Olinda acaba de fazer história. Nesta semana, se tornou a primeira cidade do Brasil a aprovar um projeto de lei que proíbe menções honrosas, felicitações e comemorações a escravocratas e ditadores militares.
O feito foi fruto de uma força-tarefa feita pelo vereador Vinicius Castello (PT). O petista, de 27 anos, é natural da periferia da Marim dos Caetés - como é carinhosamente chamada Olinda. Jovem, negro, LGBTI+ e ativista, para ele, falar em terceira pessoa é também assumir um lugar político refletido através de sua trajetória. Vinicius é aposta do PT para ocupar uma vaga na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
Neto de uma lavadeira e filho de uma empregada doméstica, Vinicius iniciou na militância aos 15, no movimento estudantil - presidiu o Grêmio Estudantil do Estadual de Olinda, colégio conhecido na localidade.
Assim como a história de milhares de brasileiros, ele foi primeiro de sua família a concluir um curso de ensino superior. O vereador é formado em direito pela UNICAP. Conforme ele mesmo faz questão de assumir, ao longo dessas construções, se dedicou a atuar nos movimentos sociais, evidenciando a luta da população negra e comunidade LGBTQQIA+. E reforça que é a periferia a grande protagonista de suas pautas.
Majoritariamente ocupada por brancos, a Câmara de Vereadores de Olinda ganhou um membro que chegou para cutucar o que nunca se havia debatido: pautas para a população preta e periférica. Pautas para além do botar lona e corrimãos em morros guiam o mandato de Vinicius - que já aprovou 16 projetos de lei, 30 emendas, entre outros feitos.
Questionado sobre a importância de compor a casa legislativa, Castello devolve com outro questionamento. “A Câmara de Olinda é a casa do povo mais antiga em atuação, significa dizer que muitas das discussões de políticas sociais e econômicas foram iniciadas nesta Casa, no entanto, quem eram as pessoas que sentavam nessas cadeiras? A quem essas políticas públicas serviam?”, questiona, e em seguida responde: “Por ser quem sou e de onde sou, não consigo não pensar no povo negro e na periferia, bem como na juventude e nas pessoas LGBTQIA+. A minha surpresa é ter sido abraçado pelos demais vereadores da Casa, a partir do caráter pedagógico que minha entrada nesse espaço também traz. Não adiantava querer dar murro em ponta de faca. Para nós, militantes, que temos um olhar constante de autoavaliação e também de alinhamento ao que está sendo pautado pela mídia, pelos movimentos sociais, é fácil ter uma certa linguagem, fazer exigências, mas essa não é a realidade de todos e todas. E é exatamente a partir desse pensamento que tenho conseguido dialogar, construir e convencer os demais a abraçar nossas pautas. Pautas essas progressistas, libertárias, emancipatórias e de retomada”.
Sobre a sua pré-candidatura à Assembleia Legislativa de Pernambuco, Castello, que conta com apoio de lideranças petistas a exemplo da deputada estadual Teresa Leitão (PT) e do deputado federal Carlos Veras (PT), afirma que a mesma força do povo negro e periférico que o elegeu em Olinda pode levá-lo a ocupar o novo cargo. “É mais que uma pré-candidatura, é uma chamada à reflexão e desafio ao sistema. Assim, seguimos e estamos prontos para esse novo desafio, se assim chegarmos à Assembleia Legislativa de Pernambuco”, conclui em entrevista à Fórum.