Depois da notícia que a Polícia Civil do Rio Grande do Sul evitou uma tragédia na tarde de quarta-feira (6) ao descobrir e impedir que um adolescente de 13 anos colocasse em prática um plano de promover um massacre na Escola Municipal Santa Helena, no Bairro Camobi, em Santa Maria, cidade de pouco mais de 280 mil habitantes no interior gaúcho, a sociedade brasileira, assustada com os casos de morticínio em escolas que ocorrem nos EUA, e eventualmente no Brasil, volta a se perguntar: como é possível identificar sinais nesses jovens que viram protagonistas de tragédias e banhos de sangue.
Em 2011, logo após o Massacre de Realengo, quando Wellington Menezes de Oliveira, então com 23 anos, entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, onde estudou na adolescência, e matou 12 alunos, ferindo outros 22, a revista Veja entrevistou a criminologista alemã Britta Bannenberg, acadêmica da Universidade de Giessen e especialista em violência nas escolas e provocada pela síndrome de Amok, uma condição que pode ser descrita como um surto de agressividade contra outras pessoas ou animais, que muitas vezes está relacionada aos ataques coletivos perpetrados por alunos e ex-alunos contra instituições de ensino.
Te podría interesar
Em sua entrevista, Britta disse que é essencial que pais e professores percebam a forma como seus filhos e alunos se comportam.
“Pais e professores precisam estar alertas aos sinais. Se o filho não tem amigos, se ele se comporta de maneira estranha, decora seu quarto com temas de violência e fica quatro a cinco horas jogando no computador diariamente, é alguém que precisa de atenção”, falou à época.
Como o comportamento dos jovens é em grande parte das vezes marcado por “estranhezas”, e isso nem sempre significa muita coisa, a criminologista explica um pouco mais sobre a peculiaridade dessas personalidades que podem, eventualmente, ocasionar uma tragédia.
“Infelizmente é difícil reconhecer. Na adolescência os jovens falam coisas sem pensar. Mas há fatores como personalidade, fatores sociais. São pessoas de famílias normais, na grande maioria homens jovens, e curiosamente não são conhecidos pela agressividade. Costumam ser jovens tranquilos, tímidos, com problemas com as garotas. Eles não se sentem aceitos, sentem-se perdedores. Mas há algo de importante: todos os atiradores deram sinais de que tramavam algo e de que não estavam bem. Quando ouvimos professores, membros da família e colegas, percebe-se que todos viam algo errado, mas os fatos não foram ligados, não houve troca de informação entre eles”, contou a acadêmica.
Sobre os profissionais da Educação, Britta já alertava há 11 anos sobre a necessidade de formá-los adequadamente para que colaboram no processo de identificação de comportamentos estranhos.
“Professores e psicólogos precisam ter informações sobre este tipo de crime e sobre violência de maneira geral. Precisam ser oferecidos cursos nos quais se trabalhe questões como o que fazer para ter um clima positivo na sala de aula, como trabalhar a violência entre alunos”, afirmou.
A estudiosa da Universidade de Geissen falou ainda sobre como a política que facilita o acesso a armas de fogo interfere diretamente nesse tipo de tragédia, facilitando essas ocorrências, além de como reagir de forma proporcional e eficiente diante de um cenário previsto, que pode salvar vidas.
“Geralmente os atiradores desse tipo de ataque conseguem a arma dentro de casa ou em suas cercanias. Uma política de controle de armas reduz o acesso... É importante saber a quem recorrer no caso de suspeita ou uma situação de perigo, e aí entram também a polícia e as autoridades públicas”, completou Britta.