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Assédio: representantes de trabalhadores da Caixa vão acompanhar canal de denúncias do banco

Rigor em investigações de casos de assédios sexual e moral na empresa, punição de agressores e amplo acolhimento e assistência a vítimas foram reforçados em primeira reunião de representantes dos empregados e da estatal

Créditos: Fenae
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Além de rigor nas investigações de todas as denúncias de assédios sexual e moral na Caixa Econômica Federal, empregados do banco cobram da empresa amplo acolhimento e assistência às vítimas, além de ações efetivas para o combate a qualquer tipo de assédio na estatal. Canais para denúncias foram destacados na primeira reunião entre representantes dos trabalhadores e da Caixa para a negociação de reivindicações específicas dos empregados do banco público dentro da Campanha Nacional 2022 dos bancários.

Um dos canais é por meio do plantão jurídico da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae). “Crimes como os que vêm sendo denunciados por empregadas e empregados da Caixa são intoleráveis no banco público e em qualquer local de trabalho”, afirma o presidente da Fenae, Sergio Takemoto. “Toda denúncia deve ser investigada de forma ampla, transparente e com plena participação da representação sindical”, reforça Talemoto.

“A situação é gravíssima”, destacou o coordenador da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa) e diretor de Administração e Finanças da Fenae, Clotário Cardoso, durante reunião em que foram apresentadas reivindicações específicas dos trabalhadores do banco a representantes da estatal, nesta última semana.

Cardoso reforçou a necessidade de esclarecimentos e providências da Caixa sobre as graves denúncias de assédio praticado por Pedro Guimarães enquanto ele ocupava a presidência do banco. “Obviamente, respeitamos o direito de defesa de todas as pessoas; mas, queremos apuração rigorosa dos casos atribuídos não só a Guimarães como também a outros dirigentes da empresa”, enfatizou o coordenador da CEE/Caixa.

Clotário Cardoso também afirmou que “o assédio moral já está comprovado em áudios e vídeos e deve ser punido”. Ele ainda observou que o crime foi praticado contra Pessoas com Deficiência (PCDs). “Colocando a vida delas em risco”, completou Cardoso, ao pontuar a existência de dezenas de denúncias apresentadas por entidades representativas sob investigação por diferentes instâncias da Justiça.

A diretora de Políticas Sociais da Fenae e representante da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro do Rio Grande do Sul (Fetrafi/RS), Rachel Weber, informou que entidades estão preparadas para oferecer acompanhamento psicológico e acolher as mulheres que quiserem fazer denúncias. “Independentemente da mesa de negociação, todas as mulheres da Caixa foram afetadas”, ressaltou. “O que aconteceu não pode se tornar uma receita de medo. Ao contrário, a força dessas mulheres nos mostra que não devemos nos calar, nos silenciar diante de situações de assédio”, acrescentou Weber.

Canal institucional 

Durante a reunião, representantes do banco apresentaram o novo canal institucional para denúncias de assédios moral e sexual: o “Diálogo Seguro Caixa”. Clotário Cardoso observou que a CEE/Caixa vai analisar e acompanhar o serviço.

“Precisamos de garantias de que é um canal seguro, onde as mulheres serão realmente acolhidas e respeitadas”, afirma. “É fundamental que as entidades tenham acesso e acompanhem as denúncias feitas por meio deste canal. Também precisamos fomentar a cultura da denúncia, de modo que os trabalhadores e trabalhadoras não sejam desestimulados a denunciar”, defende Cardoso.

Opressão 

A opressão vivida por trabalhadores da Caixa já vinha sendo alertada pela Fenae. Pesquisa divulgada pela Federação, este ano, revelou o aumento da quantidade de empregados do banco público submetidos a assédio moral: 6 em cada 10 bancários afirmaram ter passado por este tipo de situação. Em estudo anterior encomendado pela Fenae à Universidade de Brasília (UnB), o índice chegava a 53,6%.

A atual pesquisa, que ouviu mais de três mil trabalhadores da Caixa em todo o país, também comprovou que o trabalho no banco estava afetando a saúde de 80% dos empregados. Trouxe, ainda, outros dados alarmantes: 33% estavam afastados por depressão, 26% por ansiedade, 13% por Síndrome de Burnout e 11% por Síndrome do Pânico.

Campanha nacional 

Como a Fenae recentemente destacou, um artigo específico sobre combate ao assédio sexual poderá ser incluído na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários. A reivindicação foi apresentada pelo Comando Nacional da categoria e será analisada pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) dentro da Campanha Nacional 2022 dos bancários, cuja data-base é 1º de setembro.

As reivindicações apresentadas pelo Comando à Fenaban ainda incluem a garantia de proteção e assistência às vítimas, com período de estabilidade e afastamento do ambiente de agressão; apuração de todas as denúncias de abusos; capacitação do quadro de pessoal sobre o tema; e divulgação de cartilhas para o combate ao assédio. Caberá à empresa coibir situações constrangedoras, humilhantes, vexatórias e discriminatórias, promovidas por superior hierárquico ou qualquer outro empregado no ambiente de trabalho. Em casos denunciados e reconhecidos, todas as despesas médicas deverão ser reembolsadas pelo banco ao trabalhador.

Além do combate ao assédio, a pauta da Campanha Nacional inclui a garantia dos empregos, o fim das terceirizações que se ampliam no setor e a jornada contratual de quatro dias de trabalho, entre segunda e sexta-feira. Os trabalhadores também reivindicam assistência à saúde, tratamento de bancários com sequelas da Covid-19 e teletrabalho negociado. Defendem, ainda, a manutenção da Caixa 100% pública e de outras estatais estratégicas ao país.

Entre as cláusulas econômicas da Campanha Nacional 2022, os bancários solicitam a correção das remunerações e de benefícios, a exemplo dos vales refeição e alimentação, considerando o INPC [Índice Nacional de Preços ao Consumidor] entre 31 de agosto de 2021 e 1º de setembro deste ano. Em relação à reposição salarial, os trabalhadores defendem a correção pelo INPC mais 5% de aumento real.