A Volkswagen, segunda maior fabricante de veículos do mundo, de origem alemã, é alvo de novas acusações relacionadas à ditadura militar no Brasil. Desta vez, por práticas de “escravidão” e “tráfico de pessoas”.
A informação foi divulgada, neste domingo (29), na TV pública ARD e no jornal Süddeutsche Zeitungveículos, veículos de comunicação da Alemanha. A empresa foi intimada a comparecer a um tribunal do Trabalho, em Brasília, em 14 de junho.
Um porta-voz da Volkswagen assegurou que a companhia levou “muito a sério” o caso e os “possíveis incidentes” que teriam ocorrido, “nos quais se baseiam as investigações das autoridades judiciais brasileiras”, de acordo com a AFP.
Os fatos teriam acontecido entre os anos de 1974 e 1986. Os funcionários do grupo reivindicam indenizações há vários anos, até agora sem êxito.
Ainda conforme noticiou a mídia alemã, as denúncias examinadas pela Justiça brasileira alegam que a montadora utilizou “práticas análogas à escravidão” e “tráfico de pessoas”. Elas acusam o grupo de ter sido cúmplice de “violações sistemáticas de direitos humanos”.
O projeto da empresa era construir um sítio agrícola, de grandes proporções, às margens do Rio Amazonas para o comércio de carnes, a Companhia Vale do Rio Cristalino.
Porém, para conseguir o objetivo, centenas de diaristas e funcionários temporários foram contratados, por meio de intermediários, para trabalhos de desmatamento em 70 mil hectares de terra.
Imprensa alemã diz que é provável que a direção da empresa tenha consentido com as contratações
A mídia alemã consultou mais de 2 mil páginas de depoimentos e relatórios policiais que apontam que os trabalhadores eram maltratados por intermediários e guardas armados.
Existem, inclusive, depoimentos a respeito de maus-tratos a trabalhadores que tentaram fugir e até desaparecimentos suspeitos. A esposa de um trabalhador teria sido estuprada como punição. Uma mãe declarou que seu filho morreu como resultado do abuso, segundo a Carta Capital.
A Volkswagen já enfrentou a Justiça brasileira, anteriormente, por seu comportamento apoiando a ditadura militar.
O grupo teve de concordar em pagar R$ 36 milhões de indenização, em 2020, para famílias de trabalhadores torturados ou mortos no período.
Os ex-funcionários e suas famílias afirmaram que o serviço de segurança da Volkswagen no Brasil auxiliou os militares na identificação de possíveis suspeitos, que foram presos e torturados. A colaboração foi confirmada por um relatório independente pedido pela empresa em 2016.