Na tarde da última quinta-feira (21), o Movimento Brasil Livre (MBL) tentou contrariar a greve geral dos estudantes da Universidade de São Paulo (USP). Durante à tarde, um grupo com quatro integrantes se infiltrou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) para desmontar o piquete no instituto. Com a chegada dos estudantes para controlar o local, o MBL fugiu.
A FFLCH foi alvo do coletivo de extrema direita enquanto um ato estudantil saiu da Reitoria em direção ao Instituto de Matemática e Estatística (IME), onde um professor tentou aplicar uma avaliação para a turma, segundo fontes da Fórum.
O primeiro dia de greve da USP
De acordo com calendário proposto pelo corpo estudantil junto ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) Livre da USP, a quinta-feira se iniciou com um bloqueio – denominado trancaço – das vias próximas ao Portão 1 da universidade, às 6h.
Outras atividades foram realizadas, como a aula pública em frente à Reitoria, sob gritos de "Que contradição, tem dinheiro para a polícia, mas não tem para educação!" e "Nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu; aqui está presente o movimento estudantil".
Em seguida, os estudantes se concentraram no ato junto às baterias universitárias, que depois de garantir seu objetivo no IME, retornou pela Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design (FAUD) e desembocou na Escola de Comunicações e Artes (ECA). A manifestação contou com mais de mil pessoas, segundo o DCE.
Na Prainha – nome dado à praça – da ECA, o movimento estudantil da USP se reunirá nesta sexta-feira (22) em nova Assembleia Geral dos Estudantes para deliberar a continuidade da greve e definir o calendário da próxima semana.
Os estudantes abriram as grades da Prainha na noite de quinta-feira, reivindicação dos estudantes desde sua implantação em 2017. A autonomia do espaço da Prainha, as grades em um espaço público e o fechamento do local após 21h30 são pontos levantados pelos estudantes da ECA, com um histórico de anos.
As negociações com a USP
Durante a manhã, a Reitoria da USP reconheceu a greve geral instaurada e se reuniu com os estudantes do DCE e os Centros Acadêmicos (CA) para definir a data da mesa de negociação e os eixos de prioridade: contratação de professores, permanência estudantil e Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH). O reitor Carlos Carlotti Júnior não compareceu à reunião.
A aprovação do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE) 2024, liderado pelos estudantes da EACH, também seguirá como tema da mesa de negociação.
O próximo encontro, a mesa de negociação única, deve ser realizado até a próxima quinta-feira (28), entre os assinantes da carta de acordo: Edmilson Freitas (Chefe do gabinete do Reitor da USP); Davi Barbosa (DCE Livre da USP); Karen Rezende (CA de Geografia); Giulia Baffini (CA de Marketing-EACH); Sofia Roche (CA de Ciências Sociais); Danielly Oliveira (CA de Comunicações e Artes); Camila Seebergts (CA de Educação) e Francisco Napolitano (CA de Letras).
"É importante destacar que a reunião ter sido feita no primeiro dia de greve significa duas coisas: a Reitoria vê que a greve tem grande adesão e tem se ampliado, e faz com que eles [funcionários da Reitoria] precisem dialogar; e também foram identificados os temas mais latentes", afirmou Davi Barbosa, diretor do DCE Livre da USP.
"Semana que vem vai se abrir essa mesa de negociação. A Reitoria propôs o método de grupos de trabalho (GT), uma forma de desmobilizar a greve porque dividindo as pautas em GTs – cada um com seu tempo de atuação – seria um meio de esfriar a mobilização. Sendo uma mesa de negociação única, a partir de um calendário do movimento [estudantil], ganhamos força para impor mais vitórias diante da Reitoria".
O MBL na USP
Esta não é a primeira vez que o grupo se injeta na USP: em 17 de agosto, o youtuber e suplente no cargo de deputado estadual Lucas Pavanato (PL), que integrou o MBL anteriormente, foi à FFLCH com intenção de gravar um vídeo. Ao receber pedidos dos estudantes para se retirar, seu segurança sacou uma arma de fogo e apontou aos alunos.
O segurança do youtuber de 25 anos é Marcelo Ferreira, um agente da Guarda Civil Municipal (GCM) de São Paulo. Ambos foram expulsos da faculdade pelo movimento estudantil, que os identificou e bradou: "Recua, fascista!".
Ao contrário de outros membros do MBL que apanharam em universidades federais, Pavanato foi expulso sem sofrer agressões. Já o segurança teve a arma apreendida. O caso foi registrado na Polícia Civil como lesão corporal e ameaça – dois jovens ficaram feridos.