INTOLERÂNCIA

Casal denuncia ter sido alvo de racismo em restaurante de SC: “Apontou para um macaco”

As vítimas registraram boletim de ocorrência por injúria racial contra o estabelecimento no Balneário Camboriú

Danielly e Ricardo se sentiram constrangidos.Créditos: Arquivo Pessoal
Escrito en BRASIL el

O casal Ricardo Oliveira dos Santos, de 28 anos, e Danielly Machado Sousa da Silva, de 26, denunciou ter sido alvo de racismo por parte de turistas e funcionários do restaurante Sabor Tropical, em Balneário Camboriú, litoral norte de Santa Catarina.

As vítimas registraram, nesta quinta-feira (26), boletim de ocorrência (BO) por injúria racial contra o estabelecimento.

Danielly relatou que um grupo de turistas argentinos teria comparado o casal, que lanchava no local, à imagem de um macaco comendo hambúrguer. O desenho faz parte do layout do restaurante.

“Estavam rindo da gente e, por algumas vezes, chegamos a achar que tivesse algo estranho conosco. Até que um dos adolescentes apontou para nós e para um macaco que estava desenhado na parede”, contou, em entrevista ao G1.

Segundo Danielly, ao compreender o que havia ocorrido, o casal chamou um dos atendentes para que fosse tomada alguma atitude em relação ao constrangimento a que os dois estavam sendo submetidos.

Porém, os funcionários teriam pedido ao casal para que relevasse a agressão, pois se tratava de um grupo de adolescentes. “O garçom, ao dirigir a palavra para nós, fez movimentos com as mãos pedindo calma e fazendo o som de ‘xiuuu’ (silêncio) com a boca, falando que não era motivo para o casal se comportar daquela forma”, destacou.

“Ele, homem branco, disse que sabia o que estávamos passando e diminuiu o acontecimento falando para relevar. Ficamos muito constrangidos e incomodados com a situação”, ressaltou Danielly.

O marido, Ricardo, pelas redes sociais, contou que chegou a falar que chamaria a polícia, momento em que uma das mulheres foi até a mesa e pediu desculpas pela atitude dos adolescentes.

“Em nenhum momento os representantes do local se dirigiram aos responsáveis dos adolescentes. Nenhum pedido de desculpa havia sido proferido por parte da família ou da empresa, até que o meu esposo disse, em tom mais alto, que chamaria a polícia”, desabafou Danielly.

Conforme a vítima, o casal não chegou a acionar a Polícia Militar (PM) e ela não conseguiu pegar o celular para gravar a cena, porque ficou “sem senso”. “Eu não estava acreditando que estava passando por aquilo”.

Ricardo e Danielly insistiram em conversar com o responsável pelo restaurante, mas foram ignorados pela pessoa que se apresentou como supervisora.

“Só fez som de concordância e mudou de assunto. Mais uma vez fomos surpreendidos com o posicionamento da equipe, que agiu com completo descaso", disse ela.

O restaurante, por meio do advogado Rodnei Santos, divulgou uma nota sobre o caso:

“De início cumpre esclarecer que a lanchonete Sabor Tropical está aberta no mesmo local desde 2005, ou seja, completou 18 anos de atividade. Neste período jamais houve qualquer episódio envolvendo a lanchonete e ou seus colaboradores e clientes com relação em questão étnica, opção sexual, nacionalidade etc. O estabelecimento atende diariamente centenas de pessoas, sempre com atenção especial ao lado humano. Atende no segmento de lanches e refeições rápidas, abrindo às 9h da manhã e fechando às 2h da madrugada.

O que foi apurado diz respeito a um fato isolado em que um cliente se sentiu ofendido pois na mesa ao lado da sua estava um casal e duas crianças que se supõe de cidadania Paraguaia/Argentina/Uruguaia/Chilena, onde uma dessas crianças teria apontado para o mascote da lanchonete (um macaquinho que é o xodó de várias crianças) e também apontado para o cliente que, por ser da raça negra, se sentiu ofendido. Nenhum dos nossos colaboradores presenciou o fato e, por se tratar de uma criança a suposta autora da ofensa, foi esclarecido que se o mesmo quisesse tomar alguma providência que o fizesse diretamente com seus familiares. Destaca-se que foi informado a possibilidade de acionar as autoridades (polícia etc). O cliente ofendido aparentemente não buscou as autoridades, contudo, imputou ao nosso colaborador (que nada presenciou) a obrigação de tomar uma providência. Este esclareceu que poderia apenas acionar as autoridades, pois qualquer outra atitude certamente geraria implicações pois o fato geraria a abordagem de criança de outra nacionalidade. O cliente deixou o estabelecimento de forma normal, mas aparentemente chateado com a situação. Somos sensíveis e solidários com todos aqueles que, por suas características pessoais, são vítimas de preconceitos diversos. Por fim, nossa empresa está inteiramente à disposição para maiores esclarecimentos. Atte. Equipe Sabor Tropical".