AMAZÔNIA

Indigenista e jornalista desaparecidos foram vítimas de emboscada, denuncia indígena

Bruno Pereira e Dom Phillips investigavam locais de invasões da Terra Indígena Vale do Javari, o que teria contrariado criminosos ligados ao tráfico de drogas

A comunidade ribeirinha de São Rafael em Atalaia do Norte.Créditos: James Martins/Wikimedia Commons
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O jornalista Dom Phillips, colaborador do The Guardian, e o indigenista Bruno Pereira, foram vítimas de uma emboscada. A denúncia foi feita por um indígena ao site Amazônia Real, na condição de anonimato.

Desde o dia 3 de junho, essa testemunha integra uma equipe de 13 vigilantes indígenas que circulavam com o jornalista e o indigenista pela região do Vale do Javari, em Atalaia do Norte, no Estado do Amazonas, na fronteira com o Peru.

Em seguida à notícia do desaparecimento de ambos, o grupo começou as buscas, porém, sem sucesso. Os indígenas, segundo a fonte, alertaram a respeito dos riscos de Bruno e Dom seguirem sozinhos pelo rio Itacoaí, de acordo com reportagem de Elaize Farias e Eduardo Nunomura, em Amazônia Real.

Os dois foram visitar uma equipe de vigilância da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), localidade do Lago do Jaburu, a 15 minutos da comunidade de São Rafael. O lago também está nas proximidades da Base de Vigilância da Funai no rio Ituí, uma das quatro existentes na Terra Indígena Vale do Javari, que tem 8,5 milhões de hectares.

Conforme o relato, por volta das 4 horas do domingo (5), o indigenista e o jornalista avisaram que iriam conversar com o ribeirinho “Churrasco”, presidente da comunidade São Rafael. Dias antes, eles já haviam cruzado com uma embarcação de 60HP, considerada incomum para navegar em locais mais estreitos.

Os integrantes que cruzaram com os indígenas mostraram que estavam armados e os intimidaram. Por isso, os indígenas pediram para que Bruno não continuasse sem segurança. “Aí ele disse: ‘Não, eu vou baixar só, vou baixar cedo, vou pegar eles de surpresa’”.

O indígena revelou, ainda, que Bruno e Dom foram recebidos apenas pela mulher de “Churrasco”, que ofereceu a eles “um gole de café e um pão”. Após isso, seguiram viagem em um barco da Funai de 40 HP. Na comunidade, haveria uma embarcação de 60 HP, fornecida por narcotraficantes para os ribeirinhos. Com um motor dessa potência, seria fácil alcançar o barco do jornalista e do indigenista pelo rio.

A suspeita, segundo a fonte, é que “um traficante mandou o 60 (HP do motor) para lá exatamente esperando a vinda do Bruno, porque com certeza existe informante na cidade (de Atalaia do Norte) e tinha a informação de que o Bruno ia chegar na região”.

Em seguida, o grupo que acompanhava Bruno e Dom intensificou as buscas partindo desde a última aldeia visitada por eles, “batendo todas as beiras, à procura de tudo o que se possa imaginar de pista”. “Tínhamos esperança de encontrar eles, da (localidade) Cachoeira para baixo, amarrados, que tivesse alguma pista, algum ‘pisado’ na beira do rio, para a gente ir rastejando. Mas não achamos nada”, afirmou a fonte, que acredita que os dois não tenham sobrevivido. “Se foi aquele pessoal, aqueles pescadores daquela região, não é a primeira vez que fizeram isso”.

O indígena contou, também, que há ribeirinhos que trabalham para os criminosos que atuam na região no entorno da Terra Indígena Vale do Javari, o segundo maior território demarcado do país. “São quatro cabeças, se não me engano, e todos trabalham com narcotraficantes. Eles pescam para alimentar o narcotráfico. São muito perigosos. Eles foram apreendidos com muito tracajá, pirarucu, que tiraram da área indígena”. Na região, atuam, ainda, narcotraficantes peruanos e colombianos.

Dois homens foram detidos, mas já liberados pela Polícia Civil

Dois homens identificados como “Churrasco”, presidente da Associação da Comunidade São Rafael, e “Janeo” foram detidos para prestar depoimentos pela Polícia Civil, que os liberou na noite de segunda-feira (6).

De acordo com Polícia Federal (PF), os dois, que são pescadores e ligados a crimes ambientais, foram ouvidos porque tiveram contato com Bruno Pereira e Dom Phillips antes do desaparecimento da dupla. Outras três pessoas identificadas como “Pelado”, “Nei” e “Caboclo” também estariam sendo procuradas.