CHACINA FAMILIAR

Ameaças de morte, nova testemunha e mais um preso: os fatos novos do caso da família assassinada no DF

Ao todo 10 pessoas conectadas por relações familiares foram mortas e a polícia já prendeu 6 suspeitos; Saiba tudo sobre o misterioso e hediondo crime

Carro carbonizado encontrado em Cristalina (GO).Ameaças de morte, nova testemunha e mais um preso: os fatos novos do caso da família assassinada no DFCréditos: Reprodução/Polícia Militar de Goiás
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O caso das 10 pessoas de uma mesma família assassinadas a partir do último dia 12 de janeiro no Distrito Federal ganhou fatos novos nesta quarta-feira (25). A começar pela identificação do décimo corpo encontrado, passando pela detenção do sexto suspeito e as ameaças de morte feitas aos sobreviventes da família, até chegarmos a uma nova testemunha, que flagrou os suspeitos cavando covas no imóvel utilizado como cativeiro para as vítimas.

A nova testemunha se trata de um adolescente de 17 anos que revelou detalhes do crime à polícia. Ele seria um dos detidos na noite de ontem (24) e, em seu depoimento, afirmou que viu os suspeitos abrirem as covas. Além disso, também escutou duas mulheres conversando no cativeiro, possivelmente vendadas e identificou uma das vítimas, Marcos Antônio Lopes de Oliveira, de 54 anos, no local.

O adolescente é morador de Itapoã e disse que conhece um dos criminosos, Carlomam dos Santos Nogueira, de 26 anos. Ele teria sido procurado pelo suspeito no dia de Natal para trabalhar em uma mudança em troca de R$ 5 mil.

Aos policiais, declarou que acreditava se tratar de uma mudança normal e que não fazia ideia de que estaria envolvido em um crime. Ele teria ido junto com Carlomam e Horácio Carlos Ferreira Barbosa, de 49 anos, a uma chácara no Condomínio Interlagos, onde buscaram móveis para levar ao cativeiro em Planaltina (GO).

Ele então seria o responsável por descarregar os móveis e cuidar do local enquanto os demais envolvidos fariam outras tarefas. Foi nesse momento que ouviu a conversa entre as mulheres e viu Horário cavar as covas. Ele conta que ficou assustado e fugiu do local.

Todos os corpos foram identificados

Como previa a Polícia Civil do Distrito Federal, o corpo feminino e adolescente encontrado no cativeiro é de Ana Beatriz Marques de Oliveira, de 19 anos, e filha de outras vítimas: Marcos Antônio Lopes de Oliveira, de 54 anos, e Claudia Regina Marques de Oliveira, de 55 anos – ambos haviam sido casados no passado e, segundo testemunhas, manteriam uma relação extraconjugal antes de seres mortos.

Com a descoberta, agora já não há mais desaparecidos. Os 10 corpos encontrados correspondem aos 10 membros outrora dados como desaparecidos da família que acabou vítima da trama.

Na última terça-feira os dois corpos encontrados carbonizados dentro de um carro no município de Unaí (MG), em 14 de janeiro, foram oficialmente reconhecidos como sendo das vítimas Renata Juliene Belchior, de 52 anos, e Gabriela Belchior de Oliveira, de 25 anos, o carro era de propriedade de Marcos Antônio Lopes de Oliveira – pai de Gabriela e marido de Renata.

No outro carro carbonizado, de propriedade de Elizamar Silva, de 39 anos, foram encontrados os corpos da própria Elizamar e de seus três filhos pequenos: Gabriel (7) e o casal de gêmeos Rafael e Rafaela (6). Os corpos de Thiago Gabriel Belchior de Oliveira, Marcos Antônio Lopes de Oliveira e Claudia Regina Marques de Oliveira foram encontrados enterrados no cativeiro junto com Ana Beatriz.

Mais um suspeito se entrega

Também nesta quarta-feira (30), Carlomam dos Santos Nogueira, de 26 anos, um dos suspeitos de executar o crime, se entregou à polícia. A investigação teria encontrado suas impressões digitais no cativeiro e no carro de uma das vítimas. Ele estava foragido.

A PCDF já tinha prendido na noite da última terça-feira (24) mais dois suspeitos pelo envolvimento no crime. Os suspeitos, um adulto e outro adolescente de 17 anos, foram levados à 6ª Delegacia de Polícia de Paranoá (DF). A polícia chegou aos dois após denúncia anônima de que estariam escondendo-se dentro de um apartamento na cidade de Itapoã. 

Além dos três detidos desta semana, outros três homens foram presos acusados pelo crime nos dias seguintes ao aparecimento do primeiro carro queimado, em 13 de janeiro. Fabrício Silva Canhedo, de 34 anos, seria o guarda do imóvel usado como cativeiro  em Planaltina (GO). Além dele, Horário Carlos Barbosa e Gideon Batista de Menezes, de 55 anos, também foram presos acusados de executarem as vítimas. Gideon permaneceu em silêncio, mas Horácio deu um longo depoimento que ajudou os investigadores a montar as linhas de investigação do misterioso crime.

Ameaças de morte

Em entrevista concedida nesta quarta-feira (25), o advogado da mãe e irmãos da cabeleireira Elizamar Silva, primeira vítima da sequência criminosa, informou que seus clientes estão recebendo ameaças de morte por WhatsApp. Os remanescentes da família vivem em Planaltina (GO).

“A família está aterrorizada, com muito medo. Existem indícios de ameaças de morte contra eles. Vamos requerer junto à Polícia Militar de Goiás proteção à família. São pessoas humildes, de poucos recursos”, declarou João Darc`s, o advogado da família.

Relembre o caso

Tudo começou na sexta-feira, 13 de janeiro, quando um carro foi encontrado queimado em Cristalina (GO), com quatro corpos carbonizados dentro. Mais tarde verificou-se que o carro e um dos corpos pertenciam a Elizamar Silva, de 39 anos, dona de um salão de beleza na Asa Norte em Brasília. Os outros corpos eram dos seus filhos pequenos Gabriel de 7 anos e do casal de gêmeos de 6 anos, Rafael e Rafaela.


Acima: Elizamar Silva e seus filhos Gabriel e Rafael. Abaixo: Thiago Gabriel, Rafaela e Renata Luciene. Reprodução/Redes Sociais

Mãe e filhos pequenos já haviam sido relatados como desaparecidos pelos filhos mais velhos, de 18 e 24 que felizmente estão ‘são e salvos’ apesar da tragédia. Eles relataram que a mãe desapareceu no dia anterior (12) quando foi buscar o marido, Thiago Gabriel Belchior de Oliveira  (30), na casa dos sogros Marcos Antônio Lopes de Oliveira (54) e Renata Juliene Belchior (52).


Thiago Gabriel Belchior de Oliveira  (esq) e seu pai Marcos Antônio Lopes de Oliveira (dir)

No sábado (14), ao mesmo tempo em que se constatava os sumiços de Thiago, Marcos Antônio, Renata Juliene e a filha Gabriela Belchior de Oliveira (25 anos – cunhada de Elizamar), um novo carro queimado era encontrado. Dessa vez em Unaí (MG) e com dois corpos carbonizados. Mais tarde a polícia confirmou que o carro era de propriedade de Marcos Antônio e os corpos de Gabriela e Renata Juliene.

Na última terça-feira (17) a PCDF anunciou a prisão de Fabrício Silva Canhedo (34) ao descobrir o cativeiro para onde Gabriela e Renata Juliene foram levadas e mantidas por 5 dias até serem executadas – ele seria o responsável pela guarda do local.


