O que era para ser apenas uma lesão durante uma aula de educação física de um aluno de 12 anos da cidade de Guarujá, no litoral paulista, terminou numa tragédia há pouco mais de duas semanas. A família de Arthur Barros da Silva acusa os hospitais por onde o menino passou de negligência, já que o quadro era mais grave do que aquilo que fora diagnosticado pelos médicos que o atenderam.
Arthur fraturou o tornozelo durante as atividades físicas da escola, mas a situação aparentemente não era de gravidade. Após dois duas com dores e inchaço, seus responsáveis o levaram à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Rodoviária, momento em que um primeiro diagnóstico equivocado teria sido dado. “A UPA liberou o meu sobrinho avisando que não tinha fratura, que era uma simples luxação”, contou a tia do garoto, Fabiana Barros Santana, ao portal g1.
A criança seguiu com muitas dores e inchaço no local da pancada e precisou ser levado à mesma UPA novamente, dias depois, já que os medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios não estavam fazendo o efeito desejado. Após muita insistência da família, ele foi encaminhado para uma consulta com um ortopedista no Hospital Santo Amaro (HSA), o principal do município, que é público. Lá, após uma radiografia, ficou constatado que Arthur tinha uma “fratura distal na tíbia”, o osso que vai do joelho ao tornozelo, na perna direita.
Diante do novo diagnóstico, o médico determinou que o pé do menino fosse imobilizado. Ele receitou ainda uma medicação para aliviar as dores e a inflamação, e o liberou para ir de volta para casa. Passaram-se mais dois dias, a dor não cessava e outra vez Arthur foi encaminhado para uma unidade de saúde, desta vez para a UPA da Enseada, de onde foi transferido para o Hospital Santo Amaro, para ser internado.
O quadro, ao que tudo indicava, era vascular e um especialista desta área foi acionado para avaliar o garoto. Não houve tempo, mas a família afirma que a negligência na noite que antecedera a consulta que não aconteceu com o cirurgião vascular, no próprio HSA, acabou levando o menino à morte.
“No decorrer da madrugada, ele já vinha passando mal e eu pedi que a médica subisse para avaliá-lo, mas ela falou que não iria porque ele já estava mais do que medicado. A médica não subiu e, na manhã do dia seguinte, meu sobrinho veio a óbito”, relatou a tia, revoltada.
O atestado de óbito de Arthur apontou que ele faleceu em decorrência insuficiência respiratória aguda, tromboembolismo pulmonar e fratura da perna direita. O tromboembolismo pulmonar é um quadro em que ocorre uma obstrução dos ramos das artérias pulmonares, levando inicialmente a cansaço, falta de ar e, em último estágio, se não tratado rapidamente, a uma parada cardiorrespiratória.
Traumas severos, assim como outras enfermidades, como o câncer, podem provocar quadros de tromboembolismo pulmonar, mas ele é extremamente raro em crianças. Em adultos também não é comum, mas é uma condição prevista, ou possível, em algumas circunstâncias.
A prefeitura de Guarujá informou que está ciente da ocorrência envolvendo os atendimentos de Arthur e afirmou que uma sindicância para apurar o caso está instaurada.