Gilmar Mendes teria sido monitorado por militares em voo vindo da Europa

Ministro do STF foi fotografado no trajeto e homem que se comunicava com o general Mario Fernandes, apontado como líder dos golpistas, estava no mesmo avião

Foto de Gilmar Mendes, no aeroporto de Lisboa, tirada por investigado pela PF.Créditos: Reprodução
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Um relatório da Polícia Federal, produzido no âmbito da Operação Contragolpe, revelou um elemento inusitado nas comunicações analisadas: uma foto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, capturada no aeroporto de Lisboa, em novembro de 2022. O registro foi enviado pelo coronel Reginaldo Vieira de Abreu, chefe de gabinete do general da reserva Mario Fernandes, a este último. Fernandes é investigado sob suspeita de participação em articulações antidemocráticas.

O documento descreve a foto como "um achado relevante no contexto dos fatos sob apuração", destacando que foi tirada durante o embarque de Mendes no voo TAP 0059, que partiu de Lisboa para Brasília, no dia 20 de novembro de 2022. Reginaldo estava na mesma aeronave e, de acordo com o relatório, é o provável autor do registro.

O contexto da viagem

A análise da Polícia Federal indica que Reginaldo Vieira de Abreu fazia parte de uma comitiva oficial da Presidência da República enviada a Portugal para participar de eventos técnicos, como o workshop “Cibercrime e Transformação Digital”, além de visitas institucionais. Apesar da justificativa formal para sua presença, o relatório questiona sua real função na missão, já que ele não tinha vínculo direto com a Secretaria Especial de Modernização do Estado, responsável pela organização da viagem.

O relatório detalha que a autorização para a viagem de Reginaldo foi concedida pelo próprio general Mario Fernandes, então já envolvido em articulações suspeitas. Além disso, a Polícia Federal aponta que o envio da foto de Gilmar Mendes ocorreu dentro de um contexto de mensagens trocadas entre os dois investigados sobre estratégias e articulações políticas.

Trechos do documento mostram a preocupação da PF com o conteúdo:

"Dando continuidade à presente investigação, foi identificada mídia que guarda relevância no contexto dos fatos sob apuração. [...] O coronel teria viajado para Lisboa em 13/11/2022, conforme apontam os registros migratórios."

Além disso, os investigadores reforçam a coincidência entre a presença de Reginaldo no voo e o envio da imagem, sugerindo uma possível intenção de monitoramento:

"Nesse sentido, é primordial observar que no mesmo dia 20/11/2022, o ministro GILMAR MENDES retornou da cidade de Lisboa (Portugal) para Brasília, no voo 0059 da companhia TAP [...] É provável que a fotografia tenha sido feita por REGINALDO durante o embarque, no aeroporto de Lisboa, e enviada para MARIO."

Outros elementos da investigação

O relatório da Polícia Federal contextualiza que a viagem foi oficialmente registrada como parte de compromissos institucionais, mas mensagens recuperadas indicam que as ações de Reginaldo podem ter ido além das suas funções formais. Em um áudio enviado por Mario Fernandes, o general menciona o esforço para “forçar o retorno” de um “presidente” ao cenário político, sugerindo articulações paralelas que incluem encontros restritos a pequenos grupos, chamados de “Petit comité”.

Além disso, outras mensagens transcritas no relatório mostram diálogos que mencionam movimentos estratégicos e mobilizações, mas não detalham diretamente ações relacionadas à fotografia de Gilmar Mendes.

A relevância do achado

O relatório classifica a foto como um elemento que pode ter implicações relevantes para a investigação. Embora não afirme categoricamente que houve monitoramento intencional de Gilmar Mendes, o documento indica que o envio da imagem, dentro do contexto das comunicações entre os investigados, pode ser parte de uma estratégia mais ampla.

“Diante de todos os elementos observados na análise das comunicações, julgou-se pertinente registrar o envio da imagem supracitada para fins de eventual providência, caso necessária.”

A Polícia Federal destaca que a análise não é conclusiva e que novos desdobramentos poderão ser solicitados pela autoridade policial responsável.

Por que isso importa?

O envolvimento de militares em ações suspeitas, especialmente no contexto de investigações sobre ataques à democracia, levanta questionamentos sobre o alcance dessas articulações. A inclusão da foto de Gilmar Mendes nas comunicações dos investigados sugere que figuras-chave do Judiciário podem ter sido alvos de vigilância, o que adiciona um componente sensível às apurações em curso.

Esse caso reforça os desafios enfrentados pelas autoridades na investigação de redes complexas, que aparentemente envolveram tanto civis quanto membros das Forças Armadas em atividades suspeitas. O relatório indica a necessidade de aprofundar as investigações para compreender o real objetivo por trás do envio da foto e de outras ações documentadas.

Enquanto isso, os investigadores seguem mapeando as comunicações e atividades dos envolvidos, com a possibilidade de novos desdobramentos sobre o caso nos próximos meses.

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