A Polícia Civil de São Paulo informou, nesta quinta-feira (4), que o corpo encontrado em uma represa na cidade de Natividade da Serra, que fica entre Paraibuna e Salesópolis, não tem relação com o helicóptero que desapareceu na região no dia 31 de dezembro.
As buscas estão concentradas exatamente na área onde o cadáver foi encontrado. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) afirmou em nota, entretanto, que "não há nenhum indício de que este episódio tenha qualquer relação com o desaparecimento do helicóptero".
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O mistério continua. Apesar das autoridades descartarem a relação entre o corpo e o helicóptero, moradores da região afirmam ter visto a aeronave sobrevoando a represa em que o cadáver foi encontrado pouco antes de desaparecer.
De acordo com informações preliminares fornecidas pelo Corpo de Bombeiros, o corpo foi identificado pelos residentes de Natividade da Serra como sendo de um morador local que estava desaparecido. Já no que diz respeito à aeronave desaparecida, os quatro ocupantes são originários da cidade de São Paulo.
A Força Aérea Brasileira e a Polícia Militar de São Paulo encerraram, nesta quinta-feira (4), o quarto dia de buscas pelo helicóptero, que partiu do Campo de Marte, na capital paulista, em 31 de dezembro, rumo a Ilhabela, no litoral do estado, e seus tripulantes. Até o momento não foi encontrado qualquer vestígio.
Helicóptero desaparecido: o que se sabe até agora
O piloto do helicóptero que desapareceu ao sair de São Paulo com destino à Ilhabela, no último domingo (31), relatou mau tempo e dificuldades na serra momentos antes da aeronave desaparecer.
Em um áudio obtido pela TV Bandeirantes do Vale do Paraíba, em São Paulo, o piloto relata as condições de voo ao controlador do heliponto de Ilhabela.
Às 14h42, o piloto, identificado como Cassiano Tete Teodoro, de 44 anos, fez a primeira ligação.
- Piloto: Oi Jorge, não estou conseguindo cruzar.
- Jorge: Cancelou?
- Piloto: Eu vou para a Fazendinha (Fazenda Serra Mar), mas não consigo cruzar, está tudo fechado, está “polado”.
- Jorge: Poxa vida, deixa eu ver se tem algum buraco aqui.
- Jorge: Vai ficar na linha? Estou indo lá.
- Jorge: Demorou para fazer o voo né. Tem um buraco aqui. Cassiano, Cassiano, Cassiano, tem um buraco aqui em cima do heliponto. Cassiano, alô? Alô, Cassiano.
- Piloto: Oi, Jorge.
- Jorge: Tem um buraco em cima do heliponto. Vem por cima.
- Piloto: Está bom.
- Jorge: Está bom, tchau.
Um tempo depois, às 14h49, ele faz outro contato com o heliponto.
- Piloto: Oi, Jorge. Está tudo embolado aqui, não vai dar certo.
- Jorge: Mas vem por cima. Tem um put* buraco aqui.
- Piloto: Mas aqui onde eu estou não tem condição de subir.
- Jorge: Por quê?
- Piloto: Porque não dá para subir, está tudo ‘polado’. Estou com o 44.
- Jorge: Mas não dá para passar por cima da camada?
- Piloto: É, se tivesse, está tudo polado aqui, não consigo ir por cima da camada.
- Jorge: Aqui está um tempo bom meu. O tempo está ótimo.
- Piloto: Não consigo cruzar a serra.
- Jorge: Eu digo por cima, não por baixo.
- Piloto: Eu sei, por cima que eu não consigo subir.
- Jorge: Mas acha um buraco aí, você sobe e vem para cá. Tem um put* buraco.
- Piloto: Se eu achar eu vou. Tem gasolina ai, né?
- Jorge: Gasolina, não. O táxi está esperando.
- Piloto: Está bom, obrigado.
Às 14h45, eles fazem o último contato, quando o piloto afirma que “vai por cima”.
- Piloto: Jorge eu vou tentar ir por cima.
- Jorge: Você viu a imagem que eu mandei?
Às 15h13, Jorge tenta fazer uma nova ligação, mas não tem sucesso. Ele também tenta pelo rádio, mas não tem resposta.
Pouso de emergência
Uma troca de mensagens entre a passageira Letícia Ayumi Rodzewics e o namorado permitiu identificar que o helicóptero chegou a fazer um pouso de emergência.
“Tempo ruim. Não dá para passar. Medo”, diz a primeira mensagem. Em seguida, o namorado pergunta onde ela está, e Letícia responde: "Sei lá, amor. Tô parada no meio do mato”.
A jovem também afirmou que eles ainda estavam tentando entrar em Ilhabela, mas que iriam voltar para a capital. Nesse momento, ela enviou um vídeo mostrando o mau tempo. Esse foi o último contato da jovem.
Piloto já teve licença de voo cassada
De acordo com a a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Cassiano já foi pego em uma fiscalização no aeroporto Campo de Marte, em 2019. No episódio, ele chegou a jogar a aeronave contra um contra um servidor da Anac. As informações foram apuradas pelo site G1.
Em 2021, a diretoria da Anac cassou sua habilitação devido a conduta grave de fraude e irregularidade. Para o órgão, a cassação de licença é a pena mais grave, com duração de dois anos. O piloto também deve realizar todos cursos formativos novamente.
Após o período da pena, Cassiano retomou sua habilitação em 2023. Porém, ele não tem permissão para fazer voo remunerado, que seria o táxi aéreo. Se o voo realizado por Cassiano no domingo (31) tiver sido remunerado, ele poderia responder como Transporte Aéreo Clandestino (TACA).
Além disso, o helicóptero usado no voo também não tem permissão para fazer voo remunerado.
Familiares
A avó de Letícia, Neuza Maria Rodzewics, relatou, em entrevista à TV Globo, que estão tentando fazer contato com as duas desde o desaparecimento. “O pai da Letícia falou que o telefone dela começou a chamar, mas estamos tentando e só dá caixa postal. O da minha irmã (Luciana) está ativo, chama, chama e ninguém atende”, disse.