Numa entrevista ao jornalista Juca Kfouri na TVT, o sociólogo Jessé Souza criticou a falta de política de comunicação do governo Lula na disputa ideológica e diretamente a mídia corporativa, que ele afirma ser "igual à da Coreia do Norte":
"Ela tem uma mensagem só há 100 anos, que é a mensagem do mercado."
Jessé critica o governo por utilizar a mídia corporativa e alimentá-la com verbas, sem fazer a disputa ideológica nem incentivar uma mídia de esquerda:
"É como se não houvesse um aprendizado, entende? Você leva um tacape na cabeça e você não aprende, e você continua confiando que a Rede Globo, a GloboNews e tal, vai salvar. É óbvio que você vai levar uma cacetada de tacape depois, entendeu? Então você não construiu nenhuma mídia alternativa. A grande questão política é você disputar as ideias hegemônicas. Se são as ideias que mandam na gente, então você tem que disputar essas ideias que vão mandar na sociedade como um todo. E a esquerda em geral, e todas as forças democráticas, não fazem mais isso. Agora o que eu acho desesperador, Juca, é que não encontro sequer pessoas que tenham consciência de que essa é a questão principal. Aí você dá o Ministério das Comunicações pro Centrão, porque você acha que não vale muita coisa e pode usar como moeda de troca e tal, entendeu?"
O sociólogo tem uma resposta pronta para aqueles que dizem que se o governo do presidente Lula passar a usar os meios de comunicação e incentivar a mídia alternativa será acusado de agir como Hugo Chávez e outros governo tidos por ela como autoritários:
"Tem um ótimo argumento contra essa crítica, entendeu? Porque a nossa imprensa é igual à da Coreia do Norte. Ela tem uma mensagem só há 100 anos, que é a mensagem do mercado. Hoje em dia são os bancos que dizem. Todos os órgãos da nossa grande imprensa são newsletter de bancos, sem exceção. Ou seja, isso é uma ditadura, só que é uma ditadura do mercado. E você pode explicar para as pessoas. As pessoas foram imbecilizadas no nosso país, mas elas nasceram inteligentes, continuam inteligentes. Essa inteligência tem que ser estimulada, mas aí não se compra a briga. Se você vai perder uma briga, é da vida, é do jogo, percebe? Mas você sequer brigar... Esse é o meu desespero, entende? Não existe nenhum projeto para isso, é um deserto completo."
Em sua conversa com Juca Kfouri, Jessé fala do livro, de sua pesquisa para escrevê-lo, do Brasil atual com o crescimento da extrema direita no país e o que podemos fazer para combatê-la.
"O pobre de direita"
"O pobre de direita: A Vingança dos bastardos", de Jessé Souza, é um livro que põe no alvo um dos debates atuais mais acalorados. Afinal, o aumento do apoio popular à extrema direita é um fenômeno recente que, a partir de 2018, mudou completamente o panorama das corridas eleitorais no Brasil. No entanto, como explicar essa adesão repentina? Por que boa parcela das classes empobrecidas aderiu às pautas da extrema direita justamente no momento histórico em que houve uma melhora significativa das condições de vida? O que justifica o apoio dos mais pobres a políticos que retiram direitos e benefícios?
Para responder a essas questões, Jessé Souza se concentra em dois grupos – o branco pobre e o negro evangélico – como modelos desse engajamento. Ao ouvir diretamente as reclamações das pessoas de tais grupos, o sociólogo nos faz perceber, por exemplo, como as demandas racistas da maioria populacional branca da região Sul e do estado de São Paulo passam também a ser defendidas pela população racializada, que, muitas vezes, sofre forte influência dos segmentos evangélicos que apostam na dominação política. Por esse caminho, Jessé Souza propõe uma interpretação inédita e mais profunda do Brasil, na qual o novo arranjo conservador, que alimenta a extrema direita, se revela além das demandas econômicas ou da pauta dos costumes.
É por dentro dessa colcha de identificações, estratificações sociais, fervor religioso, diferenças regionais e imaginação política que o autor reflete sobre as principais causas da “vingança dos bastardos”. Assim, torna-se possível examinar, de fato, como pensam esses grupos sociais ressentidos que passaram a se organizar nas sombras da principal promessa da Constituição Cidadã – a construção de um Brasil democrático, justo e igualitário, sem discriminações e com garantias universais.
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