Novas informações da família de Moïse Kabagambe indicam que a Polícia Militar pode estar envolvida no assassinato do congolês morto a pauladas no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca (RJ).
Parentes do imigrante afirmaram à "Folha de S. Paulo" que foram intimidados, em mais de uma ocasião, por dois PMs enquanto tentavam obter detalhes sobre o crime. De acordo com os relatos, os familiares teriam ido ao quiosque para saber o que havia acontecido com Moïse, e os PMs interferiram nas perguntas.
“O policial fardado com arma, pedindo seu documento com aquele tom de voz, daquele jeito da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Eu sou negro, já passei por batida policial quando estava com uniforme de serviço indo trabalhar, aí você não está uniformizado, começam a te perguntar... quem não fica intimidado?”, afirmou um tio do congolês à “Folha”.
As supostas intimidações teriam ocorrido antes do caso vir à tona. Em resposta à "Folha", a Polícia Militar afirmou que “todas as questões pertinentes ao caso estão sendo investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital”.
Suspeito trabalha em bar de policial
Brendon Alexander Luz da Silva, Fábio Pirineus e Aleson Cristiano estão presos temporariamente pelo crime. Os três aparecem nas imagens do espancamento de Moïse, no último dia 24, num quiosque da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Ao depor, todos negaram que quisessem matar o congolês.
Brendon, que aparece no vídeo derrubando o imigrante no chão e imobilizando-o por vários minutos, é lutador de jiu-jitsu e trabalha há cinco meses na Barraca do Juninho, na Praia da Barra, que segundo ele pertence ao cabo da Polícia Militar Alauir Faria.
Mais de oito pessoas já prestaram depoimento à DH (Delegacia de Homicídios da Capital). Um dos ouvidos foi o dono do quiosque, que não teve a identidade revelada. Ele negou envolvimento no crime e disse que estava em casa no momento da agressão que resultou na morte de Moïse.
O crime
Moïse foi, na segunda-feira (24), cobrar duas diárias no quiosque Tropicália, que fica próximo ao Posto 8, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Ele prestava serviços de ajudante de cozinha no local. A informação é da sua família.
Logo após ele chegar ao local, surgiram três homens, um deles com um taco de beisebol nas mãos, que o cercaram, o jogaram no chão e desferiram, pelo menos, 26 pauladas em Moïse, que continuou apanhando mesmo desacordado. As imagens podem ser vistas nas câmeras de segurança do quiosque.
Moïse foi encontrado morto, no chão, com as mãos e pés amarrados. De acordo com laudo do IML (Instituto Médico Legal), ele morreu em decorrência de traumatismos no tórax, com contusão pulmonar causada por ação contundente. O laudo diz ainda que os pulmões apresentavam áreas hemorrágicas de contusão e também vestígios de broncoaspiração de sangue.