CRACK E COCAÍNA

Renato Cariani: elo com o tráfico de drogas foi libertado da prisão uma semana antes da ação da PF

Esquema já havia sido denunciado pela AstraZeneca e foi arquivado a pedido do MP-SP, que acatou a versão de Cariani. Bolsonarista fingiu surpresa na nova operação conduzida pelos agentes federais..

Renato Cariani.Créditos: Reprodução /Instagram
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Apontado pela Polícia Federal (PF) como o elo entre o influencer fitness Renato Cariani e o tráfico de drogas - que usava as substâncias químicas desviadas para produção de cocaína e crack -, Fabio Spinola foi preso em abril deste ano por suposto tráfico de drogas e deixou a cadeia há uma semana. Nesta terça-feira (12), os investigadores encontraram R$ 100 mil em dinheiro na casa dele.

De acordo com a investigação, Spinola é amigo de Cariani e operaria um esquema para tentar ludibriar os órgãos de fiscalização sobre o desvio de toneladas de solventes como o acetato de etila, acetona, éter etílico, cloridrato de lidocaína, manitol e fenacetina, todos usados para produzir cocaína e crack. 

O montante desviado da empresa Anidrol, de Cariani, daria para beneficiar cerca de 15 toneladas de droga, segundo a PF.

Para dar aparência de legalidade às transações, Spínola se colocaria como Augusto Geurra, um fictício funcionário do laboratório transnacional AstraZenaca, que denunciou o esquema em 2019.

Spínola teria criado um e-mail falso em nome da empresa e emitia notas fiscais falsas da suposta venda dos produtos para a AstraZeneca e outras farmacêuticas.

Na denúncia, a AstraZeneca informou ao Ministério Público sobre a emissão de notas fiscais no ano de 2017 referente a movimentações de produtos químicos que não reconhecia como suas.

Logo depois da primeira denúncia, a Cloroquímica também representou contra a Anidrol por conta da emissão fraudulenta de quatro notas fiscais, de abril e junho de 2017. Na ocasião, a empresa afirmou que nunca teve relações comerciais com a empresa de Cariani.

Outras farmacêuticas, como a LBS Laborasa, também denunciaram fraudes com notas fiscais emitidas pela Anidrol, empresa de Cariani em sociedade com Roseli Dorth.

"Nessa situação, nós identificamos mais ou menos 60 hipóteses fraudulentas de notas fiscais emitidas, faturadas, em que o dinheiro foi depositado para a empresa investigada e as pessoas que haviam depositado esses valores não tinham vínculo nenhum com as empresas farmacêuticas", afirmou o delegado da PF Fabrizio Galli, responsável pelas investigações.

Sem surpresas

O esquema ainda envolveria uma outra empresa, a Quimietest, que tem como sócias a esposa de Cariani e a filha de Roseli Dorth, Ana Paula Dalvino Leite.

"Há diversas informações bem robustecidas nas investigações que determinam a participação de todos eles de maneira consciente, não há essa cegueira deliberada em relação a outros funcionários, eles tinham conhecimento em relação ao que estava acontecendo dentro da empresa"", diz o delegado, rebatendo a surpresa demonstrada por Cariani.

Antes da Polícia Federal, as farmacêuticas fizeram a denúncia ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP), mas o inquérito foi arquivado há cerca de oito meses.

Na denúncia, feita pela AstraZeneca, o laboratório contou que a Receita Federal notificou a empresa por causa de dois pagamentos de R$ 212 mil em dinheiro vivo que não foram reconhecidos.

Cariani chegou a prestar depoimento ao MP-SP em 2021 e disse que foi responsável pela negociação com a AstraZeneca juntamente com sua sócia, Roseli Dorth. 

Na ocasião, ele citou que negociou a venda a Augusto Guerra - codinome de Spinola -  a respeito das vendas de componentes para a AstraZeneca e entregou trocas de e-mails com o homem que é apontado como elo com o tráfico.

Não houve sequer quebra de sigilo para apurar a existência do e-mail fictício. Em abril deste ano, o promotor Eduardo Soares Amaral acolheu a versão de Cariani, de que “falsários conseguiram estabelecer uma roupagem eficiente para ludibriar a empresa vendedora e promover a aquisição dos insumos químicos” em nome da AstraZeneca.

“Neste cenário, não há elementos viáveis a estabelecerem vínculo entre a empresa Anidrol e o desvio de produtos químicos”, afirmou o promotor, ao pedir o arquivamento do caso.