Na noite do último sábado (17) uma mulher de 23 anos foi morta a tiros de fuzil por um agente da Polícia Rodoviária Federal durante uma abordagem na Rodovia Washington Luiz, chegando no Rio de Janeiro. Nesta segunda-feira (19), Alexandre Roberto Ribeiro Mello (32), marido da vítima, falou com a imprensa e revelou detalhes do ocorrido.
“Foi um assassinato. Ele descarregou o fuzil todo no carro. Os furos estão lá, os tiros estão todos no meu carro. Foi execução”, afirma. Ao todo, foi apurado que os agentes dispararam 10 tiros.
Por volta das dez da noite, Alexandre e sua companheira Anne Carolne Nascimento Silva, de 23 anos, voltavam para casa do jantar em que comemoraram 7 anos de relacionamento, quando foram abordados pela PRF próximos de uma saída para a Linha Vermelha.
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Segundo Alexandre e a família de Anne, o casal parou para os policiais que, mesmo assim, agiram com crueldade e atiraram contra o casal. Ele conta que quando viu a ordem de parada estava na pista central da rodovia e, então, deu seta para a direita e se preparava para parar o carro quando começaram os tiros. Anne foi atingida antes mesmo que ele pudesse parar o carro.
“Eles desceram e entraram em desespero, todos eles. Me culparam como se eu tivesse apertado o gatilho. ‘A culpa é sua, seu merda’, disseram. Me xingaram de um monte de coisas”, relata.
Alexandre explica que em seguida os próprios agentes conduziram o seu veículo até o hospital. No trajeto, Anne pediu para não morrer. “Minha esposa faleceu, ela não volta mais. Eu quero justiça contra ele. Vou até o final para ela ter a justiça merecida. Errou tem que pagar, matou tem que ser preso”, desabafou.
A versão dos agentes
Os agentes contestam a versão e alegam que Alexandre não obedeceu a ordem de parada.
De acordo com a versão dos os agentes, havia chegado a informação de que um carro estava em alta velocidade fazendo manobras perigosas na pista. Eles então se prepararam para a abordagem e, quando deram a ordem, o motorista teria jogado o veículo em cima da viatura e tentado fugir.
Em depoimento à PF, o agente Thiago da Silva de Sá afirma que disparou oito tiros na direção do pneu do carro. Também alega que ouviu tiros, ainda que não tenha explicado melhor esse detalhe da história, e que por isso se preparou para uma abordagem "de risco". Foi ele que disparou contra o veículo e atingiu de forma fatal a jovem. Em choque, o motorista então teria parado e saído do veículo, anunciando que sua companheira tinha sido atingida.
O agente que fez o disparo foi preso e levado para a sede da Polícia Federal na capital fluminense, onde passou por audiência de custódia no último domingo (18) e foi liberado. Ele está afastado das suas funções e deve responder ao processo em liberdade.
Atendimento à vítima
Anne foi levada às pressas para o hospital Getúlio Vargas, no bairro da Penha, localizado na Zona Norte do Rio, mas não resistiu aos ferimentos. A vítima era estudante de enfermagem e trabalhava vendendo celulares. “Era uma jovem cheia de sonhos”, disse Janete Bezerra do Nascimento, tia da vítima, ao jornal O Globo.
A PF informou em nota que instaurou inquérito para apurar os fatos e que já notificou a corregedoria da PRF.
Outra vítima
A ação da PRF deixou outra vítima no mesmo horário e local. O casal José Vitório e Cláudia Maria da Silva dos Santos voltava de uma festa de aniversário quando foi surpreendido pelos disparos. Sem ter muito para onde ir, aceleraram para passar o mais rápido possível por ali e chegarem a uma área segura. Mas uma das balas atingiu o veículo, de trás para frente, e atravessou o corpo da mulher de 54 anos.
Por sorte, conta José Vitório, uma ambulância passava por ali naquele momento e prestou socorro. Cláudia segue internada em um Centro de Tratamento Intensivo (CTI) e apresenta quadro estável. Médicos disseram que foi um milagre a vida de Cláudia ter sido salva, uma vez que por poucos centímetros a bala disparada pela PRF não lhe acertou o coração.