3 ANOS DEPOIS

Ex-diretor do Inpe conta bastidores da perseguição de Bolsonaro e fala até em grampo telefônico

Um dos primeiros a desafiar Bolsonaro, Ricardo Galvão foi demitido em 2019 por apontar alta do desmatamento na Amazônia e, no mesmo ano, entrou na lista dos 10 "cientistas do ano" da prestigiada revista Nature

Ricardo Galvão.Créditos: Associação Nacional de Pós-Graduandos/Divulgação
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O físico e engenheiro Ricardo Galvão, considerado um dos maiores cientistas do país, resolveu, nesta quinta-feira (20), revelar bastidores da perseguição promovida por Jair Bolsonaro (PL) que culminou em sua demissão do cargo de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em 2019. 

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Galvão ocupava o cargo de diretor do Inpe deste 2016 e tinha mandato de 4 anos. Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, o instituto apontou grande aumento do desmatamento na Amazônia e o presidente contestou os dados, chegando a afirmar que o cientista estava "a serviço de uma ONG".  

O então diretor do Inpe, entretanto, não cedeu e seguiu defendendo os dados do instituto e fazendo críticas contundentes ao governo, até que passou por um processo de fritura e foi demitido do órgão. No mesmo ano, Galvão foi escolhido para a lista dos dez cientistas do ano da Nature, uma das mais prestigiadas revistas de ciência do mundo.

Segundo Galvão, em meio ao processo de perseguição de Bolsonaro, uma funcionária do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) chegou a ligar para ele chorando e falando sobre um grampo telefônico

"Hoje vou falar sobre um assunto bem sério com vocês: a perseguição que sofri do Governo Bolsonaro. Um dia me ligaram até chorando falando que eu estava sendo grampeado", diz Galvão no início de uma sequência de publicações feitas através do Twitter nesta quinta-feira. 

"Nessa época, recebi a ligação de uma funcionária do MCT&I. Ela estava chorando, e disse que um grupo de trabalho do governo estava levantando toda minha vida para encontrar algo sobre mim e forçar minha demissão. Ela também disse que até meu telefone estava grampeado", prossegue. 

"Não encontraram nada e foram obrigados a me demitir, passando pela vergonha de ser um governo que agride a ciência", conclui o cientista. 

Confira abaixo a íntegra do relato 

"Hoje vou falar sobre um assunto bem sério com vocês: a perseguição que sofri do Governo Bolsonaro. Um dia me ligaram até chorando falando que eu estava sendo grampeado.

Em 2019, quando o Inpe mostrou que o desmatamento na Amazônia teve um aumento significativo, Bolsonaro foi a público e disse que os dados eram mentirosos e eu que estaria "a serviço de alguma ONG".

Bolsonaro chegou a dizer que me chamaria para Brasília para eu me explicar. Pois eu disse que o Presidente poderia me chamar à Brasília, que eu explicaria os dados olhando nos olhos dele. Ele não quis e pediu para o Marcos Pontes conversar comigo.

Nessa época, recebi a ligação de uma funcionária do MCT&I. Ela estava chorando, e disse que um grupo de trabalho do governo estava levantando toda minha vida para encontrar algo sobre mim e forçar minha demissão. Ela também disse que até meu telefone estava grampeado.

Não encontraram nada e foram obrigados a me demitir, passando pela vergonha de ser um governo que agride a ciência"