Renata Juliene e a filha Gabriela. Reprodução/Redes Sociais

Na mesma data, anunciou a primeira tese para o crime a partir de depoimento de outro suspeito pelos assassinatos, Horácio Carlos Barbosa, de 48 anos, preso mais cedo junto com Gideon Batista de Menezes, 55, no condomínio onde Marcos Antônio e Renata Juliene moravam. Gideon ficou em silêncio durante o depoimento. Além de Gideon, Fabrício e Horário, ainda há um quarto suspeito que está foragido.

Encontrado com marcas de queimaduras nas mãos, Horácio confessou o crime à polícia. Também apontou que os mandantes seriam Thiago e Marcos Antônio e que teriam oferecido uma quantia de R$ 100 mil pela execução do crime. A ideia seria subtrair R$ 400 mil de Elizamar – obtidos por empréstimo para investir no salão de beleza – e matá-la em seguida. Mas que as coisas saíram do controle.

A começar pelo fato de que não esperavam que Elizamar estivesse acompanhada pelos três filhos pequenos e, em seguida, após decidirem que as crianças também seriam mortas, não contaram com a resistência da trabalhadora. De acordo com seu depoimento, ela foi a primeira a morrer estrangulada. Em seguida asfixiaram as crianças e levaram os 4 corpos, no carro, até Cristalina para serem queimados.

De acordo com Horário, Thiago teria tirado a vida de um dos filhos antes de atear fogo no carro da esposa.

E após o descontrole se instalar de vez, vieram as mortes de Renata Juliene e Gabriela. Renata havia acabado de vender um imóvel em Santa Maria (DF) e além disso é possível que tenha se tornado um alvo ao tomar conhecimento do que estava acontecendo. Elas ficaram por cerca de cinco dias no cativeiro, localizado em Planaltina (GO), antes de serem mortas por asfixia e terem os corpos queimados junto do carro de Marcos Antônio.

Horácio ainda relatou um possível caso de traição conjugal e a participação da amante de Marcos Antônio no crime. Além disso, os filhos mais velhos de Elizamar também relataram constantes brigas entre a mãe e o marido Thiago.

A partir do depoimento de Horácio, as polícias civis do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais, que investigam o caso, já começam a montar a versão da investigação. No entanto, como Thiago e Marcos seguiam desaparecidos, ainda havia esta lacuna, que começou a ser preenchida nesta quinta-feira (19) e aparentemente se fecha nesta terça (24) com o reconhecimento do corpo de Thiago. Apesar de terem sido apontados por Horário como mandantes dos crimes, e a polícia ter considerado esta hipótese, nunca foi descartado que pudessem ser vítimas.

Já Claudia Regina Marques de Oliveira, ex-mulher de Marcos Antônio e apontada como sua amante, e sua filha Ana Beatriz Marques de Oliveira, seriam uma espécie de segunda família do patriarca. Segundo o delegado Ricardo Viana, da 6ª Delegacia de Paranoá (DF), que investiga o caso, Claudia teria R$ 40 mil em dinheiro vivo após a venda de um imóvel. 


Claudia e Ana Beatriz. PCGO/Divulgação

Na noite da última segunda-feira (23) a Polícia Civil do Distrito Federal encontrou 3 corpos em cisterna instalada debaixo do cativeiro. A principal suspeita era que os corpos seriam das 3 possíveis vítimas que ainda estavam desaparecidas: Thiago Gabriel Belchior de Oliveira, Claudia Regina Marques de Oliveira e Ana Beatriz Marques de Oliveira.

No começo da tarde de terça (24) o IML (Instituto Médico Legal) identificou os corpos de Thiago Gabriel e Claudia Regina por meio das suas impressões digitais. O terceiro corpo, de Ana Beatriz, ainda teria a identificação confirmada.

Thiago Gabriel é marido de Elizamar Silva, a primeira vítima da tragédia, e pai dos seus três filhos encontrados carbonizados há 12 dias. Segundo a versão de um dos presos, que confessou a execução da família, Thiago teria participado da morte da própria família, incluindo mulher, filhos, pais e irmã. A polícia não descarta nem a hipótese dele ser um dos mandantes e executores, e nem de que seja apenas vítima.