RACISMO

Ypê é acusada de racismo após expor peça publicitária que associa limpeza a pessoas negras

Em 2022, família proprietária da marca chegou a doar R$ 1 milhão para a campanha de Jair Bolsonaro

Ypê gerou polêmica com colocou escultura racista em Salvador.Créditos: Reprodução/Instagram @ivetesac
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A Ypê, uma das maiores empresas fabricantes de produtos de limpeza no Brasil, foi alvo de acusações de racismo ao colocar uma escultura representando uma mão que segura um limpador multiuso em uma rua de um bairro de alto padrão em Salvador, Bahia. Após críticas apontando a representação da mão como negra, a Prefeitura de Salvador retirou a escultura.

A Secretária Municipal da Reparação (Semur), Ivete Sacramento, expressou sua satisfação com a remoção da peça em seu Instagram. Na publicação, escreveu: "Racistas em Salvador não passarão! Removida."

Após a escritora e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Bárbara Carine, compartilhar um vídeo em seu Instagram nesta terça-feira (5), com a legenda "A mão visível do racismo", o caso ganhou ampla repercussão nas redes sociais. Desde outubro, a representação da Mãozinha branca tem ganhado destaque nos anúncios da marca como parte de uma campanha para o Halloween, porém, na escultura, foi atribuída outra tonalidade à pele.

Na visão da educadora, a campanha fortalecia estereótipos ligados à escravidão, retratando as pessoas negras em um papel subalterno. Ela questionou: "O lápis cor da pele não pode ser da nossa cor... Mas a cor da pele da faxineira tem que ser a nossa, né?". A autora do livro "Como ser um educador antirracista: Para familiares e professores", ao abordar o assunto, mencionou que o monumento está localizado na "avenida Oceânica, uma área nobre da cidade" e enfatizou que "obviamente não seria a mão da dondoca branca" a segurar o produto.

"[A peça] tem uma lógica da serviçal, que reservam a mulheres negras esse papel, esse lugar. Prefeitura, dá uma olhada que isso tá feio. Ypê, tire essa p*rra da nossa cidade. Não reforce mais esse estereótipo de pessoas negras serviçais.  A gente não se coloca nesse lugar. A gente nunca se colocou nesse lugar e, mais do que nunca, a gente não permite", destacou a professora.

A Ypê se defendeu, alegando que a escultura e todas as reproduções da Mãozinha estavam em conformidade com os padrões técnicos estabelecidos pelo Instituto Addams, detentor dos direitos autorais do personagem. A empresa afirmou que o instituto interpreta a Mãozinha como a representação de uma mão masculina adulta de pele branca e aprovou todas as peças da campanha, incluindo a escultura que procurou reproduzi-la dessa maneira.

Entre os comentários da publicação, que recebeu mais de 8,5 mil curtidas, a maioria dos usuários está de acordo com o questionamento feito por Bárbara Carine. Um comentário sugeriu que a peça poderia ser uma referência à Família Addams devido ao personagem "mãozinha". No entanto, foi observado que as imagens não apresentam semelhanças.

“O personagem protagoniza uma campanha lançada em outubro na qual o Mãozinha limpa a casa da ‘Família Addams’. A ativação itinerante faz parte da ação de comunicação que contemplava além da escultura do personagem, totem eletrônico com pôster da campanha e ambientação em abrigo de ônibus. A exposição também passou por São Paulo e Campinas e já foi encerrada”, informou a Ypê em nota.

Em 2022, a família proprietária da empresa de produtos de limpeza fez uma doação de R$ 1 milhão para a campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro.