Têm sido cada vez mais comuns os golpes aplicados por malfeitores por meio de aplicativos de relacionamento. O caso famoso de um homem que aplicava golpes milionários virou até série em plataformas de streaming. Mas os números apresentados pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) são surpreendentes. De acordo com o órgão, 9 em cada 10 sequestros registrados em SP são realizados a partir de aplicativos de relacionamento.
Os algozes costumam criar perfis falsos em aplicativos como o Tinder. Tendo homens mais velhos e que aparentam ser e financeiramente bem-sucedidos como alvo, a ação geralmente consiste em marcar o primeiro encontro em lugares ermos, em geral com mensagens sedutoras, dando a entender que a recompensa será sexo imediato.
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Outros golpes
Embora os sequestros sejam muito constantes, o desfecho nem sempre é este e qualquer pessoa pode ser vítima. O podcast “Picolé de Limão”, do canal “Não Inviabilize”, conduzido por Déia Freitas, conta um caso em que um usuário de aplicativo de encontros teve seu cartão clonado. É o caso “Casquinha” do programa especializado em histórias de encontros malsucedidos.
O modus operandi lembra bastante o descrito pela SSP-SP. O protagonista da história começou a conversar com uma moça por um aplicativo e quando decidiram se encontrar ela pediu que ele a buscasse em um bairro que ele não conhecia. Neste caso, o rapaz não topou e marcou em um shopping, mas chegou a emprestar seu cartão de crédito para a moça comprar uma casquinha de sorvete. Em uma distração do protagonista da história, ela conseguiu clonar o cartão, que foi utilizado por prováveis comparsas enquanto o casal estava no cinema (com os telefones celulares em modo avião).
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Quadrilha do pix
O prejuízo nesta história, entretanto, foi menor do que aquele normalmente amargado pelas vítimas da “quadrilha do pix”, como Déia Freitas chamou os grupos que atuam com os sequestros. Mas a história é interessante porque mostra que nem sempre são utilizados perfis falsos, o que facilita o convencimento por meio do envio de áudios, fotos, vídeos, etc.
Quando os homens topam ir aos endereços ermos sugeridos pela pessoa com quem estão interagindo pelo aplicativo, ao invés de encontrar seu par romântico, deparam-se com duplas ou mesmo grupos armados. A vítima então é torturada, psicológica e/ou fisicamente enquanto suas contas são esvaziadas. A ação pode levar dias e muitas vezes os homens são levados a cativeiros.
Dicas de prevenção
Déia sugere que os encontros sejam marcados em locais como shoppings. “É uma dica que eu dou para todo mundo. Se você não conhece a pessoa, marque num local de preferência fechado, como um shopping, que tem tenha seguranças e tal”, desaconselhando “você buscar uma pessoa que você nunca viu na vida, num bairro em que você nunca foi e de repente ser uma emboscada”, disse a podcaster. Ela também reforçou que cartões de crédito não devem ser emprestados, sobretudo a uma pessoa que você acabou de conhecer.
Já a jornalista Marcela Casagrande, a Martchela do Lambisgoiacast, listou uma série de dicas sobre como se prevenir para a Fórum. O "Podcast dos piores dates com teorias sobre a vida da mulher solteira", como está descrito em seus canais nas redes sociais, o programa foi recentemente premiado no Rio Web Fest, considerado o maior festival de web séries do mundo.
"Gostou da pessoa? Faça uma ligação em vídeo antes de marcar um encontro", recomenda Martchela, que ainda sugere procurar a pessoa que você fala nos aplicativos de relacionamentos em outras redes sociais, procurando por amigos em comum. Se tiver alguém conhecido na lista, pergunte sobre o que seu conhecido sabe daquela pessoa. A jornalista vai além: "Jogue o nome no Jus Brasil", onde se pode conferir se a pessoa tem algum problema com a justiça.
Primeiro encontro
Assim como Déia Freitas, ela também reforça a importância de marcar o primeiro encontro em local público: "Combinaram de se encontrar pela primeira vez? Não vá pra casa dele e não chame para sua casa. Se encontrem em um lugar público. Avise amigos e amigas e compartilhe a localização". Ela ainda sugere que seja marcado um horário com amigos em que você avisará se está tudo bem.
Para casos em que a insegurança for maior, ela recomenda uma ação ainda mais ousada. "Se estiver apreensiva peça para uma amiga ir à paisana no encontro e ficar de longe caso haja alguma situação estranha". Mas mesmo quem não tiver adotado tal tática, é possível contar com ajuda: "Achou algo estranho e quer ir embora do local? avise alguém do estabelecimento".
Repetindo o alerta do Picolé de Limão, a apresentadora do Lambisgoiacast exclama: "Nunca, em hipótese alguma, dê dinheiro ou empreste Cartão de crédito, não importa história triste que ele te falar - lembre-se você não conhece essa pessoa a fundo". Fazendo referência a uma tática muito utilizada para abusar de mulheres, Marcela ainda previne sobre o cuidado com a bebida: "Evite deixar que a pessoa fique com seu copo, existem muitos casos de boa noite Cinderela".
Intuição
Ela também alerta sobre o que pode vir a se tornar uma relação abusiva: "Se ele falou algo desagradável nos primeiros encontros não continue essa relação. Preste atenção como ele se refere a relacionamentos passados. Se ele chamou a ex de louca há grandes possibilidades de ele ter sido abusivo com essa ex. A próxima pode ser você".
"Escute sua intuição sempre!", conclui Martchela, que oferece um verdadeiro guia de como evitar golpes de qualquer natureza via aplicativos de relacionamento.
Outro alerta importante é que nem sempre os golpes são praticados no primeiro encontro, há relatos de roubos praticados na terceira vez em que o casal marcou de se ver. Embora os casos de sequestro estejam mais restritos a metrópoles, outros tipos de golpe podem ocorrer em qualquer localidade, reforçando a importância de todas as pessoas tomarem medidas de proteção como as sugeridas.
Marco Civil da Internet
Embora os aplicativos não possam ser responsabilizados pelos golpes, todas as plataformas de internet são obrigadas a armazenar dados dos seus usuários por pelo menos 6 meses, graças ao Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014). Então registrar os golpes junto à polícia é fundamental para que haja investigação. Afinal, as plataformas só podem fornecer informações de seus usuários se forem acionadas judicialmente.