CRIMES AMBIENTAIS

Pecuaristas convocam bancadas da bala e bíblia contra operação no Pará

A Operação Curupira visa combater crimes ambientais no estado e já deu os primeiros resultados: três garimpos desativados e maquinário apreendido na APA Triunfo do Xingu

Pecuaristas convocam bancadas da bala e bíblia contra operação que combate crimes ambientais no Pará.Créditos: Fórum Filmes/Reprodução
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A operação permanente do governo do Pará contra crimes ambientais, batizada de Curupira, deu os primeiros resultados: três garimpos foram desativados e maquinário apreendido na Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu.

A Fórum acompanhou o início da ação e a Fórum Filmes produziu um mini-doc, que está no ar em nossa página no YouTube.

Neste sábado (25) a segunda frente da operação será instalada no município de Uruará. Em março, uma base será instalada em Novo Progresso.

O Pará é o primeiro estado da Amazônia a lançar uma ação permanente do gênero, em linha com a prioridade ambiental do governo Lula.

Belém, a capital do Estado, foi formalizada como candidata brasileira a sediar a COP 30, em 2025.

O Pará é campeão de desmatamento e um triângulo de território entre Uruará, São Félix do Xingu e Novo Progresso, conhecido como o mosaico da Terra do Meio, está sob enorme pressão da pecuária, da soja, do garimpo e de madeireiros.

O mosaico representa 6% do território do Pará e reúne de forma contígua APAs estaduais, unidades de conservação federais e terras indígenas.

A operação do governo do Pará, batizada de Curupira, é comandada pelas secretarias estaduais de Meio Ambiente e Sustentabilidade e de Segurança Pública e Defesa Social.

Pela primeira vez, as bases permanentes contarão com apoio aéreo para destruição de pistas do garimpo e cobertura aos agentes policiais e ambientais.

Em São Félix do Xingu, eles estão instalados num vilarejo dentro da APA do Triunfo, onde moram cerca de 2 mil famílias.

Uma equipe com explosivos faz parte da operação, para destruir maquinário que não for possível recuperar de dentro da floresta.

A Fórum apurou que, em caso de demolição de equipamento, as imagens serão resguardadas. O objetivo é impedir que criminosos ambientais façam o papel de vítimas nas redes sociais.

Porém, a reação já começou: a Associação Agropecuária dos Produtores da Terra do Meio (Xinguri) alega que abusos estão acontecendo e convocou sua base parlamentar.

São Félix do Xingu tem o maior rebanho bovino do Brasil.

Zequinha Marinho (PL), pastor da Assembleia de Deus que fez carreira de deputado pelo Pará mas se elegeu senador por Tocantins, foi um dos convocados.

O deputado federal Lenildo Mendes dos Santos Sertão, mais conhecido como Delegado Caveira (PL), e o estadual delegado Toni Cunha (PSC) também confirmaram presença num encontro com pecuaristas.

Um áudio de convocação disseminado pelo Whatsapp diz que a reunião seria “para tirar essa fiscalização da área, que está prejudicando a população de bem”. 

No dia em que a Operação foi deflagrada, a Fórum testemunhou que um advogado se apresentou na sede do quartel da PM de São Félix do Xingu dizendo representar associações de pecuaristas.

Ele queria saber antecipadamente os detalhes da operação policial sigilosa. O mapeamento dos crimes ambientais é atualizado permanentemente através de rastreamento por satélite.

Luciano de Oliveira, diretor de gestão operacional da Secretaria de Segurança Pública, disse que a diferença entre esta e operações anteriores é a mobilidade das bases, que em tese podem acompanhar criminosos ambientais que migrarem dentro de terras que cabe ao Pará vigiar — 75% do território do Estado são de competência da União.

A preocupação é evitar violência. O ponto nevrálgico será a chegada dos agentes a Novo Progresso, em março. 

Em junho de 2016, o sargento PM João Luiz de Maria Pereira, de 44 anos, foi morto numa emboscada quando dava cobertura a uma ação do IBAMA contra o desmatamento.

Em julho do ano seguinte, dois caminhões-cegonha que carregavam 16 viatuCras novas do IBAMA foram incendiadas em outra emboscada, na estrada que liga Altamira a Novo Progresso.

Na região, a Floresta Nacional do Jamanxim, com 1,3 milhão de hectares, é o principal alvo de criminosos ambientais.