A Caixa Econômica Federal se comprometeu a dar continuidade à contratação de aprovados no concurso público do banco, que já tenham sido convocados e estejam com exames médicos aptos. O déficit de pessoal da empresa é de aproximadamente 20 mil empregados e cada atual bancário da estatal é responsável, em média, pelo atendimento a mais de 1,7 mil clientes, conforme revelou estudo encomendado pela Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa (Fenae) ao Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O compromisso de contratação de concursados, prevista em edital, foi assegurado por representantes do banco durante reunião de negociações com a Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa), esta semana. “O déficit na Caixa vem crescendo ao longo dos anos, trazendo consequências não só ao quadro de pessoal como também comprometendo a qualidade da assistência à população”, alerta o presidente da Fenae, Sergio Takemoto. A Caixa Econômica Federal responde por 19,2% das agências bancárias do país e está presente inclusive em municípios onde instituições privadas não têm interesse em atuar. É, portanto, mais que urgente que o banco efetivamente promova as contratações”, acrescenta.
O coordenador da CEE e diretor de Administração e Finanças da Fenae, Clotário Cardoso, emenda: “Nos últimos anos, a Caixa vem reduzindo drasticamente o número de trabalhadores. Na contramão, houve um grande aumento da quantidade de clientes e de contas. Isso causa superlotação em agências, sobrecarga de trabalho e adoecimento de empregados, prejudicando, inclusive, o atendimento à população”.
Ao pontuar que a Caixa possui mais de 142 milhões de clientes e 220 milhões de contas bancárias, Cardoso avalia que a promessa feita pela empresa é bem-vinda; mas, a demanda por mais contratações permanece. “Seria preciso contratar aproximadamente 30 mil empregados”, afirma.
Demora
Nesta terça-feira (26), a direção da Caixa anunciou 500 contratações de aprovados no último concurso do banco. O presidente da Fenae lembra, porém, que autorização para a Caixa ampliar o quadro de pessoal do banco foi dada pelo governo há quase um ano. De acordo com portaria da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest) do Ministério da Economia, publicada em 19 de agosto de 2021, o quantitativo de pessoal aprovado passava de 84.544 para 87.544: ou seja, 3 mil novas vagas.
“As 500 contratações prometidas são, portanto, insuficientes; inclusive, porque empregados foram desligados por demissão, morte, aposentadoria ou desistência no estágio probatório”, analisa Sergio Takemoto. “A Caixa deveria, no mínimo, completar o quadro de pessoal autorizado [87.544 empregados] e repor os desligamentos ocorridos”, defende.
O presidente da Fenae também observa que a mais recente pesquisa da Federação evidenciou que aproximadamente 40% dos trabalhadores participantes do levantamento reportaram algum problema de saúde relacionado à rotina profissional. “As condições precárias de trabalho na Caixa têm levado ao adoecimento dos empregados”, enfatiza Takemoto.
“E mesmo diante dessas condições adversas, é fundamental destacar o comprometimento dos empregados com a missão social do banco”, ressalta. “Durante a pandemia, por exemplo, a Caixa fez o pagamento do auxílio emergencial para mais de 68 milhões de pessoas, mesmo com um déficit de 20 mil contratações e mais de 1,7 mil clientes por bancário”, acrescenta o presidente da Fenae.
Sergio Takemoto também alerta para possibilidade de fechamento de agências da Caixa em grandes centros, medida aventada pela direção do banco, no início desta semana: “Isso é ruim, uma vez que nesses lugares há uma grande concentração de pessoas que também utilizam os diferentes serviços oferecidos pela Caixa”.
Sobrecarga
Estudo feito pelo Dieese em 2021, a pedido da Fenae, revelou que, em cinco anos (de 2015 a 2020), houve uma redução de 14.866 postos de trabalho na Caixa. De acordo com o levantamento — com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) — entre 2018 e o primeiro trimestre do ano passado, o número de clientes por trabalhador da Caixa Econômica Federal subiu de 1.070 para 1.775: 65% de aumento. O índice de sobrecarga no Banco do Brasil aproximou-se de 20%.
O estudo também utilizou dados do Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional e do Sistema de Informações de Crédito do Banco Central e, ainda, relatórios gerenciais dos bancos do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander, além da Caixa. Quando comparados os dois bancos públicos — Caixa Econômica e BB — cada empregado da Caixa atendeu em média, nos primeiros três meses de 2021, 992 clientes a mais que cada trabalhador do Banco do Brasil. Quando comparados a Caixa e o Itaú, o percentual de aumento de cliente por empregado foi 6,5 vezes maior na estatal.
A quantidade nominal de clientes também cresceu mais na Caixa. No período analisado, este número saltou de 90,9 milhões para 145,4 milhões: aumento de 60%.
“O estudo comprovou a situação crítica do quadro de pessoal da Caixa Econômica, que, além de ser o ‘banco da habitação’, é também responsável pelo pagamento de benefícios sociais a milhares de brasileiros, pela concessão de crédito à população mais necessitada e pelos investimentos em setores estratégicos do país, como infraestrutura, saúde e saneamento básico”, ressalta o presidente da Fenae, ao enumerar resultados do banco em programas sociais históricos. Entre eles, o [extinto] Minha Casa Minha Vida que, desde que foi criado, em 2009, entregou cerca de dois milhões de moradias para as faixas mais carentes da população.
“Ações como essa só são possíveis por se tratar de um banco 100% público”, afirma Sergio Takemoto. “A melhoria da qualidade de vida dos brasileiros e o combate à desigualdade social no país são os resultados mais importantes da Caixa. É essencial que os trabalhadores do banco sejam valorizados e protegidos de abusos de gestão para que esse legado possa ser preservado e levado adiante”, completa o presidente da Fenae.