Morreu na manhã desta quinta-feira (3) em Petrópolis, Rio de Janeiro, por complicação de uma pneumonia, aos 97 anos, Cid Moreira, o homem que foi a voz do Jornal Nacional de 1969 a 1996.
Hoje, quando a audiência do JN não é mais o que foi, quando chegava a bater 70% das TVs ligadas (hoje está em torno de 23%), as pessoas não têm dimensão do poder da voz de Cid Moreira.
Tive a oportunidade de trabalhar com ele diversas vezes em gravações de comerciais aqui no Rio de Janeiro.
Cid era divertido, gostava de bater papo e era curioso ouvir uma piada, por exemplo, da boca da voz do Jornal Nacional.
Ele era muito ciente de sua popularidade e se orgulhava disso de uma maneira peculiar. Algumas vezes, quando encontrava alguém que trabalhava na Globo como ele, perguntava quanto a pessoa estava ganhando. A pessoa respondia e ele falava com aquele vozeirão o salário dele, evidentemente muuuuiiito maior.
Não era para diminuir a pessoa, mas para mostrar que ele era valorizado.
A fama de Cid Moreira acabou me fazendo vítima involuntária dele.
O dia em que o JN anunciou meu atraso
Aconteceu na época do auge do JN. Eu estava atrasado e entrei correndo num elevador lotado, daqueles em que cabem dezenas de pessoas. Quando a porta se fechou atrás de mim e eu tentava me ajeitar em meio ao aperto, uma voz tonitruou lá do fundo do elevador:
— Chegando atrasado, hein, Mello...
Era o Jornal Nacional (Cid Moreira) anunciando meu atraso, lá do canto do elevador.
Todos olharam para onde ele estava e caíram na gargalhada, enquanto ele sorria, sacana.
Mas houve uma outra vez em que aquela voz tão famosa foi obrigada pela Justiça a ler um texto que não gostaria de ler, como ele mesmo afirmou em entrevista:
"Também um sobre o Brizola, que teve direito de resposta. O que era contra ( o que a emissora defendia ), eu não dava vida, falava monocordicamente, sem enfatizar nada."
Foi em 15 de março de 1994, quando Cid leu um direito de resposta de Leonel Brizola contra Roberto Marinho, fundador e presidente da Rede Globo.
O texto histórico, escrito pelo jornalista Fernando Brito, que era assessor de Brizola, foi atravessado pela leitura mais fria possível de Cid, que mesmo assim não conseguiu abafar a força do texto histórico.
Siga o perfil da Revista Fórum e do escritor Antonio Mello no Bluesky