Um professor de matemática que havia recém obtido uma licença de CAC (caçador, atirador ou colecionador) resolveu dar aula armado na escola José Benedito Bartholomei, na periferia de Suzano, na Grande São Paulo, e jogava vôlei com alunos na hora do recreio quando deixou a arma cair no chão. Por sorte, não disparou.
O caso ocorreu no último dia 23 de junho e o professor Esdra Bandeira da Silva teria dito à direção da escola que poderia andar armado por conta do seu registro de atirador, o que não procede de acordo com a legislação, mesmo com os decretos de flexibilização do porte de armas editados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Esdra só poderia carregar sua arma “em trânsito”, como alegou, se estivesse indo para, ou vindo de, um estande de tiro.
De acordo com a Procuradoria-Geral do Estado, que recomendou a edição de decreto proibindo o porte de armas em escolas ao governador, “o praticante regularizado de tiro desportivo (bem como o colecionador ou caçador) não detém autorização para porte de arma, sendo-lhe consequentemente vedado ingressar armado em edifício escolar”. Vale a triste lembrança de que em março de 2019, no mesmo município, houve um massacre na escola estadual Professor Raul Brasil que deixou cinco alunos e duas funcionárias da escola mortos. Os atiradores eram ex-alunos e teriam feito treinamentos clandestinos em estande na região.
Mas o decreto não foi editado. O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), apenas enviou uma ordem a todas as diretorias de ensino de que professores não poderiam entrar nas escolas estaduais portando armas. Além disso, a Secretaria Estadual de Educação informou à imprensa que o professor foi afastado e está apurando o caso.
De acordo com reportagem da Folha, o professor Esdra teria feito uma série de postagens em suas redes sociais em clubes de tiro e segurando armas de fogo. Ele seria um verdadeiro apaixonado pelas armas e 15 dias antes do acontecido fez publicação comemorado em seus perfis a obtenção do registro de CAC.
O Brasil triplicou o número de armas registradas por CACs que circulam na sociedade desde janeiro de 2019, quando começou o mandato de Jair Bolsonaro. O político prometeu facilitar o acesso à armas e cumpriu. Hoje o país tem um arsenal de pouco mais de um milhão de armas nas mãos de quase 700 mil pessoas registradas como CACs. Para além da falta de controle do Exército, responsável por regular e emitir as licenças, que não sabe quantas armas teriam em cada cidade do país, os casos de violência envolvendo CACs tem escalado, assim como as notícias de armas compradas pelo setor que acabam desviadas para o crime organizado.