ARBITRARIEDADE

5 anos da prisão de Cancellier: autoritarismo levou à morte do ex-reitor da UFSC, diz irmão

O então reitor se suicidou em um shopping de Florianópolis por não suportar a humilhação da prisão injusta e sem provas, em desdobramento da Lava Jato

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Pipo Quint/Agecom/UFSC

O dia 14 de setembro de 2017 marca uma das passagens mais tristes e revoltantes da recente história da Justiça brasileira. O então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, figura respeitada e admirada no universo acadêmico, foi preso de forma arbitrária, injusta e sem provas.

“Que a morte do Cau, o reitor Cancellier, sirva para alertar a todos sobre os riscos do autoritarismo e que não tenha sido em vão”, declarou Acioli Cancellier de Olivo, irmão do reitor, em entrevista à Fórum.

Luiz Cancellier foi vítima da Operação Ouvidos Moucos, desdobramento da Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal (PF) para investigar um suposto desvio de recursos públicos em cursos e educação a distância. Nada foi comprovado contra o reitor.

Dezoito dias depois da prisão, não suportando a dor e a humilhação, Cancellier se suicidou. Ele se jogou do alto de uma escada do Beiramar Shopping, em Florianópolis (SC), caindo no vão central do estabelecimento.

“Minha morte foi decretada quando fui banido da universidade”, descreveu ele seu sentimento em um bilhete encontrado pela polícia e divulgado pela família.

Mesmo após ser solto, Cancellier foi afastado do cargo de reitor e proibido de entrar na instituição, sendo humilhado publicamente.

Reitor foi conduzido coercitivamente e passou a noite em presídio de segurança máxima

“Há cinco anos, nesta data, 14 de setembro, o reitor Luiz Carlos Cancellier foi preso, juntamente com outros colegas da UFSC, como consequência da operação policial denominada Ouvidos Moucos”, relembrou Acioli.

Acusado falsamente de ser o líder de uma organização criminosa, que desviou R$ 80 milhões do Programa de Ensino a Distância da Capes, o reitor foi conduzido coercitivamente, perdeu seu cargo e passou a noite em presídio de segurança máxima, onde foi submetido a terror e humilhações. Dezoito dias após, em 2 de outubro de 2017, o reitor tirou sua própria vida, por não conseguir conviver com a infâmia da qual foi acusado”, contou o irmão de Luiz Cancellier.

Todos os acusados foram absolvidos

Acioli destacou, ainda, que, passados cinco anos, “todos os acusados foram absolvidos, pois o inquérito se revelou inconsistente e, com isso, a investigação não conseguiu demonstrar as acusações que foram a eles imputadas”.

O irmão do reitor fez um alerta: “Nesta data, a sociedade deveria fazer uma reflexão sobre os abusos cometidos por autoridades, que no afã de buscar a glória efêmera, não medem as consequências de suas precipitadas e descuidadas acusações, maculando a honra de pessoas inocentes, abalando famílias e destruindo vidas”, acrescentou Acioli.

A ação inconsequente da operação que levou Cancellier à morte expôs as arbitrariedades cometidas pelo Ministério Público (MP) e pela PF, com a conivência da mídia corporativa, em meio às centenas de denúncias infundadas no âmbito da Operação Lava Jato.