Considerada desde o início a disputa mais nacionalizada, as eleições municipais em São Paulo chegam na reta final do primeiro turno com uma participação discreta dos dois líderes da polarizada batalha política nacional, mas com forte atuação nos bastidores.
Lula vai embarcar na campanha de Guilherme Boulos (PSOL) nesta quarta-feira (2) em uma live transmitida às 20h nas redes sociais do candidato do campo progressista.
Além da live para gerar cortes para as redes sociais nos últimos dias de campanha, o presidente ainda colocou na agenda um passeio com Boulos pela avenida Paulista no sábado (5), véspera da votação.
A caminhada com Lula tem como objetivo movimentar as redes de Boulos um dia após o debate na Globo e dois dias depois do fim das campanhas no rádio e na TV, que se encerram nesta quinta-feira (3).
Bolsonaro dividido
Com rejeição acima de 60% na capital paulista e obrigado a apoiar Ricardo Nunes (MDB) em uma costura feita pelo presidente do PL, Valdemar da Costa Neta, Jair Bolsonaro (PL) abandonou o atual prefeito e escalou aliados próximos na campanha de Pablo Marçal (PRTB), com intenção de manter o ex-coach sob suas asas dentro da ultradireita neofascista.
O mal-estar está evidente dentro da campanha de Nunes, que diz ter convidado o ex-presidente para agendas na capital paulista enquanto bolsonaristas dizem que o atual prefeito esnobou o apoio e sequer falou com o presidente na reta final da campanha.
Bolsonaro vai se concentrar em apoios no interior paulista, especialmente no Vale do Paraíba, onde cumpre agenda nesta terça-feira (1º) ao lado de seus candidatos em São José dos Campos, Taubaté e Guaratinguetá - todos do PL.
Enquanto isso, o ex-presidente colou aliados próximos em Marçal, já que as pesquisas apontam a possibilidade do ex-coach superar Nunes e chegar ao segundo turno contra Boulos.
Como a Fórum revelou, Fabio Wajngarten estaria dando conselhos para Marçal trucidar Nunes no debate da Globo.
"Debate da Globo, 20 pontos de audiência, 36 horas antes da eleição, primeira pergunta o Marçal “ô prefeito, o senhor bate na sua esposa de mão aberta ou de mão fechada?”... Acabou, é isso", diz o ex-Secom e um dos mais próximos assessores de Bolsonaro em áudio revelado pela Fórum.
Outro bolsonarista fiel, que era a primeira escolha de Bolsonaro para a disputa na capital paulista, Ricardo Salles (Novo-SP) vai promover um beija-mão de Marçal a empresários aliados do ex-presidente na capital paulista nesta terça-feira (1º).
Salles confirmou à jornalista Monica Bergamo que o encontro ocorre, segundo ele, a pedido dos empresários diante da possibilidade do ex-coach ir ao segundo turno.
O encontro gerou a especulação de um racha na base bolsonarista, com o lançamento da candidatura de Marçal à Presidência em 2026 tendo Salles como vice.
No entanto, o ex-ministro do Meio Ambiente - que prometeu "passar a boiada" na legislação ambiental - segue firme ao lado de Bolsonaro, que ainda alimenta esperança de reverter a inelegibilidade.
"O meu candidato já está definido: é Jair Bolsonaro", disse Salles, que segue fiel escudeiro do ex-presidente, sobre 2026.
A articulação bolsonarista ainda conta com Nikolas Ferreira (PL-MG), que traiu Nunes após realizar uma "consultoria" de redes sociais ao prefeito.
De Minas, Nikolas, um dos quadros mais próximos do clã Bolsonaro, teria dado aval para o ex-coach usar um vídeo em que ele diz que “prefere dar uma chance para a dúvida [Marçal]” porque “não dá para engolir esse cara [Nunes]”.
No vídeo, o deputado extremista diz que o entorno de Nunes agrega “um bando de vagabundos que sempre lutaram contra a gente [direita]” e que Marçal “não está sendo apoiado pelo sistema”.
O flerte entre os dois gerou revolta entre bolsonaristas que seguem na campanha de Nunes, em apoio ao coronel Mello Araújo - escalado pelo ex-presidente como vice. No entanto, Nikolas teria agido sob ciência de Bolsonaro, que não se opôs à aproximação.