Um trambique usando o nome de uma gigante farmacêutica foi o gatilho que despertou a atenção das autoridades para o caso da empresa Anidrol, que tem como um de seus sócios o influencer fitness bolsonarista Renato Cariani, que foi alvo nesta terça-feira (12) de uma operação da Polícia Federal por suspeitas de fornecer insumos químicos para o crime organizado adicioná-los à produção de crack e de cocaína.
Em 2017, depósitos em dinheiro vivo totalizando R$ 212 mil foram feitos nas contas da Anidrol. Na hora de declarar na “boca do caixa” quem depositava os valores, a pessoa que realizava a transação deu o nome e o CNPJ da Astrazeneca. Como era de se esperar, a Receita Federal notou que a multinacional de origem anglo-sueca não declarou o dinheiro em seu imposto de renda e chamou seus responsáveis contábeis, que informaram ao fisco que aqueles valores nunca foram depositados pela empresa.
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A empresa cujo um dos donos é Cariani insistiu para a Receita Federal que aqueles valores tinham sido, sim, depositados pela Astrazeneca, fruto de uma relação comercial em que teria fornecido uma carga de cloreto de lidocaína para a gigante farmacêutica, mostrando inclusive toda a troca de e-mails com alguém que se apresentava como representante da multinacional. Só que a pessoa não era funcionária do laboratório e a Astrazeneca informou que jamais teve a Anidrol como sua fornecedora e que nunca fez pagamentos em espécie a quem quer que seja.
Sob investigação, em 2019, um responsável da área de compras da Astrazeneca disse que seria plausível que alguns dados sensíveis e privados da empresa pudessem ter sido vazados, o que supostamente poderia ter possibilitado seu uso de forma criminosa, ainda que não fosse possível dizer se a pessoa identificada como “Augusto Guerra” efetivamente havia utilizado dados ilegais do laboratório para se passar por um enviado do grupo farmacêutico.
Mas o problema maior veio quando as peças começaram a formar o quebra-cabeças. Um homem identificado como Fabio Spinola, que é amigo pessoal próximo de Cariani, foi identificado pela PF, após uma quebra de sigilo de e-mails, como sendo o sujeito que se passou pelo comprador da Astrazeneca. Para piorar a situação do influencer bolsonarista, Spinola foi preso em abril deste ano (e solto apenas recentemente, por concessão de um habeas corpus) numa outra operação da PF que mirou narcotraficantes do Paraná.