A escola preparatória para concursos Alfacon voltou ao noticiário nos últimos dias após o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, um homem de 38 anos que agonizou até a morte numa câmara de gás improvisada por agentes da PRF no compartimento de uma viatura, no município de Umbaúba, em Sergipe. A cena horrenda de tortura circulou pelo mundo e revelou a crueldade com que age parte de setores policiais brasileiros alinhados ao discurso de morte e de violações do presidente Jair Bolsonaro. Um policial rodoviário federal que dá aulas nos cursos da Alfacon, Ronaldo Bandeira, aparece num vídeo mostrando, em sala, como torturar pessoas detidas pela corporação e fazendo troça com o ato dantesco, semelhante à brutalidade cometida contra Genivaldo.
Esta não é a primeira vez que a Alfacon, direcionada especialmente a concurseiros que pretendem carreiras policiais, é alvo de críticas por parte de internautas. Seu dono e fundador, o também policial rodoviário federal Evandro Guedes, já foi alvo de duras críticas por atos discriminatórios e violentos proferidos em suas aulas.
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Em 2019, Guedes dava aula quando de repente interrompe uma explicação, totalmente descontrolado, e arremessa o apagador em um aluno. Na sequência, ele humilha o rapaz e o ofende, aparentemente porque ele estava usando o celular na sala.
“Solta essa porra desse celular! Não vou falar mais nada, isso aqui é uma falta de respeito. Solta... O primeiro que eu pegar com esse celular na mão (inaudível)... Não merece que eu continue com vocês... (inaudível) Eu dou quase um milhão de reais nessa merda... Enfia essa porra desse celular no cu, porra... Não quer estudar vai pra outro lugar... Seu pai e sua mãe não te deu respeito, não? Vai tomar no cu, porra... Vocês não tiveram pai e mãe, não, porra? Vai, briga comigo aí... Levanta... (inaudível) aquela porta de vidro, cambada de filho da puta... A porra da prova é dia 3, a vida é tua, não é minha não... Eu passei 12 vezes, tô milionário nessa porra, meu carro paga a tua vida, e tô aqui, me dispondo a dar um help... Porra, tô preocupado pra caralho, se não passa ninguém, fudeu... Enfia o celular no cu, filho da puta, então”, diz Guedes, completamente alterado.
Dois anos depois, já em 2021, em entrevista a um podcast chamado Cortes do Mike, o policial e professor falou sobre o caso e, fazendo várias piadas, chamou o aluno que o processou pelo arremesso do apagador (segundo ele, outro aluno) de filho da puta e fez ofensas de caráter homofóbico contra o denunciante.
“Eu não tenho problema nenhum em falar do apagador. E que tem até um processo do apagador, e o cara é muito viado. Mermão, olha o bagulho... Antes do concurso de 2018, cara... Lá, o que dá dinheiro é internet, velho... O presencial eu tô pouco me fodendo, porque tá sempre lotado... O cara paga R$ 12.800 pra estudar um ano, não dou um real de desconto, e eu nem te quero lá, vá estudar em casa que o curso é melhor... Mas aí tem uma galera que quer morar lá, virou uma república, legal, viaja pra lá... Mermão, que vai pra lá é pai de família, o cara vendeu casa, vendeu carro, o cara tá depositando a vida dele lá... Agora, se o cara foi pra lá, lá é tiro, porrada e bomba... Lá é aula de manhã, de tarde, à noite, madrugadão e o caralho... E dentro do prédio, mermão, é que nem a Coreia do Norte, quem manda naquele caralho sou eu... Não pode mexer no celular, não pode falar, não pode nada... É entrar e papo reto... Professor também, se começou a enrolar, eu mando embora... Tem que chegar e ó, é pancadaria na cabeça dos moleques o dia inteiro... Aí, uns 20 dias antes da prova da Polícia Federal, eu entrei na sala em ensaboei a galera mesmo, tem simulado, tem os exercícios, tem que acordar cedo (...) Aí eu tô falando, e o filho da puta que é meu parceiro, é meu amigo (...) Eu puto, porque eu conheço o cara e sei que o cara vendeu o carro, eu sei que ele deixou a namorada em casa, eu sei que ele tem um filho pequeno, na época, porra, eu conheço a história do cara... Eu peguei o apagador, mas foi simbólico, sabe esses esporros que eu dou? São simbólicos... E lá no fundo tem um vidro, a câmera me filmando... Tanto que o apagador vai na câmera, como que eu joguei no cara? Tinha 300 alunos na sala, era pra dar aquele estrondo, aquele impacto emocional, eu sou muito plástico... Mirei nesse cara! O “viadinho” do lado... “Ai, me senti ofendido, jogou o apagador em mim”... Ô, filho da puta, eu não mirei em você, eu mirei no cara ali... Aí o viadinho do lado... “Ai, foi ameaça de lesão corporal”... Ameaça de lesão corporal, com apagador? Entrou com ação judicial... “Ai, estou com meu emocional abatido” (...) Vai tomar no cu, vai dar esse teu cu por meia hora de relógio parado”, conta Guedes na entrevista.
Em 2020, o empresário dono da Alfacon já tinha chocado internautas a contar um caso que teria ocorrido quando ele era policial militar no Rio de Janeiro. O relato dele é recheado de frases racistas e ofensivas.
“O desgraçado do favelado. É isso mesmo, feio para caralho, mijou na latinha de Coca-Cola e mandou, num calor desgraçado 4 e meia da tarde num domingo. Aquela porra bateu nas minhas costas e até hoje eu tenho uma raiva… E a latinha subiu e o xixi veio, chegou a entrar no meu nariz, fiquei todo mijado. Porra, mijo de favelado, a porra dos favelados, a crioulada, todo mundo rindo. O capitão mandou bater em todo mundo. Foi o primeiro ato de execução de maldade e crueldade que eu fiz, puta que pariu. Ali eu descobri que eu gosto de bater nas pessoas, e ponto. É uma coisa que eu gosto de fazer, e tive que me controlar por anos para não dar merda”, disse na ocasião.
Veja o vídeo do episódio do apagador:
Veja o vídeo das explicações dadas por Evandro Guedes: